terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pessoas perfeitas

Ainda me surpreendo com as campanhas eleitorais. Entrando na minha quarta disputa percebo o quanto temos por mudar na política e no sistema político. Poderia falar das máquinas eleitorais (muitas inexplicáveis) que enfrentamos, da cara de pau de alguns, do tipo diferente de campanha que o PCdoB faz. Tudo sempre muda e, portanto, sempre está a me (nos) surpreender. Gostaria de analisar (imparcialmente, o que é impossível) a comunicação dos candidatos, já que esta é a minha área e o que mais curto ajudar na campanha (além de ser a candidata, é óbvio...). Poderia falar por horas das fotos engraçadíssimas, dos slogans inusitados, das cores repetitivas. Mas na comunicação nada me supreende mais do que o uso da tecnologia para alterar compeltamente os rostos. Evidente que isso não acontece apenas na política. Nas revistas masculinas (o único termo que achei para não dar o nome da única que conheço.. hahaha) as celulites somem, nas propagandas de cabelo, os arrepiados desaparecem. Mas política é o que faço e, portanto, o que mais observo.
As pessoas apagam suas marcas de expressão. São candidatos sem marcas, sem rugas, sem olheiras. Muitos me dizem: " tua fota está ótima, mas tens tantas ruguinhas do lado do olho!" ou "poderias ter diminuído as olheiras!". Eu não consigo rir sem marcar o rosto, não vivo sem olheiras desde os tempos da faculdade! É assim que sou na rua, em casa, no trabalho.
Por que seria preciso parecer com uma versão aperfeiçoada de mim mesma?
É evidente que a tecnologia pode (e deve!) ser usada para muitas coisas. Inclusive nas fotografias. mas não existem candidatos perfeitos. Nem por dentro e nem por fora!
Eu me canso, por exemplo. Já ouvi que não poderia dizer que estou cansada. Hein? Eu trabalho em média 14 horas no mandato, todos os dias e não posso cansar? Ah! mas nós somos incansáveis. Sim. Na defesa de nosso projeto. mas o corpo cansa. Tenho TPM, crise de riso de nervosa e choro quando fico muito feliz.
Quem não gosta disso tudo tem, lá no fundo, uma visão distorcida do que é a atividade política e a tarefa de ser parlamentar. É como a questão da linguagem que poderia gerar um outro tratado. falar difícil afasta as pessoas da política, mas torna alguns "mais importantes", aparentemente. Quando a política é desumanizada, enquadrada, ela perde a dimensão da proximidade. Representação sem identidade é complicado...
Não somos eleitos para sermos máquinas perfeitas. Somos eleitos para representar pessoas com opiniões próximas as nossas, pessoas que se identificam conosco. Pessoas que tem rugas, marcas de expressão, sentimentos, alegrias e tristezas. Afinal, não existem candidatos e nem pessoas perfeitas. Nem por dentro e nem por fora!

5 comentários:

  1. É isso! ManuELA! Texto ótimo! Quem é perfeito não mora nesse mundo! Beijo grande! Força na campanha!

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  2. Nossos políticos são nossos representantes e, assim, possuem a nossa "cara". Ninguém é perfeito, então por que nossos representantes seriam ? Muito bom seu texto, Deputada... cada vez mais admiro Vossa Excelência.

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  3. Pois é,Manuela,acredito que é justamente à essa relação despolitizada com a política(por mais paradoxal que possa parecer tal frase) que as elites querem levar o povo.Trata-se de subtrair cada vez mais o discurso,o debate,o confronto de programas e propostas,por uma relação subjetiva entre o eleitor e o candidato,relação mediada,é claro,pela mesma supervalorização do TER,do corpo,da imagem,da beleza,da "juventude eterna",que converteram as academias,as clínicas de cirurgias plásticas,a indústria de cosméticos,por exemplo,em grandes negócios em nosso país,relação esta em que o cidadão é tratado como "eleitor-consumidor" e o "político" é apresentado numa espécie de "prateleira" virtual como "candidato-mercadoria".Trata-se de algo a ser combatido firmemente pelos que desejam elevar a atividade política ao seu papel transformador das condições materiais e espirituais de existência de nosso povo.

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  4. Adoro o Eduardo Suplicy justamente por ele "ser humano"....

    Demonstra sensibilidade, sentimentos, sabe expressar um pensamento... fala para o povo (e com o povo).

    Curto muito a oratória da Deputada Manuela também por tais motivos (além de ser muito mais agradável apreciar um pronunciamento da deputada, óbvio rs)

    (só para acrescentar, alguém já imaginou Netinho e Suplicy no Senado?)

    Acredito que essa nova geração, essa "molecada" com trinta e poucos anos ou menos, pode mudar o 'padrão do parlamentar'... ainda temos alguns dinossauros no poder... mas nada que o tempo não resolva...

    (Queria dizer que o voto pode mudar, mas quando vejo algumas famílias que dominam Estados creio que dificilmente mudaremos tal realidade (vide Sarney, Magalhães, Mello, Jereissati, etc)...)

    Em suma, espero que vejamos mais 'humanos' no poder e menos arquétipos (linda palavra para definir uma pessoa moldada)...

    Veremos isso ou a máquina também corrompe a personalidade?

    Bruno de Alencar
    Osasco/SP

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