quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Do telefone ao megafone, do Leopoldina à Sorbonne



Certamente a doméstica Maria da Graça e o eletricista Juarez Borges sonharam em ver os filhos na escola. Afinal, todos os trabalhadores sonham. Mas, provavelmente, os melhores sonhos não incluíam a seleção da filha mais velha para o mestrado em comunicação na Sorbonne, em Paris, na França.

Mas aconteceu. Gisele Borges, dirigente municipal e estadual do PCdoB decolou ao encontro do sonho há muitos anos, mas partiu para Paris no ultimo sábado, dia 1º.

Ela cresceu no Rubem Berta, na comunidade do Leopolina. Da Zona Norte, espaço de gente forte, que lutou pelo direito de morar, Gisele trouxe o jeito risonho, a paixão pelo samba. Depois da vida nas escolas públicas do Bairro, a mãe a obrigou a entrar no técnico de enfermagem. Talvez aquele fosse o mais longe que alguém da família ousasse se ver. Ela foi. Lá, com 18 anos, apostou com o primeiro namorado que sim, ela conseguiria um emprego. Pronto. conseguiu. Parou em uma companhia de seguros. Lá,uma colega de trabalho tinha duas propostas de emprego e indicou a Gi, como nós a conhecemos, para trabalhar como telefonista na sede estadual do Partido Comunista do Brasil em 2000.

Ela simpatizava com uma galera da UJS que vivia na sede do partido implorando ligações (controladas por motivos financeiros). Burlava regras para ajudar aos mais jovens, mas isso era pouco. Timidamente, começou a militar nas eleições de 2000, na campanha para vereador do Raul Carrion.

Em 2001 se filiou à UJS e em 2002 começou a militar de verdade. Tentou voltar para a enfermagem e teve a certeza de que não queria mais aquilo.
Em 2004 entrou para a direção municipal da UJS Porto Alegre atuando na linha de frente da campanha da Manuela para vereadora.

Naquele ano, decidiu que ia realizar o sonho de entrar na universidade. “Entrar na universidade era um sonho. É engraçado, desde a infância via o estudo como alternativa, que através do estudo podia mudar a minha vida”, conta Gi. Foi lá e fez, pois não conhecia o impossível. UNIVERSITÁRIA. Publicidade na Unisinos.

Em 2005 ingressa na equipe do mandato de vereadora que ajudara a construir, o da Manuela. Séria, competente, batalhadora teve muitas tarefas. Das escolas à chefia de gabinete foi uma caminhada. E ela chegou lá na equipe do mandato de deputada federal.

Em 2008, Gisele foi candidata a vereadora, obtendo 2.698 votos, ficando na segunda suplência. Formou-se em publicidade na Unisinos em 2009, de onde partiu seu projeto de estudar a Empresa Brasil de Comunicação – EBC

Em 2009, quando estava concluindo PP e já cursava ciências sociais na UFRGS já sonhava com o mestrado. “Meu orientador sugeriu que eu seguisse estudando. Passei no mestrado da Unisinos, mas não consegui bolsa. Decidi que iria fazer mestrado na UFRGS."

Em 2010 começou especialização na PUC em Planejamento de Comunicação e Gestão de Crise de Imagem, e durante o curso decidiu que queria atuar na vida acadêmica e quis mudar a forma da sua militância, não mais atuando no mandato:

“o processo de seguir pela vida acadêmica não é uma decisão, é um projeto e passa por dividir um pouco o conhecimento. se é o conhecimento que pode proporcionar mudanças, ele precisa ser de todos. Isso eu aprendi com a UJS, conhecendo pessoas, lugares e acreditando em sonhos. Acho que eu consegui seguir meu sonho. "
Conseguiu. Está na Sorbonne.

"Meu projeto é sobre a EBC, sobre a consolidação da EBC, porque ela não consegue se constituir como uma empresa de telecomunicação capaz de formar outro tipo de opinião na formação dos brasileiros? Como, por exemplo, a EBC faz em Londres. Buscar saídas para o sistema público de comunicação no Brasil, de forma viável, diferente das TVs educativas”

"engraçado, ainda não caiu a ficha" diz Gisele.

É... ela nasceu no Rubem Berta, atendia ao telefone, conduziu passeatas em megafones, e agora estuda na mesma universidade de Sartre e Lévi-Strauss.

Essa é Gisele.

Texto por Manuela e Cris Ely

2 comentários:

  1. Gisele,

    Te conheci nos últimos dias na CDS numa apresentação partidária.

    Notei que és digna do momento mágico que estás vivendo.

    Apenas desejo sorte e bastante estudo nesta nova estrada que abristes com garra e competência e honestidade...

    MANUELA 2012...

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  2. Que bonita história a da "Gi". Felizmente, aos poucos e cada vez mais, mais brasileiros e brasileiras começam a ter isso que nos foi negado por séculos: oportunidade. Sorte!

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