Domingo fiquei em casa devido a gripe incurável que me acompanhou na ultima semana. Juntamos mais uma amiga doente, parte da minha família amada e uma amiga caridosa. Resultado: ganhei um bolo maravilhoso de chocolate e assisti três filmes ótimos. O primeiro, da Alemanha, "o qe fazer em caso de incêndio?" garante algumas risadas
e muitas reflexões. O segundo, inglês, "Irina Palm" e parado e tem a trilha sonora mais chata dos últimos cinquenta anos. Mas tem um criativo roteiro. Isso garante o filme. O ultimo e melhor, de origem Italiana, "meu irmão e filho único".
Sigo sem internet em casa. Por isso escrevo sem dar detalhes e com a pressa do celular. Mas quando a gripe pegar vocês, neste frio inverno gaúcho, aproveitem para conferir essas dicas.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Apenas para desejar ótima semana!
"Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve..."
Cecília Meireles
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve..."
Cecília Meireles
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Confuso
Por vezes confunde, confunde, funde.
Funde a dor e o amor, os risos e as lagrimas.
Funde com o que não devia.
Funde a dor e o amor, os risos e as lagrimas.
Funde com o que não devia.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Assim estamos todos, por vezes
"Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece…
Mas, Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto"
Quintana
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece…
Mas, Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto"
Quintana
...
O dia está muito corrido demais hoje... E para me ajudar, tive um sonho daqueles horríveis que me fez acordar de madrugada e ficar pesada o dia inteiro. Então, para recarregar as energias eu preciso de um pouquinho de música. Nem que sejam apenas quatro minutos.
No vermelho!
Há tempos ando tentando reconstruir o blog. Este espaço foi 100% elaborado por mim, daí a cara e o jeito absolutamente amadores, as partes mal diagramadas etc. Lá se vão sete anos que me formei em jornalismo... Já não sou boa nisso... Mas prometo que em breve ele vai estar de cara nova. Também pudera, eu criei este espaço para desabafar... Não pensava que ele duraria tanto e enfrentaria desabafos de tantos meses, quase dois anos.
E agora... Agora tenho uma responsabilidade ainda maior! O blog foi incluído na lista dos blogs do vermelho. O vermelho é um dos maiores portais de esquerda do Brasil. Ali escrevem pessoas que admiro e respeito muito. Meus amigos Miro e Nivaldo. Meu presidente Renato... Então, agora fico na obrigação de apresentar o blog com uma carinha melhor, né?
Não, não vou mudar nada do conteúdo. Seguirei com minhas músicas, livros, futebol, dores, amores, poetas e tentantivas de poetar. E é claro que também seguirei com política. Mas agora também no www.vermelho.org.br .
terça-feira, 25 de maio de 2010
O momento político
Ontem foi um dia decisivo para os militantes do PCdoB. Durante mais de um ano tentamos construir a candidatura do Deputado Beto Albuquerque (PSB) ao governo gaúcho. Fomos pautados - militantes comunistas e socialistas - pelo sentimento de respeito ao povo do Rio Grande e o anseio de vermos um governo de estado que construa um projeto de retomada de desenvolvimento do estado, desenvolvimento da economia e humano. Porque para nós é preciso unir o estado para garantir que a economia gaúcha volte a ser protagonista no Brasil. mas não queremos isso por qualquer motivo. Queremos isso porque isso é o que pode garantir maiores investimentos na sociedade: nas escolas públicas, na saúde, na segurança de nosso povo. Na semana passada, como registrei aqui, retiramos essa candidatura porque não conseguimos ampliá-la. Não conseguimos unir forças em torno desse projeto.
A partir disso retomamos as nossas conversas. Sempre conjuntamente (PCdoB e PSB) porque formulamos conjuntamente essa política e gostaríamos de vê-la abraçada por alguém que esteja no mesmo campo político que o nosso. O campo que compreende os avanços que o Presidente Lula construiu para o Brasil, que compreende o papel do Brasil no mundo e mais, que compreenda que o RS só voltará a ser protagonista da "locomotiva" chamada Brasil se discutir qual papel que quer ter nesse Brasil. O campo que sabe que o povo gaúcho quer políticas sociais sólidas, quer investimentos naquilo que é de seu direito. Por isso tudo, ontem, abraçamos a candidatura do companheiro Tarso Genro.
Tarso levará nossas bandeiras de construção de um novo momento político no estado, com valorização do desenvolvimento e investimentos na nossa gente. Com a retomada de nossa UERGS, por exemplo ou o pagamento do piso salarial para os professores. Apenas para ficar na educação. E sei da capacidade dele e dar conta desse desafio. Afinal, quem criou o Prouni pode fazer muito pela UERGS.
O meu partido tem diferenças com o PT. Se não tivesse estaríamos todos num só partido. Mas o que percebemos foi um aprendizado mútuo muito grande. A valorização de nossas contribuições foi decisiva para essa tomada de decisão. A convicção da possibilidade de construção de um projeto comum para o Rio Grande e para o Brasil nos une. E para isso estamos prontos. Para a partir de sete de julho irmos as ruas e conversar com cada gaúcha e cada gaúcho.
De minha parte, acabada esta etapa, devo admitir que ingresso num momento de muita tensão. Apenas quarenta dias nos separam do início das eleições. E o processo eleitoral é muito cansativo e bastante tenso. Nunca reclamo de trabalhar mais durante as eleições porque acho que já mantenho um ritmo muito acelerado e talvez não exista como trabalhar mais durante o processo. Existe um ambiente mágico que é o envolvimento muito maior de nosso povo com a política. Enfim... Eleição é a festa de democracia. É tenso. Mas sempre se aprende muito. E está quase chegando.... Estou em contagem regressiva...
Leitura de avião
domingo, 23 de maio de 2010
Dica de leitura
Depois do jogo do Inter com o São Paulo e, particularmente, depois de assistir o Fernandão marcar um gol contra o Inter, o livro que indico hoje não poderia ter o título mais sugestivo. "Nada a dizer", de Elvira Vigna. Comprei no aeroporto, na minha vinda para Porto Alegre, absolutamente despreperada para o falso nascimento de minha sobrinha.
A autora descreve, em primeira pessoa, com precisão cirúrgica, os pensamentos de uma pessoa traída. A insegurança absoluta, a obsessão. Forte.
sábado, 22 de maio de 2010
O vazio esperançoso da cidade
Há dias que andar pelas ruas vazias me estufa o peito de esperança na humanidade. Silenciosa, escura, quase pensativa, Porto Alegre hoje ao amanhecer era apenas alguns rostos de mulheres e homens. alguns Jovens que voltavam de festas e que, em certo sentido, reafirmavam sua crença de que a vida pode ser mais feliz. Que outra motivação teriam jovens que ainda convivem com o desemprego, que vivem em comunidades em que a infraestrutura ainda não chegou, para estarem cinco da manha tomando ônibus para voltarem para suas casas?
De outro lado, na madrugada da cidade quieta, dezenas de trabalhadores deixavam ou ingressavam no local de trabalho. Rostos cansados. Rostos tão silenciosos e intensos quanto o amanhecer da cidade. Ao mesmo tempo, rostos de esperança no amanha, na ideia de que a vida pode ser melhor. Poderia fazer reflexões profundas sobre a exploração desses trabalhadores, seus baixíssimos rendimentos, a ausência de condições para realizarem seus sonhos e também de seus filhos. Também poderia falar do vazio - quase tão grande quanto o da própria cidade- da vida de alguns jovens que usam as noites para esquecer as dificuldades das próprias vidas.
Mas hoje pela manha Porto Alegre silenciosa me trouxe esperança. Esperança em rostos desconhecidos e cansados. Esperança que move nossas vidas. Esperança de que nosso futuro será construído por essa gente. E que será melhor. Pra essa gente.
De outro lado, na madrugada da cidade quieta, dezenas de trabalhadores deixavam ou ingressavam no local de trabalho. Rostos cansados. Rostos tão silenciosos e intensos quanto o amanhecer da cidade. Ao mesmo tempo, rostos de esperança no amanha, na ideia de que a vida pode ser melhor. Poderia fazer reflexões profundas sobre a exploração desses trabalhadores, seus baixíssimos rendimentos, a ausência de condições para realizarem seus sonhos e também de seus filhos. Também poderia falar do vazio - quase tão grande quanto o da própria cidade- da vida de alguns jovens que usam as noites para esquecer as dificuldades das próprias vidas.
Mas hoje pela manha Porto Alegre silenciosa me trouxe esperança. Esperança em rostos desconhecidos e cansados. Esperança que move nossas vidas. Esperança de que nosso futuro será construído por essa gente. E que será melhor. Pra essa gente.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Dia lindo
Brasília está tomada pela diversidade. O movimento LGBT (ou a sopinha de letrinhas, como chamo, carinhosamente) tomou a frente do Congresso. Para mim, já disse e repito, Brasil desenvolvido não é só Brasil que cresce e distribui renda. Brasil desenvolvido também é Brasil que respeita a diversidade. Brasil que respeita e que mais do que isso, sabe que só será um grande país quando aprender a amar a sua diversidade.
terça-feira, 18 de maio de 2010
Todos queremos
Da linda Elisa Lucinda, o retrato do que todos queremos
DA CHEGADA DO AMOR
Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.
Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.
Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.
Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.
Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.
Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.
Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.
Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.
Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.
Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.
Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.
Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.
Sem senãos.
Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.
Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.
Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.
Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.
Sempre quis um amor não omisso
e que suas estórias me contasse.
Ah, eu sempre quis uma amor que amasse.
DA CHEGADA DO AMOR
Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.
Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.
Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.
Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.
Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.
Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.
Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.
Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.
Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.
Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.
Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.
Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.
Sem senãos.
Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.
Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.
Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.
Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.
Sempre quis um amor não omisso
e que suas estórias me contasse.
Ah, eu sempre quis uma amor que amasse.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
dia longo
alguns dias são longos. Pela duração e pela intensidade. Hoje foi um desses dias. Depois de uma longa construção política constatamos ser inviável manter a candidatura de meu amigo Beto Albuquerque ao governo do RS. diversos fatores fizeram com que chegassemos a essa conclusão. A impossibilidade de unirmos mais forças políticas, a falta de espaço para um diálogo mais programático foram os mais importantes. Agora vamos debater um novo caminho. Mas seguimos firmes com nossos sonhos. A luta segue adiante....
Por onde andei...
Nova Hartz, Araricá, Sapiranga, Canoas, Caxias. Zona Norte e Zona Sul de Porto Alegre... Feira da Agricultura Familiar. Incrível feira da agricultura familiar, organizada pelo MDA. Muito trabalho e nada de tempo para arrumar a internet lá de casa...
quarta-feira, 12 de maio de 2010
dica de leitura
Acabo de ler "A primeira mulher", de Miguel Sanches Neto, paranaense. Belo texto. O autor era um desconhecido para mim e me surpreendeu pela capacidade de narrativa e diálogos muito precisos. Um bom livro. Embora tenha como pano de fundo algumas coisas lamentáveis da política feita por alguns.
Família: qualquer maneira de amar vale a pena
O que caracteriza uma família? O que faz com que essa família jogue um papel fundamental na construção de uma sociedade de paz, de valores éticos, de crianças e jovens não violentos? É possível que a lei tente impor um tipo de família com base em determinados valores que alguns de nós possuem e outros não?
Foi sobre isso que discutimos hoje na Comissão de Constituição e Justiça sobre o Estatuto da família. Nossa legislação não acompanhou as mudanças reais da sociedade. Eu costumo dizer que existem duas formas de legislarmos. Uma em cima da "realidade real", a vida das pessoas, aquilo que de fato ocorre. Outra em cima de uma "realidade imaginária", a forma como gostaríamos ou alguns gostariam que a realidade fosse.
Sobre a família muitos agem com base na realidade imaginária. Família é o pai, a mãe, os filhos. As crianças serão criadas num ambiente de amor, com plenas condições de desenvolver-se. O fato é que essa não é única parte da realidade. É um fragmento. Muitos vivem assim e são felizes. Outros tantos não. O fato é que hoje nossa legislação protege apenas a esses. É óbvio que ninguém é contra isso. Todos admiramos e respeitamos a essas pessoas. mas e as outras não merecem proteção da lei?
Qual o argumento para a legislação de um país não garantir os direitos a um casal homossexual? Alguém pode me dizer como, um indivíduo adulto, não pode escolher com quem se relacionar? Quem prefere uma criança nas ruas, no crack, num orfanato ao invés de estar num ambiente de amor com um casal de homossexuais?
Para mim família é constituida com base no afeto.
É óbvio que eu tenho o direito de não querer isso para mim. Tenho o direito até de achar absolutamente sem sentido. Mas as leis, em um Estado laico, não devem ser pautadas na moral de alguns. Mas nos direitos de todos. Nossa constituição garante igualdade de direitos. É só isso que estamos discutindo.
Muitas vezes aqui na Câmara debatemos que os juízes querem "legislar". E que nós deputados somos eleitos para isso e os juízes não. Certo. Mas o Poder Judiciário tem sido mais rápido, mais eficiente e mais laico ao legislar em favor das "novas famílias". Temos que correr atrás.
O mundo muda. As leis devem acompanhar a essas mudanças. por exemplo, há alguns anos, as mulheres cuidavam dos filhos de maneira integral. Hoje, trabalham. Isso gera a demanda das creches e de todo o sistema educacional ser revisto. As mulheres são culpadas? EVIDENTE que não. São conquistas nossas. Que geram novas demandas. Assim caminho a sociedade. Assim devem caminhar as leis, em minha opinião.
Além disso, eu vi tanta raiva, tanto preconceito do outro lado. Tanta falta de amor ao mundo e tanto dogma que fiquei triste. Fiquei triste por ouvir (nos murmurinhos) que é melhor para uma criança ser abandonada do que criada por um gay, triste por ver que tem muita gente que não respeita as diferenças.
mas isso deve nos animar para a luta, né? Porque se hoje ainda não é uma realidade que "qualquer maneira de amar vale a pena", amanhã , se lutarmos, valerá.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Ficha limpa aprovado. E depois?
Hoje terminamos de aprovar o projeto chamado de ficha limpa. Projeto de iniciativa popular, garante que aqueles que não tem a "ficha limpa" não terão o direito de concorrer. Grande prova de que é possível, quando atuamos, quando não nos calamos, mudar a realidade. Essa é a lição do projeto. Agora o projeto vai ao Senado. E a população deve pressionar aos senadores para que ele seja aprovado dentro do prazo.
Mas e depois? Eu acredito que é fundamental que a população perceba a sua força. E que utilize esta força para pressionar por mais mudanças na política. O ficha limpa é só um passo, um primeiro e pequeno passo. Ele proíbe os "fichas sujas" de serem eleitos. Entretanto, é necessário mudar o nosso sistema eleitoral. Nosso sistema é tão falho... Eu quero ver essa pressão toda pela reforma política!
segunda-feira, 10 de maio de 2010
por esses dias
Estou com dificuldades na internet. A lá de casa parou de funcionar sem nenhuma explicação formal, atualizar o blog do celular é uma chatice e estou o tempo inteiro na rua.
Na sexta, estive na Conferência de Esporte em Canoas, pude ver gestores de todos os cantos do estado, junto com professores, atletas, lutando por um projeto que coloque o esporte no centro do desenvolvimento humano e social. Também fui para Cachoeirinha, e repiti a emoção de ver centenas de crianças nas Olímpiadas escolares.
Sábado dei mais um giro pelas cidades que reprentamos em Brasília. Fui a Canoas para a Conferência e voltei a tarde para o bairro Mathias para tomar um chá com diversas mulheres na sede do partido, almocei em Campo Bom com nosso vereador Vitor e algumas dezenas de lutadores daquela cidade.
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Dia das mães
Ontem, tirei o dia para algo muito especial. Depois de alguns anos reunimos todos os irmãos para passar um Dia das mães. Nós cinco, minha mãe, minha irmã grávida, dois irmãos que moram longe e fazem aniversário em maio. Muito especial esse momento para mim. A todos as leitoras e amigas do blog que são mães deixo um abraço bem apertado com o carinho que sinto pelas mulheres que mudam o mundo e a vida das pessoas. Aquelas, que como eu, ainda não tem essa sensação (que deve ser maravilhosa...) deixo uma mensagem que recebi ontem e me emocionou muito: enquanto não temos os nossos filhos vamos lutar para mudar o mundo em que crescem os filhos de muitas mães, vamos lutar para que as nossas mulheres tenham mais direitos.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Serra no Rio Grande
Eu estou em Brasília e apenas acompanhei alguns fatos da agenda de José Serra ao Rio Grande do Sul, durante essa semana. Vi em um telejornal da Rede Globo partes da fala dele na Federasul. Um elemento foi destacado como altamente positivo. E é sobre ele que eu gostaria de escrever.
Serra disse que falta um projeto de desenvolvimento regional para o RS (e que este é o fato que motiva a economia gaúcha a estar tão mal) e que o único acordo internacional firmado pelo Brasil é com Israel.
Eu concordo que faz falta um projeto para o Rio Grande. Um projeto que esteja sintonizado com um de país. Que leve em consideração o fato de termos fronteiras com países com produção semelhante a nossa, por exemplo. Queremos um MERCOSUL que faça o Rio Grande ganhar também, e não apenas SP. Logo, não falta um projeto regional. Falta o Rio Grande se virar de frente para o Brasil. Porque hoje está de costas. Nosso estado não vai se desenvolver sozinho. Relembro Serra - porque parece que ele não tem nada com isso - que a economia gaúcha perde há doze anos. Perde, portanto, desde o segundo governo FHC. relembro também que destes doze anos apenas 4 não foram governados por aliados seus. Pergunto: o que fez Yeda (porque ele tentou fugir dela no RS, como se não fossem do mesmo partido) para inserir o RS num grande projeto nacional que valorizasse a nossa produção? O que fez para que a vitivinicultura não sofresse tanto com a concorrência desleal dos vinhos chilenos e argentinos? Quantas vezes ela esteve em Brasília lutando pelo setor coureiro-calçadista que briga com a gigante China? Qual o papel do governo do RS na consolidação da CEITEC, polo tecnológico em potencial? Nós não queremos um RS reinventado. Queremos que nossas potencialidades sejam exploradas e que nosso estado tenha um papel dentro do país. Para isso é preciso unidade. Para isso é preciso projeto. E o futuro governador tem que ter esse projeto. Não é possível que o Brasil inteiro esteja crescendo e o RS não.
O segundo aspecto da mesma fala é a ironia feita por Serra no acordo celebrado entre Brasil e Israel. Com um ar de brincadeira disse que " ainda por cima nesse acordo não poderiam ser comercializadas mercadorias de áreas supostamente palestinas". Deus!!! Será que José Serra não sabe o que acontece com os palestinos? Será que esse assunto é digno de reparações? Eu tenho orgulho de viver num país que não aceita frutos da guerra. Acho que a comunidade palestina deveria atentar para essa maniestação dele em Porto Alegre.
Não queremos mais guerra entre judeus e palestinos. Lutamos pela paz. E o Brasil ajuda a luta de muitos países pela paz mundial. Eu quero que continue assim. Um país de paz, que luta pela paz.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Dica de cinema
Martha Medeiros escreve muito melhor do que eu. Assisti a esse flme de Woody Allen e confesso que gostei. A crônica de Martha é a versão bem escrita de minha opinião.
Tudo pode dar certo
Uns acharam bom, outros acharam ruim, e assim é a vida, todos opinam aqui e ali, e eu serei apenas mais uma a palpitar sobre o recente filme de Woody Allen. É possível que você concorde comigo e estaremos em sintonia, ou você irá discordar, engrossando a turma dos que acham que Woody Allen não é mais o mesmo, ou você talvez sempre tenha considerado Woody Allen um chato de galochas, ou vai ver nem sabe quem é esse tal de Woody Allen, e nada disso mudará uma única fagulha no curso do universo.
O monólogo de abertura de Tudo Pode Dar Certo, com Larry David no papel do mal-humorado Boris, traz esse espírito fatalista. Segundo ele, nada tem muito sentido, a sorte é que manda no jogo, e se ao menos facilitássemos as coisas para tornar nossos dias mais suportáveis, mas fazemos justamente o contrário. “As pessoas tornam a vida pior do que é preciso”, reclama o protagonista.
Na contramão da crítica especializada, pra mim Woody Allen está cada vez melhor, se não como cineasta, ao menos como filósofo. Tem se revelado mais debochado e mais leve, como convém a um homem inteligente que está chegando aos 75 anos e que aprendeu que só o que nos cabe na vida é não fazer mal aos outros e usufruir da melhor maneira a honra de ter nascido.
Desta vez, Woody Allen foi fundo na caricatura. Mostra um personagem ranzinza que fracassa em suas duas tentativas de suicídio, uma loirinha desmiolada, uma senhora careta que reavalia seus conceitos e “se reinventa”, um príncipe encantado cujo único atrativo é ser bonitão e um pai de família temente a Deus que descobre que é um gay enrustido. “Às vezes, os clichês são a melhor forma de dizer as coisas”, alerta Boris ainda no início do filme.
Quando assisti, em 2003, a Igual a Tudo na Vida, lembro de ter comentado que Woody Allen havia se dado alta. E sigo com a mesma impressão. Em seus filmes anteriores, mais ricos e consistentes em questionamentos existenciais, o diretor parecia dizer: “Não há cura”. Em sua resignada fase atual, ele parece dizer: “Não há doença”. O diretor está apenas confirmando que não temos nenhum domínio sobre os mistérios que nos rondam e sobre as experiências nunca testadas. Então, não importa o que façamos, o risco de dar certo é o mesmo de dar errado, e, até quando parece que dá errado, funciona. Qualquer coisa funciona. Até um Woody Allen clichê.
O monólogo de abertura de Tudo Pode Dar Certo, com Larry David no papel do mal-humorado Boris, traz esse espírito fatalista. Segundo ele, nada tem muito sentido, a sorte é que manda no jogo, e se ao menos facilitássemos as coisas para tornar nossos dias mais suportáveis, mas fazemos justamente o contrário. “As pessoas tornam a vida pior do que é preciso”, reclama o protagonista.
Na contramão da crítica especializada, pra mim Woody Allen está cada vez melhor, se não como cineasta, ao menos como filósofo. Tem se revelado mais debochado e mais leve, como convém a um homem inteligente que está chegando aos 75 anos e que aprendeu que só o que nos cabe na vida é não fazer mal aos outros e usufruir da melhor maneira a honra de ter nascido.
Desta vez, Woody Allen foi fundo na caricatura. Mostra um personagem ranzinza que fracassa em suas duas tentativas de suicídio, uma loirinha desmiolada, uma senhora careta que reavalia seus conceitos e “se reinventa”, um príncipe encantado cujo único atrativo é ser bonitão e um pai de família temente a Deus que descobre que é um gay enrustido. “Às vezes, os clichês são a melhor forma de dizer as coisas”, alerta Boris ainda no início do filme.
Quando assisti, em 2003, a Igual a Tudo na Vida, lembro de ter comentado que Woody Allen havia se dado alta. E sigo com a mesma impressão. Em seus filmes anteriores, mais ricos e consistentes em questionamentos existenciais, o diretor parecia dizer: “Não há cura”. Em sua resignada fase atual, ele parece dizer: “Não há doença”. O diretor está apenas confirmando que não temos nenhum domínio sobre os mistérios que nos rondam e sobre as experiências nunca testadas. Então, não importa o que façamos, o risco de dar certo é o mesmo de dar errado, e, até quando parece que dá errado, funciona. Qualquer coisa funciona. Até um Woody Allen clichê.
Ficha Limpa
Semana passada eu compartilhei com vocês a angústia que é quando nos preparamos para votar algo importante e a votação não anda. Foi assim durante quatro semanas com o Ficha Limpa. mas ontem, quase a meia noite, votamos. E foi aprovado. Foram 388 votos favoráveis. Nenhum contrário. Claro que mais de cem parlamentares se ausentaram. Mas reflitam comigo. Esse é um projeto de iniciativa popular. A Câmara trabalhou e a pressão da sociedade fez com que o Ficha Limpa fosse uma realidade.
A nossa primeira vitória é ter aprovado o projeto na Câmara (ainda falta toda a luta para o Senado). Mas a segunda - e talvez principal - é termos provado que quando a população participa é possível sim mudar a política. A participação é que muda. Não aquele "reclamismo" conformado. Os que agem, mudam. Os que apenas reclamam, não.
Participem mais galera. Essa é apenas uma pequena vitória na construção da política que sonhamos.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Primeira vitória
Foram quatro semanas vindo a Brasília e resistindo para não votarmos um reajuste inferior a 7,72%. Hoje garantimos a vitória. E ainda aprovamos o fim do fator previdenciário. São lutas que seguem pois há a ameça de veto por parte do governo. Alguns podem me perguntar: mas tu não és da base do governo? Sim. Sou e tenho orgulho. Mas nosso Partido sempre acreditou que é preciso disputar cada passo do governo para avaçarmos mais. E na questão dos aposentados agimos assim. Por que? Porque significa em primeiro lugar justiça e dignidade para milhares de brasilieros que trabalharam durante todas as suas vidas. Depois, porque esse é um dinheiro que movimenta a economia, que faz o país crescer. Vencemos. Mas é preciso manter a mobilização para o Senado e depois para garantir que não seja vetado. Foi apenas mais um passo. Mas é assim que caminhamos.
Sigo aqui na Câmara. Ainda vamos votar o texto do projeto Ficha Limpa. Essa luta também é grande. Sou favorável. Mas seguiremos até a madrugada e amanhã votando. São necessárias muitas pequenas vitórias para termos a vitória na Câmara.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
prestação
alguns dizem que a natureza nos dá tudo de graça. ela me disse que paga, há anos, a prestação para gerar uma vida. Tem TPM. Todos os meses.
Grandileza
Muitos vezes me pergunto quais devem ser as metas de nossas vidas. Ontem, o "chapeleiro maluco" me respondeu. É preciso não perder a "grandileza". Aquilo que nos deixa a alma pura, a coragem intacta e principalmente nos deixa viva a capacidade de sonhar. É esse o sentimento que nos move para seguir lutando contra a desigualdade. É a sensação, furtada muitas vezes na infância, de que essa realidade não é normal. E que ela pode ser mudada.
Minha meta é não perder a "grandileza" e a de vocês?
Minha meta é não perder a "grandileza" e a de vocês?
P.s. assisti "Alice". Depois de um dia de trabalho, de perder o campeonato estadual (parabéns aos gremistas...) devo admitir que me fez bem pra caramba. O filme é tecnicamente impecável. Linda a fotografia, o figurino, a maquiagem. Nos remete ao mundo dos sonhos. Foi também minha primeira experiência 3D. Fantástico.
sábado, 1 de maio de 2010
1o de maio com Lila Ripoll
Nossa poetisa, comunista, apaixonada. Ela pode homenagear os trabalhadores e as trabalhadoras muito melhor do que eu neste 1o de maio. E melhor: nos anima para seguir lutando.
FESTEJO
Foi num primeiro de maio,
na cidade de Rio Grande.
O céu estava sem nuvens.
O mês das flores nascia.
O vento lembrava as flores
no perfume que trazia.
O povo reuniu-se em festa
pois a festa era do povo.
Crianças, homens, mulheres,
o povo unido cantava.
O povo simples da rua,
comovido se abraçava.
O mês das flores nascia
e o vento lembrava as flores
no perfume que trazia.
Foi num primeiro de maio,
de pensamento profundo.
“Uni-vos, ó proletários,
ó povos de todo o mundo”.
Unido estava em Rio Grande,
o povo simples cantando,
No peito de cada homem
uma esperança se abria.
Em qualquer parte do mundo
uma estrela respondia.
Era primeiro de maio
dia da festa do mundo.
O velho parque esquecido
tinha um ar claro e risonho.
Germinava no seu peito
o calor de um novo sonho.
Misturavam-se cantigas,
frases, risos, alegrias.
No peito de cada homem,
um clarão aparecia.
Surgiam jogos e prendas,
hinos subiam ao ar.
Em cada grupo uma história
alguém queria contar.
A tecelã Angelina,
vivaz e alegre cantava,
Recchia - o líder operário
ria e confraternizava.
Era primeiro de maio,
dia de festa do mundo.
Foi quando a voz calma e séria,
no velho parque vibrou,
e um convite alvissareiro
o povo unido escutou:
“Amigos, a rua é larga.
Unidos vamos partir.
A nossa ‘União Operária’
nós hoje vamos abrir.”
No peito de cada homem
Um clarão aparecia.
Em qualquer parte do mundo,
uma estrela respondia.
“A casa de nossa classe,
fechada por que razão?
Amigos, vamos à rua,
e as portas se abrirão.”
A onda humana agitou-se,
Cresceu em intensidade .
Em coro as vozes subiram
clamando por liberdade.
“Á rua,à rua, sem medo,
unidos, vamos marchar.”
Foi como se uma rajada
De vento encrespasse o mar.
(Primeiro de Maio, 1954)
PASSEATA
Sem demora, a passeata organizou-se.
Rompeu-se a indecisão.
Um sopro audaz passava em cada rosto,
onde os olhos falavam com estrelas,
na densa escuridão.
Espontâneas as filas se formaram
e ergueram-se a cantar.
Nas mãos erguidas, lenços tremularam,
impacientes também para avançar.
- Quem vai na frente? Quem? disseram vozes.
E três vultos surgiram, decididos.
Eram pedreiros uns. Outros portuários.
- Recchia, Osvaldino, Honório, Euclides Pinto -
e também Angelina, a tecelã.
E a passeata iniciou-se: “Adiante, amigos
Avancemos sem medo. A rua é nossa.”
Ouviu-se a voz sonoramente clara,
indicando o caminho a percorrer.
Decididos, os passos ritmados
marcaram os primeiros movimentos.
Punhos fechados,
lenços agitados,
e o vento acompanha o movimento
da marcha triunfante.
“A Bandeira na frente, companheiros”,
e Angelina surgia, erguida fina,
tocada pela luz da tarde mansa,
como um vivo estandarte a caminhar.
Os passos ritmados,
batiam sem cessar.
“Viva a classe operária. Salve. Viva!”
Era o coro das vozes a clamar.
Como um pássaro verde, muito verde,
a Bandeira voava,
revoava,
por sobre o mar humano a se espraiar.
Flutuavam lenços, mãos gesticulavam.
Vozes subiam animando a marcha.
E as filas andavam sem parar.
A “União” já estava quase a aparecer
e os punhos se fechavam.
Um sopro audaz passava em cada rosto.,
onde os olhos brilhavam.
“Viva a ‘União’, companheiros, viva o povo”.
E a voz interronmpeu seu entusiasmo
e um silêncio caiu, inesperado.
E logo uma palavra subiu clara,
atravessando homens e mulheres,
como um fino punhal.
“A polícia, a polícia, companheiros”.
E houve um leve arquejar. E alguém falou:
“Avançar, companheiros, avançar.”
Era Recchia investindo desarmado
E a onda contida transbordou.
(Primeiro de Maio, 1954)
ANGELINA
A massa resiste,
rebelde,
indomável,
erguendo muralhas,
de peitos e braços,
às frias espadas,
aos altos fuzis.
A rua tranquila,
tão cheia de cantos,
encheu-se de cinza,
de sangue e de pó.
O povo resiste
e os tiros aumentam.
Protestam as vozes
Num vivo clamor.
Respondem espadas,
fuzis apontados,
fuzis metralhando.
A massa recua,
retorna e avança
com novo vigor.
Na rua estendidos,
Euclides e Honório,
e mais Osvaldino,
fecharam seus olhos,
seus lábios calaram.
As vagas aumentam
de ódio incontido.
E há novos protestos
do povo ferido.
Alguém arrebata
das mãos de Angelina
a verde Bandeira
que ondula no ar.
Os tiros procuram
o peito de Recchia.
E os tiros ficaram
no peito a morar.
Os olhos dos homens
refletem angústia,
revelam paixão.
Ferido está Recchia,
e há sangue no chão.
Ninguém junto ao leme,
ninguém no comando.
Vermelhas papoulas
matizam o chão.
O rosto em tormento,
cabelos ao vento,
retorna Angelina,
mais alta e mais fina.
“A nossa Bandeira,
nas mãos da polícia?”
E à luta regressa,
com febre no olhar.
Os braços erguidos,
subiam, caiam,
em meio a outros braços,
o mastro a arrastar.
E às mãos vitoriosas,
num breve momento,
retorna a Bandeira
batida de vento.
Um frio estampido
correu pelo espaço,
na rua vibrou.
Vacila a Bandeira,
vacila Angelina,
e a flor de seu corpo
na rua tombou.
(Primeiro de Maio,1954)
(Poema sem título, 1964)
Não. Não aceito este vento
como eterno.
Nem o céu toldado
como paisagem possível.
Nem a música absurda dos tambores
quebrando o ritmo da melodia verdadeira.
Não. Não aceito a mutilação
de meu espírito.
De meus passos,
Da brasa de sonho
que arde dia e noite no meu peito.
Não. Não aceito a vida
emoldurada em formas em formas imutáveis;
as estrelas sem brilho; as vozes fechadas na garganta;
códigos substituindo pensamentos;
a neblina nos olhos; as palavras esmagadas.
Não. É preciso que amanheça.
Que se ouçam os cantos líricos
dos pássaros.
Os cantos nítidos da vida.
A voz dos homens rompendo o silêncio de chumbo.
É preciso que amanheça.
Que a música contida
irrompa caudalosa,
como um rio que deixa o leito
a procura do mar.
FESTEJO
Foi num primeiro de maio,
na cidade de Rio Grande.
O céu estava sem nuvens.
O mês das flores nascia.
O vento lembrava as flores
no perfume que trazia.
O povo reuniu-se em festa
pois a festa era do povo.
Crianças, homens, mulheres,
o povo unido cantava.
O povo simples da rua,
comovido se abraçava.
O mês das flores nascia
e o vento lembrava as flores
no perfume que trazia.
Foi num primeiro de maio,
de pensamento profundo.
“Uni-vos, ó proletários,
ó povos de todo o mundo”.
Unido estava em Rio Grande,
o povo simples cantando,
No peito de cada homem
uma esperança se abria.
Em qualquer parte do mundo
uma estrela respondia.
Era primeiro de maio
dia da festa do mundo.
O velho parque esquecido
tinha um ar claro e risonho.
Germinava no seu peito
o calor de um novo sonho.
Misturavam-se cantigas,
frases, risos, alegrias.
No peito de cada homem,
um clarão aparecia.
Surgiam jogos e prendas,
hinos subiam ao ar.
Em cada grupo uma história
alguém queria contar.
A tecelã Angelina,
vivaz e alegre cantava,
Recchia - o líder operário
ria e confraternizava.
Era primeiro de maio,
dia de festa do mundo.
Foi quando a voz calma e séria,
no velho parque vibrou,
e um convite alvissareiro
o povo unido escutou:
“Amigos, a rua é larga.
Unidos vamos partir.
A nossa ‘União Operária’
nós hoje vamos abrir.”
No peito de cada homem
Um clarão aparecia.
Em qualquer parte do mundo,
uma estrela respondia.
“A casa de nossa classe,
fechada por que razão?
Amigos, vamos à rua,
e as portas se abrirão.”
A onda humana agitou-se,
Cresceu em intensidade .
Em coro as vozes subiram
clamando por liberdade.
“Á rua,à rua, sem medo,
unidos, vamos marchar.”
Foi como se uma rajada
De vento encrespasse o mar.
(Primeiro de Maio, 1954)
PASSEATA
Sem demora, a passeata organizou-se.
Rompeu-se a indecisão.
Um sopro audaz passava em cada rosto,
onde os olhos falavam com estrelas,
na densa escuridão.
Espontâneas as filas se formaram
e ergueram-se a cantar.
Nas mãos erguidas, lenços tremularam,
impacientes também para avançar.
- Quem vai na frente? Quem? disseram vozes.
E três vultos surgiram, decididos.
Eram pedreiros uns. Outros portuários.
- Recchia, Osvaldino, Honório, Euclides Pinto -
e também Angelina, a tecelã.
E a passeata iniciou-se: “Adiante, amigos
Avancemos sem medo. A rua é nossa.”
Ouviu-se a voz sonoramente clara,
indicando o caminho a percorrer.
Decididos, os passos ritmados
marcaram os primeiros movimentos.
Punhos fechados,
lenços agitados,
e o vento acompanha o movimento
da marcha triunfante.
“A Bandeira na frente, companheiros”,
e Angelina surgia, erguida fina,
tocada pela luz da tarde mansa,
como um vivo estandarte a caminhar.
Os passos ritmados,
batiam sem cessar.
“Viva a classe operária. Salve. Viva!”
Era o coro das vozes a clamar.
Como um pássaro verde, muito verde,
a Bandeira voava,
revoava,
por sobre o mar humano a se espraiar.
Flutuavam lenços, mãos gesticulavam.
Vozes subiam animando a marcha.
E as filas andavam sem parar.
A “União” já estava quase a aparecer
e os punhos se fechavam.
Um sopro audaz passava em cada rosto.,
onde os olhos brilhavam.
“Viva a ‘União’, companheiros, viva o povo”.
E a voz interronmpeu seu entusiasmo
e um silêncio caiu, inesperado.
E logo uma palavra subiu clara,
atravessando homens e mulheres,
como um fino punhal.
“A polícia, a polícia, companheiros”.
E houve um leve arquejar. E alguém falou:
“Avançar, companheiros, avançar.”
Era Recchia investindo desarmado
E a onda contida transbordou.
(Primeiro de Maio, 1954)
ANGELINA
A massa resiste,
rebelde,
indomável,
erguendo muralhas,
de peitos e braços,
às frias espadas,
aos altos fuzis.
A rua tranquila,
tão cheia de cantos,
encheu-se de cinza,
de sangue e de pó.
O povo resiste
e os tiros aumentam.
Protestam as vozes
Num vivo clamor.
Respondem espadas,
fuzis apontados,
fuzis metralhando.
A massa recua,
retorna e avança
com novo vigor.
Na rua estendidos,
Euclides e Honório,
e mais Osvaldino,
fecharam seus olhos,
seus lábios calaram.
As vagas aumentam
de ódio incontido.
E há novos protestos
do povo ferido.
Alguém arrebata
das mãos de Angelina
a verde Bandeira
que ondula no ar.
Os tiros procuram
o peito de Recchia.
E os tiros ficaram
no peito a morar.
Os olhos dos homens
refletem angústia,
revelam paixão.
Ferido está Recchia,
e há sangue no chão.
Ninguém junto ao leme,
ninguém no comando.
Vermelhas papoulas
matizam o chão.
O rosto em tormento,
cabelos ao vento,
retorna Angelina,
mais alta e mais fina.
“A nossa Bandeira,
nas mãos da polícia?”
E à luta regressa,
com febre no olhar.
Os braços erguidos,
subiam, caiam,
em meio a outros braços,
o mastro a arrastar.
E às mãos vitoriosas,
num breve momento,
retorna a Bandeira
batida de vento.
Um frio estampido
correu pelo espaço,
na rua vibrou.
Vacila a Bandeira,
vacila Angelina,
e a flor de seu corpo
na rua tombou.
(Primeiro de Maio,1954)
(Poema sem título, 1964)
Não. Não aceito este vento
como eterno.
Nem o céu toldado
como paisagem possível.
Nem a música absurda dos tambores
quebrando o ritmo da melodia verdadeira.
Não. Não aceito a mutilação
de meu espírito.
De meus passos,
Da brasa de sonho
que arde dia e noite no meu peito.
Não. Não aceito a vida
emoldurada em formas em formas imutáveis;
as estrelas sem brilho; as vozes fechadas na garganta;
códigos substituindo pensamentos;
a neblina nos olhos; as palavras esmagadas.
Não. É preciso que amanheça.
Que se ouçam os cantos líricos
dos pássaros.
Os cantos nítidos da vida.
A voz dos homens rompendo o silêncio de chumbo.
É preciso que amanheça.
Que a música contida
irrompa caudalosa,
como um rio que deixa o leito
a procura do mar.