Não será a última vez que o encontro, certamente. Mas será a última vez com cara de primeira. A última vez em que tudo é inédito, em que as palavras são desconhecidas, que não busco a segunda ou terceira interpretação do que foi dito. Mais grave: a última vez que não conheço o final. É como despedir-se de alguém que, lá no fundo, não gostaríamos que partisse. Saber que é inevitável, que todos partem, cada um de um jeito, em uma hora. E que, mesmo se nos alegra ter a consciência de que aqueles são os últimos minutos para aproveitá-los da melhor forma possível, preferiríamos ignorar. Viverei cada segundo da despedida. Do inusitado fato de saber que o encontro mal está começando e que já terminará.
Mario Benedetti morreu há pouco com um legado de inúmeras obras poéticas e alguns romances (ou novelas, como ele as chamava). A última chama-se "Andamios". Trata de reencontros de um exilado que volta para casa em Montevideo. O desafio é sentir-se em casa. Aproveitarei o final de semana para, nas horas livres, ler. E sou sincera: dói saber que é a última obra, meu último primeiro encontro com ele.
0 comentários:
Postar um comentário