Minha família é como aquela do filme "O casamento grego", um mais louco que o outro. Cresci ouvindo minha irmã Mariana, atriz, dizer: "Se tens razão por que gritas? Se não tens, mais uma motivo para não gritares!"
Uma década depois assumo: Mari tem razão.
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Seres humanos
HOMEM PERFEITO
Fabrício Carpinejar
Não interessa a uma mulher um homem que saiba tudo sobre ela, um homem que saiba tudo sobre o amor, um homem que saiba tudo sobre os prazeres proibidos do corpo. Uma mulher não se interessa por um homem que não tenha uma dose de insegurança, um quê de fascínio infantil, uma ponta de orgulho bobo, uma forquilha de medo entre os joelhos.
Uma mulher não se interessa por homem que não teme as perguntas, que resolve os problemas com sarcasmo, que fala convicto e intrépido sobre os mais diversos assuntos; o coração dele congelado para transplante no isopor entre garrafas de cerveja.
Uma mulher não se interessa por homem que pisca ao garçom, que conversa nos ouvidos com os seguranças das boates, que a mostra com malícia e desfaçatez para os outros. Uma mulher não se interessa por um homem que está se exibindo mais do que sendo transparente. Uma mulher não se interessa por um homem que ela não conta com a mínima chance de modificá-lo e elogiar as transformações.
Uma mulher não se interessa por um homem que se diverte dos próprios comentários antes dela. Uma mulher não se interessa por um homem carregado de estratégias, que encadeia a noite ideal, sem nenhuma falha, sem nenhum vacilo, sem nenhuma turbulência. Ele ensaiou com quantas antes? Uma mulher se interessa por um homem inseguro, mas sincero, tímido, mas autêntico, que sofre com suas gafes, engatilha desculpas ao usar um palavrão, que pede ajuda para completar a noite.
Uma mulher não se interessa por um homem blindado, que não escuta, que se esconde em um personagem para contar mais um feito aos amigos. Uma mulher não se interessa por um homem que logo vai atacando, logo vai oferecendo o endereço para esticar a conversa. Uma mulher não se interessa pelo terno alinhado, os cabelos em dia, o pescoço perfumado, se não haverá nenhum sussurro que desperte a fragilidade masculina do outro lado.
Uma mulher não se interessa em receber flores sem raízes nos dedos. Uma mulher não se interessa por um homem convicto, que a convida para sair, que passa uma cantada impecável e finge delicadeza para ser indelicado no dia seguinte e não telefonar. Uma mulher não se interessa por um homem que não mudará a ordem das palavras que teve sucesso com as mulheres anteriores e repetirá as mesmíssimas vaidades da conquista.
Uma mulher se interessa por um homem que confunde o desejo com a loucura e tropeça nas palavras para logo descer ao chão com ela. Uma mulher não se interessa por um homem que seduz como quem dá as cartas, um homem que solicita a conta como quem fecha um negócio, que a envolve como se fosse um investimento. Uma mulher não se interessa por um homem que não tenha também músculo nas pálpebras para chorar por ela, músculos na boca para guardar sua língua. Uma mulher não se interessa por homens prontos, fechados, absolutamente perfeitos.
Não se interessa por cadáveres.
Fabrício Carpinejar
Não interessa a uma mulher um homem que saiba tudo sobre ela, um homem que saiba tudo sobre o amor, um homem que saiba tudo sobre os prazeres proibidos do corpo. Uma mulher não se interessa por um homem que não tenha uma dose de insegurança, um quê de fascínio infantil, uma ponta de orgulho bobo, uma forquilha de medo entre os joelhos.
Uma mulher não se interessa por homem que não teme as perguntas, que resolve os problemas com sarcasmo, que fala convicto e intrépido sobre os mais diversos assuntos; o coração dele congelado para transplante no isopor entre garrafas de cerveja.
Uma mulher não se interessa por homem que pisca ao garçom, que conversa nos ouvidos com os seguranças das boates, que a mostra com malícia e desfaçatez para os outros. Uma mulher não se interessa por um homem que está se exibindo mais do que sendo transparente. Uma mulher não se interessa por um homem que ela não conta com a mínima chance de modificá-lo e elogiar as transformações.
Uma mulher não se interessa por um homem que se diverte dos próprios comentários antes dela. Uma mulher não se interessa por um homem carregado de estratégias, que encadeia a noite ideal, sem nenhuma falha, sem nenhum vacilo, sem nenhuma turbulência. Ele ensaiou com quantas antes? Uma mulher se interessa por um homem inseguro, mas sincero, tímido, mas autêntico, que sofre com suas gafes, engatilha desculpas ao usar um palavrão, que pede ajuda para completar a noite.
Uma mulher não se interessa por um homem blindado, que não escuta, que se esconde em um personagem para contar mais um feito aos amigos. Uma mulher não se interessa por um homem que logo vai atacando, logo vai oferecendo o endereço para esticar a conversa. Uma mulher não se interessa pelo terno alinhado, os cabelos em dia, o pescoço perfumado, se não haverá nenhum sussurro que desperte a fragilidade masculina do outro lado.
Uma mulher não se interessa em receber flores sem raízes nos dedos. Uma mulher não se interessa por um homem convicto, que a convida para sair, que passa uma cantada impecável e finge delicadeza para ser indelicado no dia seguinte e não telefonar. Uma mulher não se interessa por um homem que não mudará a ordem das palavras que teve sucesso com as mulheres anteriores e repetirá as mesmíssimas vaidades da conquista.
Uma mulher se interessa por um homem que confunde o desejo com a loucura e tropeça nas palavras para logo descer ao chão com ela. Uma mulher não se interessa por um homem que seduz como quem dá as cartas, um homem que solicita a conta como quem fecha um negócio, que a envolve como se fosse um investimento. Uma mulher não se interessa por um homem que não tenha também músculo nas pálpebras para chorar por ela, músculos na boca para guardar sua língua. Uma mulher não se interessa por homens prontos, fechados, absolutamente perfeitos.
Não se interessa por cadáveres.
Terremoto
Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!
Quintana
P.S. Em tempos de Feira do livro nada melhor do que o melhor de todos.
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!
Quintana
P.S. Em tempos de Feira do livro nada melhor do que o melhor de todos.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Falha
Levei algum tempo para admitir que também choro. Aliás, acho que só consigo rir tanto porque aprendi a chorar. E hoje chorei. Na vida amamos muitas pessoas. Mas é verdade que umas mais que as outras. Todos temos nossas pessoas especiais. Chorei por uma delas. Por saber que está bem. E que precisou de mim porque esteve muito mal. Eu? Eu não estava ao alcance das mãos. Falhei.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Respondendo à charada
Telhados De Paris
Nei Lisboa
Venta
Ali se vê
Onde o arvoredo inventa um ballet
Enquanto invento aqui pra mim
Um silêncio sem fim
Deixando a rima assim
Sem mágoas, sem nada
Só uma janela em cruz
E uma paisagem tão comum
Telhados de Paris
Em casas velhas, mudas
Em blocos que o engano fez aqui
Mas tem no outono uma luz
Que acaricia essa dureza cor de giz
Que mora ao lado e mais parece outro país
Que me estranha mas não sabe se é feliz
E não entende quando eu grito
O tempo se foi
Há tempos que eu já desisti
Dos planos daquele assalto
E de versos retos, corretos
O resto da paixão, reguei
Vai servir pra nós
O doce da loucura é teu, é meu
Pra usar à sós
Eu tenho os olhos doidos, doidos, já vi
Meus olhos doidos, doidos, são doidos por ti
Nei Lisboa
Venta
Ali se vê
Onde o arvoredo inventa um ballet
Enquanto invento aqui pra mim
Um silêncio sem fim
Deixando a rima assim
Sem mágoas, sem nada
Só uma janela em cruz
E uma paisagem tão comum
Telhados de Paris
Em casas velhas, mudas
Em blocos que o engano fez aqui
Mas tem no outono uma luz
Que acaricia essa dureza cor de giz
Que mora ao lado e mais parece outro país
Que me estranha mas não sabe se é feliz
E não entende quando eu grito
O tempo se foi
Há tempos que eu já desisti
Dos planos daquele assalto
E de versos retos, corretos
O resto da paixão, reguei
Vai servir pra nós
O doce da loucura é teu, é meu
Pra usar à sós
Eu tenho os olhos doidos, doidos, já vi
Meus olhos doidos, doidos, são doidos por ti
Ali se vê
"Meu Deus, meu Deus! Como tudo é esquisito hoje! E ontem tudo era exatamente como de costume. Será que fui eu que mudei à noite? Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei hoje de manhã? Estou quase achando que posso me lembrar de me sentir um pouco diferente. Me se eu não sou eu mesma, a próxima pergunta é: 'Quem eu sou?'. Ah, essa é a grande charada!" Alice no país das maravilhas
Pane
Computadores entram em pane. Simplesmente param de funcionar. Teclas e programas não respondem aos nossos chamados. Concluí que os computadores ficam estressados. Cansam do ritmo de nossas vidas. Só pode. A pane dos computadores equivale a nossa exaustão; os pequenos erros de programas aos dias estressantes, crises passageiras.
Os dias passam correndo, os meses e os anos também. Tenho uma vontade de dar uma pausa no filme "mundo" e ganhar algumas semanas para ajustar tudo. Não dá para tudo parar dez dias e eu voltar sintonizada?
Só existe algo pior que a pane. Quando nós sabemos que existe apenas uma forma de arrumar o problema mas temos cinco, seis opções. Qual é a certa, meu Deus? E se apertar o botão errado? E se esse for exatamente aquele que apaga todos os documentos armazenados durante anos?
Até os computadores ficam cansados. Imagem nós, que não somos máquinas.
Até arrumar computador é complicado. Agora imagine só o problemão que é arrumar a vida!!
2014
Não farei desse espaço um palco para o debate e as especulações da política. Tenho os espaços de meu partido e do mandato para isso. Mas quero compartilhar uma alegria com vocês: a menina dos olhos do nosso programa de governo para a Prefeitura de Porto Alegre será aproveitada pelo prefeito eleito no domingo.
Sempre tratamos a Copa de 2014 como algo central. Todos sabem que sou louca por futebol mas a Copa é mais do que isso. Um evento esportivo dessa magnitude simboliza formação e qualificação profissional para jovens, recapacitação para adultos, geração de empregos na construção civil, na rede hoteleira e gastrônomica, equipamentos de segurança, plano de mobilidade urbana que enfrente os gargalos do trânsito.
A copa pode mudar Porto Alegre para melhor. E por isso fiquei feliz em ver nosso programa de governo ser posto, em parte, em prática. Já me coloquei à disposição. Fazer política não é só fazer o bem quando se ganha. É trabalhar em parceria. E eu serei parceira dessa Secretaria que o Fogaça criou. Mesmo estando na oposição.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Mudando de opinião
Havia decidido não postar fotos nesse blog. Mas essa criança merece. Como todos os amigos sabem, existe um sonho que ainda não realizei: o sonho de ser mãe. Alguns não entendem a dimensão disso em minha vida. Mas sonhos podem sempre virar realidade... Enquanto isso aproveito os filhos dos outros: a Luísa, minha primeira afilhada (2 aninhos na quinta), o Téo (2 dias hoje) e esse nenê lindo da foto.
Brasília, Brasília
Aqui estou eu em Brasília. Como faço todas as semanas. O estranho para muitos é que gosto daqui. Gosto do que faço, de sair tarde do plenário da Câmara (olhando a lua cheia gigantesca). Gosto de correr de um prédio para outro, das comissões que participo, dos projetos que estudo ou apresento. Gosto de chegar aqui e também gosto de voltar para Porto Alegre.
Temos muitos defeitos no Congresso Nacional. Muitos limites para superar. Mas para superá-los é preciso que a gente tenha força para lutar. E eu prefiro lutar ganhando energia do lado bom das coisas. E Brasília tem seu lado bom. Sempre lembro do Oswaldo Montenegro, em Léo e Bia. Escreveu obras primas sobre a capital federal. Escutem. Faz bem para a alma. Dá ainda mais vontade de trabalhar. E de tentar fazer a nossa parte em Brasília.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Ela merece, sempre!
El tiempo es veloz,
la vida esencial
el cuerpo es mis manos me ayudan a estar contigo,
quizás nadie entienda
vos me tratás como sí fuera algo más que un ser . . .
Te acuerdas de ayer,
era tan normal
la vida era vida y el amor no era paz,
que extraño,
ahora me siento diferente
pienso que todavia quedan tantas cosas para dar.
No ves que poco va todo creciendo hacia arriba
y el sol siempre saldrá
mientras que alguien le queden ganas de amar.
Perdona mi amor por tanto hablar
es que quiero ayudar al mundo cambiar,
que loco, si realmente se pudiera y
todo el mundo se pusiera alguna vez a realizar.
No ves que poco va todo creciendo hacia arriba
y el sol siempre saldrá
mientras que alguien le queden ganas de amar
Perdona mi amor por tanto hablar
es que quiero ayudar al mundo cambiar, que loca . .
la vida esencial
el cuerpo es mis manos me ayudan a estar contigo,
quizás nadie entienda
vos me tratás como sí fuera algo más que un ser . . .
Te acuerdas de ayer,
era tan normal
la vida era vida y el amor no era paz,
que extraño,
ahora me siento diferente
pienso que todavia quedan tantas cosas para dar.
No ves que poco va todo creciendo hacia arriba
y el sol siempre saldrá
mientras que alguien le queden ganas de amar.
Perdona mi amor por tanto hablar
es que quiero ayudar al mundo cambiar,
que loco, si realmente se pudiera y
todo el mundo se pusiera alguna vez a realizar.
No ves que poco va todo creciendo hacia arriba
y el sol siempre saldrá
mientras que alguien le queden ganas de amar
Perdona mi amor por tanto hablar
es que quiero ayudar al mundo cambiar, que loca . .
Nasceu o Teo
Ontem foi um dia especial. Desculpem-se aqueles que deduzem que é meu compromisso falar das eleições. Aqui, não. Quero falar de Teo. Meu mais novo afilhado. Ele nasceu com as eleições mas guarda, desde antes, um segredo. Um mágico segredo. Teo não é apenas uma nova vida. Teo nasceu como filho e fez um grande amigo renascer para a vida. Teo, desde as primeirinhas células, fez sua parte: ajudou o mundo a melhorar.
Teo fez valer sua chegada a essa cidade maravilhosa. Ele já veio fazendo o bem.
Teo fez valer sua chegada a essa cidade maravilhosa. Ele já veio fazendo o bem.
domingo, 26 de outubro de 2008
"Yo soy Juan"
Estive em El Salvador por uns dias. Fui à segunda Cumbre de Jovens Líderes, um encontro que ocorre antes do encontro dos Presidentes dos países íbero-americanos. Reencontrei amigos de todos os países. Muitos deles atuam nos movimentos sociais, nos parlamentos, em governos democráticos. Tentam melhorar a vida das pessoas. Camilo, por exemplo, um antigo militante da juventude comunista paraguaia, hoje é Ministro do Presidente Lugo.
Um deles, porém, merece ter parte da história contada. Um jovem argentino que redescobriu sua identidade aos 25 anos. Algumas vezes, os jovens da minha geração, escutam a história da ditadura militar brasileira e a percebem muito distante, quase como uma ficção. Não acreditam que alguém não pudesse ter o direito de explicitar seu pensamento, militar em uma organização política, trabalhar para melhorar as condições de vida do povo. Somos uma geração que já nasceu com a redemocratização. Nos formamos livremente e assim, mesmo os que conhecemos o terror dos regimes militares, o fazemos a partir dos livros de história.
Juan não é alguém que conhece a ditadura como eu. Como meus amigos. É diferente. Aos 25 anos descobriu que havia sido roubado da jovem mãe numa das maiores prisões políticas do continente. Que seus pais verdadeiros haviam sido mortos pela cruel ditadura argentina. Descobriu que aqueles que haviam o criado por 25 anos não apenas não eram seus pais biológicos mas eram parceiros de um regime crual, assassino.
Mudou de identidade. Aliás, assumiu a sua. Mudou de nome. Aliás, assumiu o seu. Talvez tenha mudado a sua forma de ver o mundo. Ou melhor, provavelmente tenha assimilado aquilo que seus verdadeiros pais o teriam permitido ser: um jovem militante social da Argentina.
Por que escrevo isso hoje aqui? Por dois motivos. O primeiro, mais simples: um registro da história de nossos países para que possamos, como bem dizem os judeus, lembrar para que nunca mais aconteça. Um registro para que outros jovens vejam que é preciso lutar, trabalhar, construir um mundo melhor. E que sempre que esse mundo melhorou foi porque jovens lutaram. E alguns morreram, como os pais de Juan, como tantos brasileiros.
O segundo motivo é, porém, mais verdadeiro. Fiquei muito impressionada com o resultado desse processo sobre Juan. Lembrei-me que, em minha campanha a Prefeitura de Porto Alegre, o amigo deputado Nelson Proença dizia: "a Manuela é mel sobre pedra. Doce e firme." Sempre agradeci ao Proença. Mas para o bem da verdade, nunca concluí se eu sou mais mel ou mais pedra. Acho que luto para manter-me um pouco de mel em um mundo duro como as pedras.
Mas meu mundo nunca foi duro como o de Juan. E ele, ao contrário, parece ter certeza que é "mel sobre pedras". As pedras de sua vida foram pesadas. Mais pesadas do que a maior parte de nós consegue se imaginar carregando. Ele, porém, resistiu. Tornou-se deputado em Buenos Aires, luta para que outros jovens descubram sua identidade. Todavia, não se dá por satisfeito. Em um momento me disse: "Não gosto de discutir apenas juventude, é preciso discutir os problemas do desenvolvimento dos países para todos". Mas não é seco ou frio como, naturalmente, poderia ser. É sensível, apesar de tudo o que enfrentou.
Em apenas cinco anos ele sabe o que é e em quem se tornou. Che Guevara diria que ele tornou-se firme e não perdeu a ternura. Eu apenas diria: Ele é Juan, mel sobre as pedras.
Blog de uma (e)leitora apenas
Por enquanto estou escrevendo esse blog para mim mesma. Quero fazer um teste antes de divulgá-lo, aos pouquinhos, para os amigos mais próximos. Quem será mesmo que tem paciência para ler meu blog pessoal? Minha vida política há de parecer mais interessante. Mas a Manuela política também é a menina que escreve no blog. É que hoje a noite me dediquei a minha casa, as minhas coisas exclusivamente pessoais (aliás, ainda não consegui acertar o relógio do blog que está horas atrasado... Eu estava fazendo campanha na hora da primeira postagem e ainda não sei estar em dois lugares ao mesmo tempo!!!)
Já é tarde. Muito tarde. Vou dormir porque amanhã é dia de festa da democracia. Minha querida cidade vai enfrentar o segundo turno eleitoral. E eu tenho que fazer a minha parte.
Já é tarde. Muito tarde. Vou dormir porque amanhã é dia de festa da democracia. Minha querida cidade vai enfrentar o segundo turno eleitoral. E eu tenho que fazer a minha parte.
sábado, 25 de outubro de 2008
Tocando em frente
Nos últimos dias a pergunta que mais respondi é se estou magoada. Embora tenha respondido inúmeras vezes que faço política com o coração e com o cérebro (e não com o estômago) resolvi falar sobre isso. Nada que é humano me é estranho, diria o poeta. Não haveria mal em estar magoada, portanto. Mas errar também é humano, ora bolas! E na tensão mais ainda. Portanto, agora de público no meu blog privado: nunca fiquei magoada nessas eleições.
Admiro profundamente as e os moradores de Porto Alegre que junto comigo tentaram construir um caminho novo. Admiro aqueles que não estiveram comigo nas urnas, mas muitos momentos estiveram de coração. Ainda respeito e admiro quem nem sequer cogitou a hipótese de caminhar comigo e com o Berfran. Meu partido tem 86 anos. A maior parte foi clandestino porque pensava diferente do governo vigente no país. Portanto, quem sou eu para não aceitar o direito das pessoas de não votarem em mim?
Se alguém não entendeu ou acreditou escrevo a música que para mim simboliza o porquê de meu sorriso no rosto. Na vitória e na derrota.
Tocando em frente - Almir Sater
"Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso, porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs,
É preciso o amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir,
é preciso a chuva para florir.
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha, e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada,
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou,
Estrada eu sou
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora,
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história,
E cada ser em si, carrega o dom de ser capaz,
De ser feliz
Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais"
Poesia, faxina, poesia
"(...)
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre.
Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração.
Não me façam ser quem não sou.
Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente.
Não sei amar pela metade.
Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre"
Clarice Lispector
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre.
Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração.
Não me façam ser quem não sou.
Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente.
Não sei amar pela metade.
Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre"
Clarice Lispector
Faxina
A chuva cai forte e junto com ela sacolas e sacolas de papéis rasgados, de passados remotos e recentes saem das minhas gavetas. O esquisito é que, por motivos absolutamente distintos, em outubro do ano passado também fazia uma grande faxina na minha casa. Aprendi que reorganizar a casa é uma das formas de recomeçar. Arrumar gavetas, doar roupas e sapatos, trocar as fotos em exibição e também o papel de parede do lap-top.
Quando criança via minha mãe fazer isso. A achava histérica nesses momentos. Abria baús, encontrava partituras e cadernos de músicas, no meio de tanta bagunça tocava piano. Hoje faço o mesmo. No meio da faxina ouço música e escrevo no meu blog. Aliás, ele foi criado no meio da faxina. Sonhei reformas na cozinha, coloquei fora trabalhos de faculdade, escrevi emails para antigos amigos.
Ao longo dos anos, talvez inspirada pela mulher mais corajosa que conheço (minha mãe), aprendi a colocar coisas fora. Agora, aos poucos, aprendo a colocar elas para fora de mim. Falar mais, contar mais com as pessoas queridas, admitir fracassos pessoais, vitórias coletivas. Aprendi a deixar a doença orgulho de lado. E a dizer eu te amo para quem está entre nós porque dói demais dizer para quem já se foi.
Com as faxinas aprendi a reinventar coisas. Assim como reinventamos uso para antigos copos (que viram excelentes porta-lápis) é possível reinventar relações de amizade, relações políticas.
Faxinas fazem bem. Organizam a casa. Limpam a alma.
Vou seguir com a minha.
"A vida? Que venha de novo!"
Quando Nietzche sintetizou nessa frase um dos pilares de sua obra filósofica jamais pensou que, mais de cem anos depois, uma comunista a usaria para iniciar as postagens de seu blog pessoal. Mas gosto de usá-la. Por que? Porque no último ano pensei muito sobre tudo o que aconteceu comigo. As coisas boas, as ruins. E topei fazer meu o desafio de Nietzche: viver a vida com a perspectiva de chegar ao final e concluir que faria tudo de novo e que poderia vivê-la por mil vezes de maneira idêntica. Ou seja, corrigir as coisas enquanto é tempo, pedir desculpas, dizer eu te amo para quem está vivo, descartar relações falsas, rir, chorar, errar, acertar. Aprender.
Esse blog será meu, pessoal, privado. Ou melhor explicando, será da menina que tal qual Milton Nascimento canta em "Bola de meia, Bola de gude" insiste em viver dentro de mim. E insiste em me fazer sorrir e acreditar na vida. Na nossa vida, no nosso tempo e nas mudanças que pudemos construir.
Esse blog é meu, pessoal, privado. Eu sou a comunista, a deputada, a jornalista, a mulher, a filha, a namorada, a neta, a irmã, a amiga. Eu sou uma dos tantos que amam O Brasil, a América Latina, a luta do povo. Eu sou um dos seres humanos normais. Que amam o Chico Buarque e a sua poesia. Que amam poesia. E que um dia, não tão longe, morrerá de tanta inveja de quem sabe escrever com tanta doçura tantas coisas verdadeiras.
Esse blog é uma tentativa de compartilhar com as minhas pessoas queridas as minhas inquietudes. As angústias, as dores, as alegrias e as tristezas de quem tenta fazer da vida um aprendizado permanente. Por que? Porque aprender é a única coisa que faz a gente pensar que a vida pode começar de novo.