domingo, 19 de agosto de 2012

Vitoriosas

Ela caminhava devagar, como se estivesse em câmera lenta. As lágrimas contrastavam com o sorriso no rosto. Falava para si mesma: eu venci. Venci. Sou vitoriosa.

O rosa da camisa de Solange, de 37 anos, era o mesmo rosa de algumas milhares mulheres que estavam nas ruas comemorando a vida nesse domingo. Era o mesmo rosa de Marta que, amanhã, se submeterá à cirurgia da mama e da moça que segurava a faixa. Com cabelos curtos ela celebrava o primeiro "aniversário" do câncer.

O primeiro ano de vitória.

À frente, mulheres com recados escritos em folhas de papel. Algumas dançavam de braços dados. Cabelos longos dos anos de vitória. Cabelos ausentes do início da jornada.

Alguns colocaram lenços, toalhas, bandeiras rosas nas janelas do caminho. Solidariedade.

Hoje caminhei com as mulheres na marcha das vitoriosas. Ali, senti a energia que as move nesses nove anos.
Fiquei serena. Fiquei feliz em ver pelo 9º ano como as vitoriosas colorem Porto Alegre e gritam: 95% de chance de cura.

Lembrei de minha avó relatando a história de vitória de minha bisa. Lembrei do gesto que ela imitava da mãe colocando o dinheiro das vendas do bar da estação de trem, em Cerro Chato, no soutien. A minha bisavó não tinha a mama. E o soutien servia como cofre.

A causalidade, isso que faz parte do mistério da vida, fez com que a moça que me emocionou na caminhada tivesse o nome de minha avó. Solange.

4 comentários:

  1. Que lindo! Realmente nada acontece nesta vida por mero acaso...

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  2. Manu, você sempre me emocionando num domingo a noite. Coisa boa ler teu texto, coisa boa confirmar que as escolhas que fiz ainda na adolescência valeram a pena.Tua trajetória como parlamentar, como futura prefeita de Porto Alegre, como mulher, enchem de orgulho a todos nós e honram a história de luta das mulheres de nossa cidade. Feliz niver atrasado, boa semana e parabéns!! Bjs!!

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  3. Era muito amiga da tua avó. A emoção do texto, principalmente, quando falas na Cléa Solange, é impressionante. No entanto, faço uma única ressalva, a Dona Maria colocava o dinheiro da venda que ela tinha com o senhor Luis, teu bisavó. Não era do restaurante da Estação, aonde o trem parava.

    Te admiro muito e se a Cléa Solange estivesse aqui entre nós estaria feliz contigo e com os demais netos. Ela só falava em vocês.

    Um beijo minha querida,

    Leda

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  4. sempre me emociono...e acredito que será assim para sempre, enquanto meus olhos puderem te ler...
    a luta, a batalha das pessoas pela superação me arranca as lágrimas dos olhos! é linda a força humana que vem das entranhas...é linda a força da mãe que briga por seu filho...é imensamente linda a força dos irmãos que se protegem...e é linda, mesmo que triste, a saudade...a saudade dos nossos, que sempre serão nossos e que nos unem! que saudade vó querida...
    beijos mari

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