sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Eu ainda falo com ele

Já revelei para vocês que amo o Fabrício Carpinejar? Acho ele um talento único, um homem com alma e escrita de mulher, um ser superior? Já disse que sou perplexa com sua pouca idade e monstruoso talento? Pois bem, volta e meia eu o vejo num restaurante árabe aqui em Porto. E não tenho coragem de falar com ele. Dou um oi meio contrangido, me lembrando das vezes que sou interrompida em minhas refeições. Vá que ele se incomode... Um dia eu tenho que ter coragem de dizer isso para ele. Enquanto a coragem não chega achei esse belo texto dele. É como me sinto em relação a esse jovem poeta. É como me sinto com esse blog.

"Pensava que escrevia por timidez, por não saber falar, pelas dificuldades de encarar a verdade enquanto ardia, arvorava, arfava. Há muitos que ainda acreditam que começaram a escrever pela covardia de abrir a boca. Nas cartas de amor, por exemplo, eu me declarava para quem gostava pelo papel, e não pela pele, ainda que o caderno seja pele de um figo. O figo, assim como a literatura, é descascado com as unhas, dispensando facas e canivetes. Não sei descascar laranjas e olhos com as unhas, e sim com os dentes. Com as mãos, sei descascar a boca do figo e o figo da boca, mais nada. Acreditei mesmo que escrever era uma fuga, pedra ignorada, silêncio espalhado, um subterfúgio, que não estava assumindo uma atitude e buscava me esconder, me retrair, me diminuir. Mas não. Escrever é queimar o papel de qualquer forma. Desde o princípio, foi a maior coragem, nunca uma desistência, nunca um recuo, e sim avanço e aceitação. Deixar de falar de si para falar como se fosse o outro. Deixar a solidão da voz para fazer letra acompanhada, emendada, uma dependendo da próxima garfada para alongar a respiração. Baixa-se o rosto para levantar o verbo. É necessário mais coragem para escrever do que falar, porque a escrita não depende só de ti. Nasce no momento em que será lida."

2 comentários:

  1. Já falei em outro comentário, realmente o cara é demais, muito lindo seu texto. Quanto a coragem de falar, seu eu fosse tu, rezaria para encontra-lo em um bar depois da primeira "gelada".
    Angélica

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  2. Eta, apaixonei também! Vou publicar esse texto no meu blog. Fique com ciúme não viu? rsrsr Beijos e bom carnaval para ti!

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