O vice-presidente uruguaio, Danilo Astori, fez belíssima síntese em seu pronunciamento sobre governos abertos. Abaixo uma anotação livre sobre sua palestra.
Diz ele "governos abertos são espaços comuns entre milhares de pessoas com interesses diferentes. Se falamos tanto em avanços da democracia devemos falar de avanço de legitimidade e essa não se ganha apenas com votos. Voto é premissa. Controle e fiscalização social são estruturastes. Ter um governo aberto significa, em primeiro, lugar capacitar recursos humanos para tanto. Formar servidores públicos, que sirvam ao público. Depois, devemos incorporar tecnologias que transformam essas instituições. As respostas tecnológicas mudam para cada área, com velocidade inimaginável. Finalmente, governo aberto passa por gestão, processo e coordenação global de processos."
Astori levantou outro ponto muito relevante que, para mim, traça preciso paralelo com momento de implementação da Lei de Informação no Brasil. Ele dissertou sobre a necessidade de criarmos espaços específicos para fornecer essas informações aos cidadãos e também a constituição de espaços jurídicos para aqueles que se sentirem prejudicados pela ausência de informação e/ou informação divulgada. Ele também pondera a ausência de leis que protejam privacidade de dados. E é verdade. Nao temos controle algum sobre quem opera nossos dados. Diz ele: no caso dos dados tributários, por exemplo, quem acessa no governo? Por quê?"
Bom momento aqui no debate.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
Washington notas
Ontem tivemos um belo debate sobre o papel das mulheres na economia e na política no século XXI. Publico algumas aspas das painelistas que mais me encantaram.
"As mulheres não são uma voz uníssona, mas fazem a diferença no espaço público", Madeleine Albright, secretária de Estado dos EUA, durante governo Clinton.
"Não são coisas de homens ou mulheres, são características femininas ou masculinas, pois são construídas socialmente. Sensibilidade ou força, por exemplo" , Dorothea Werneck, secretária de Desenvolvimento de Minas.
"O que estou fazendo pelas mulheres, me perguntam por eu ser a ministra da mulher do Chile. Eu respondo: pelas mulheres? Estou fazendo pelo meu país! Nada é mais eficiente do ponto de vista dos direitos humanos e para economia do que criar condições para a igualdade" Carolina Schimdt.
"O primeiro custo que se paga por ser mulher na política é vencer o pessoal e familiar. Imagine para minha mãe entender que eu seria a filha diferente das outras quatro. Que não casaria e teria filhos. Trabalhamos de tal maneira que abrimos mão, praticamente, da vida familiar e pessoal. Isso, pois não chegamos em casa e temos uma esposa que se responsabiliza pelos filhos. E homens que topam isso ainda não existem. Ou eu não o encontrei. (risos) Depois disso, enfrentei, como tantas outras mulheres do meu país e do mundo, a política a que os homens estão acostumados: do caminho mais curto ou dos favores pessoais. Disciplina e trabalho. Alianças estratégicas para superarmos desafios. De tudo isso o que me importa é formarmos uma geração que tenha noção da equidade de gênero. Homens que cuidem de casa e mulheres em qualquer canto. Educação é o caminho. Diria Bachelet: quando uma mulher avança, nenhum homem perde." Lorena Martinez, prefeita de Aguascalientes, México.
"As mulheres não são uma voz uníssona, mas fazem a diferença no espaço público", Madeleine Albright, secretária de Estado dos EUA, durante governo Clinton.
"Não são coisas de homens ou mulheres, são características femininas ou masculinas, pois são construídas socialmente. Sensibilidade ou força, por exemplo" , Dorothea Werneck, secretária de Desenvolvimento de Minas.
"O que estou fazendo pelas mulheres, me perguntam por eu ser a ministra da mulher do Chile. Eu respondo: pelas mulheres? Estou fazendo pelo meu país! Nada é mais eficiente do ponto de vista dos direitos humanos e para economia do que criar condições para a igualdade" Carolina Schimdt.
"O primeiro custo que se paga por ser mulher na política é vencer o pessoal e familiar. Imagine para minha mãe entender que eu seria a filha diferente das outras quatro. Que não casaria e teria filhos. Trabalhamos de tal maneira que abrimos mão, praticamente, da vida familiar e pessoal. Isso, pois não chegamos em casa e temos uma esposa que se responsabiliza pelos filhos. E homens que topam isso ainda não existem. Ou eu não o encontrei. (risos) Depois disso, enfrentei, como tantas outras mulheres do meu país e do mundo, a política a que os homens estão acostumados: do caminho mais curto ou dos favores pessoais. Disciplina e trabalho. Alianças estratégicas para superarmos desafios. De tudo isso o que me importa é formarmos uma geração que tenha noção da equidade de gênero. Homens que cuidem de casa e mulheres em qualquer canto. Educação é o caminho. Diria Bachelet: quando uma mulher avança, nenhum homem perde." Lorena Martinez, prefeita de Aguascalientes, México.
terça-feira, 29 de maio de 2012
A semana...
Essa semana está absolutamente atípica.
Ontem participei junto com José Serra de uma mesa redonda no Insper (como vocês viram abaixo) sobre o livro do Ed Glaeser. Soube que o livro saiu em português e parece que se chama "centros urbanos". O tragicômico foi que Ed Glaeser não conseguiu embarcar de Boston (ele é professor em Harvard), pois o visto havia expirado. Fez, então, a palestra por satélite. Concluí que podemos economizar muito e que o efeito é praticamente o mesmo.
O fato é que eu estava absolutamente grogue de tanta enxaqueca que sentia. Daquelas pesadas que fazem até vomitar. Típico efeito de meus nervos à flor da pele. Ocorre que de madrugada recebi uma notícia muito triste. Um menino dos nossos, do bem, morreu no morro. Vida triste. Morte triste da família sem grana para o enterro. Aquilo tudo foi demais para mim. Estar longe, perder mais um... Céus! Quase cancelei minha viagem aos Estados Unidos. Cansada, triste, com dores... Mas encarei. Penso sempre em como quem se foi gostaria que eu agisse. O DU R era da luta.
E agora estou aqui em Washington. Há anos sou convidada para participar desse fórum e nunca o fiz. Agora aceitei. Comigo estão vários secretários de educação e ministros de estado do continente. Aproveito, ainda, para fazer algumas conversas bilaterais que possam contribuir para mandato ou programa de governo. Mas é um bate-volta. Quinta já estou na terrinha. Afinal, sexta minha lindinha primeira sobrinha faz dois anos.
--------
Washington é linda na primavera. Flores plantadas, ciclovias por toda a parte, praças limpas, calçadas uniformes, jardins no recuo das casas e luzes com fios não expostos.
--------
Minha irmã mais velha faz aniversário hoje. A irmã que me dava sopa de abóbora na boca. Minha irmã que criou uma turma de personagens/vegetais para que eu acreditasse que eles eram legais. Para eles terem voz tinham que estar na barriga. Era a "festa na barriga". Não posso contar quantos anos ela faz, pois ela jura que são 29. Mas quero que esse seja o melhor ano do resto de nossas vidas. E ela sabe o porquê.
Ontem participei junto com José Serra de uma mesa redonda no Insper (como vocês viram abaixo) sobre o livro do Ed Glaeser. Soube que o livro saiu em português e parece que se chama "centros urbanos". O tragicômico foi que Ed Glaeser não conseguiu embarcar de Boston (ele é professor em Harvard), pois o visto havia expirado. Fez, então, a palestra por satélite. Concluí que podemos economizar muito e que o efeito é praticamente o mesmo.
O fato é que eu estava absolutamente grogue de tanta enxaqueca que sentia. Daquelas pesadas que fazem até vomitar. Típico efeito de meus nervos à flor da pele. Ocorre que de madrugada recebi uma notícia muito triste. Um menino dos nossos, do bem, morreu no morro. Vida triste. Morte triste da família sem grana para o enterro. Aquilo tudo foi demais para mim. Estar longe, perder mais um... Céus! Quase cancelei minha viagem aos Estados Unidos. Cansada, triste, com dores... Mas encarei. Penso sempre em como quem se foi gostaria que eu agisse. O DU R era da luta.
E agora estou aqui em Washington. Há anos sou convidada para participar desse fórum e nunca o fiz. Agora aceitei. Comigo estão vários secretários de educação e ministros de estado do continente. Aproveito, ainda, para fazer algumas conversas bilaterais que possam contribuir para mandato ou programa de governo. Mas é um bate-volta. Quinta já estou na terrinha. Afinal, sexta minha lindinha primeira sobrinha faz dois anos.
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Washington é linda na primavera. Flores plantadas, ciclovias por toda a parte, praças limpas, calçadas uniformes, jardins no recuo das casas e luzes com fios não expostos.
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Minha irmã mais velha faz aniversário hoje. A irmã que me dava sopa de abóbora na boca. Minha irmã que criou uma turma de personagens/vegetais para que eu acreditasse que eles eram legais. Para eles terem voz tinham que estar na barriga. Era a "festa na barriga". Não posso contar quantos anos ela faz, pois ela jura que são 29. Mas quero que esse seja o melhor ano do resto de nossas vidas. E ela sabe o porquê.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
O triunfo e os desafios das cidades
Hoje participei, em São Paulo, do seminário sobre o Triunfo das Cidades (já falei sobre o livro aqui no blog). O debate foi ótimo, embora recheado de muitas ideias opostas! Mas fiquei pensando que o triunfo das cidades no traz, na mesma medida, desafios. E não são poucos os que temos que superar. Por exemplo, enquanto vivemos em cidades que buscam um nível de desenvolvimento cada vez maior, no campo ainda enfrentamos o trabalho escravo. Quando presidi a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara me deparei com uma série de denúncias quem envolviam essa prática. Todas muito graves. Triunfamos em alguns pontos e permanecemos tão atrasados em outros...
Na Câmara temos tentado romper esse atraso. Quando aprovamos a PEC do Trabalho Escravo, avançamos na busca da garantia dos direitos humanos e na erradicação de uma prática que parece tão absurda, mas que é comum. Aliás, mais comum que do que imaginamos.
O trabalho escravo rural faz parte, infelizmente, da realidade que vivemos, embora escondido, bem escondido. Não o suficiente para que não combatamos essa prática que agride violentamente a dignidade das pessoas. Não é fácil saber que ao nosso lado trabalham pessoas em condições sub-humanas, expostas a todo tipo de risco, sem proteção alguma, escravizadas. Na CDHM, vi mães carregando nos braços suas crianças vitimadas pelo trabalho escravo. Nos seus olhos, nenhuma esperança de mudança.
O Congresso começa a mudar isso ao aprovar a PEC, quase uma década depois de ter iniciado o debate.
O triunfo das cidades depende do protagonismo que temos diante dos problemas e desafios. Tenho orgulho de ter participado dessa votação histórica. Tenho orgulho de ver o Congresso assumir seus desafios e encará-los de frente, com coragem. É assim que se transformam as cidades. E, transformando as cidades, transformamos a vida das pessoas. Porque as cidades são essencialmente as pessoas que nela vivem e que a constroem.
sábado, 26 de maio de 2012
Dia de feira!
Hoje foi dia de caminhar nas feiras! De falar com quem me conhece há uma vida! Quem me viu amadurecer... Foi dia de ganhar doce de coco na Epatur e abóbora com casca na Vasco, de tomar suco de uva, comer pastel integral da sorte. Sim! Eu tenho um pastel de moranga com castanha que me dá sorte há 8 anos, que vende lá na feira ecológica. Minha amiga vendedora está terminando a universidade com o PROUNI. Sei que meu amigo traz frutas do mundo todo para a feira da Vasco... Assim como sei a história de vida do vendedor de ambrosia da Epatur, da vendedora de amêndoas do Olímpico. E essas pessoas dão sentido para a ida na feira! Essas pessoas dão sentido para o que faço nesses oito anos de mandato. Essas pessoas que sigo olhando no olho.
A feira não é só a feira. A feira é encontro de gente. Gente. Isso é o que faz a nossa cidade, nossa!
A feira não é só a feira. A feira é encontro de gente. Gente. Isso é o que faz a nossa cidade, nossa!
sexta-feira, 25 de maio de 2012
A cidade
"no caminho que ninguém caminha, alta noite já se ia, ninguém na estrada andava... Nenhuma pessoa sozinha ia, nenhuma pessoa vinha"
(cantado por Marisa Monte)
Era tarde, estávamos todos cansados, subíamos o Morro Santa Tereza para participar de encontro na rádio comunitária evangélica. Estávamos no topo da cidade linda, distante, silenciosa, iluminada. Perto de um céu entre o azul e o negro, com estrelas encobertas pelas nuvens de um frio que não chegou. Estávamos no topo da cidade costeada por um lago. Ao lado das pessoas que observam a cidade e vivem pouco dela. E recebem pouco dela. No lugar mais lindo, com as pessoas que acreditam, ali mesmo me senti plena.
Era tarde da noite, estávamos cansados demais mas, ao olhar a cidade mais uma vez, senti que vale a pena.
(cantado por Marisa Monte)
Era tarde, estávamos todos cansados, subíamos o Morro Santa Tereza para participar de encontro na rádio comunitária evangélica. Estávamos no topo da cidade linda, distante, silenciosa, iluminada. Perto de um céu entre o azul e o negro, com estrelas encobertas pelas nuvens de um frio que não chegou. Estávamos no topo da cidade costeada por um lago. Ao lado das pessoas que observam a cidade e vivem pouco dela. E recebem pouco dela. No lugar mais lindo, com as pessoas que acreditam, ali mesmo me senti plena.
Era tarde da noite, estávamos cansados demais mas, ao olhar a cidade mais uma vez, senti que vale a pena.
Minha sobrinha
Eu com aquela enorme espinha na testa. Ela, com seus dois aninhos, olhava de um lado, olhava de outro, apertava. Até concluir e gritar: "mamãe, mamãe, a tia manu está furada". Que tal?
quinta-feira, 24 de maio de 2012
AI 5 digital
O AI 5 digital foi aprovado pela Comissão de Ciência e tecnologia?
Se o número do projeto é o que vale a resposta é sim.
Se o conteúdo do projeto é o que importa a resposta é não.
O movimento social organizado na internet teve sua maior vitória: após anos de resistência, o relator do projeto, Deputado Azeredo, retirou a imensa maioria dos artigos, todos relacionados ao vigilantismo e criminalização da rede.
Era o ideal? Não. Mas o Congresso nacional está longe de ser o palco ideal para nossas disputas. A hora agora é de garantir a aprovação do marco civil progressista na comissão especial e nos plenários da Câmara e Senado. Queremos que o projeto de cybercrimes (assinado por todos os deputados progressistas e que defendem radicalmente a liberdade na internet) seja votado em sua última etapa junto com o marco civil.
Ou seja, aqui respondo a outra pergunta. O projeto de cybercrimes não virou lei. Apenas teve sua primeira etapa vencida. Nossa meta continua a mesma: garantir os direitos dos usuários antes das tipificar os crimes. As etapas no Parlamento podem ser diferentes. A nossa meta é o resultado final: garantir a lei mais avançada do mundo (marco civil) e tipificar as ações realmente criminosas na internet.
Se o número do projeto é o que vale a resposta é sim.
Se o conteúdo do projeto é o que importa a resposta é não.
O movimento social organizado na internet teve sua maior vitória: após anos de resistência, o relator do projeto, Deputado Azeredo, retirou a imensa maioria dos artigos, todos relacionados ao vigilantismo e criminalização da rede.
Era o ideal? Não. Mas o Congresso nacional está longe de ser o palco ideal para nossas disputas. A hora agora é de garantir a aprovação do marco civil progressista na comissão especial e nos plenários da Câmara e Senado. Queremos que o projeto de cybercrimes (assinado por todos os deputados progressistas e que defendem radicalmente a liberdade na internet) seja votado em sua última etapa junto com o marco civil.
Ou seja, aqui respondo a outra pergunta. O projeto de cybercrimes não virou lei. Apenas teve sua primeira etapa vencida. Nossa meta continua a mesma: garantir os direitos dos usuários antes das tipificar os crimes. As etapas no Parlamento podem ser diferentes. A nossa meta é o resultado final: garantir a lei mais avançada do mundo (marco civil) e tipificar as ações realmente criminosas na internet.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
Amizade verdadeira
Tenho uma amiga especial. Não sei quando nos aproximamos. Sei que a vida nos impõe distâncias físicas. Mas ela está sempre comigo. Doce. Amiga. De verdade. Farei meu vôo, Cris. Seja lá onde for o pouso. Te amo.
O voo dos anos
Quando chega o outono, milhões de borboletas iniciam sua longa viagem rumo ao sul, partindo das terras frias da América do Norte.
Um rio flui, então, ao longo do céu: o suave ondular, ondas de asas, vai deixando a seu passo, um esplendor cor de laranja nas alturas. As borboletas voam sobre as montanhas e prados e praias e cidades e desertos.
Pesam pouco mais que o ar. Durante os quatro mil quilometros da travessia algumas caem, derrubadas pelo cansaço, pelos ventos ou pelas chuvas; mas as muitas que resistem aterrisam, enfim, nos bosques do centro do México.
Lá descobrem aquele reino nunca visto, que de longe as chamava.
Para voar nasceram: para voar este voo.
Eduardo Galeano
O voo dos anos
Quando chega o outono, milhões de borboletas iniciam sua longa viagem rumo ao sul, partindo das terras frias da América do Norte.
Um rio flui, então, ao longo do céu: o suave ondular, ondas de asas, vai deixando a seu passo, um esplendor cor de laranja nas alturas. As borboletas voam sobre as montanhas e prados e praias e cidades e desertos.
Pesam pouco mais que o ar. Durante os quatro mil quilometros da travessia algumas caem, derrubadas pelo cansaço, pelos ventos ou pelas chuvas; mas as muitas que resistem aterrisam, enfim, nos bosques do centro do México.
Lá descobrem aquele reino nunca visto, que de longe as chamava.
Para voar nasceram: para voar este voo.
Eduardo Galeano
Livro
Ando estudando muito os temas relacionados ao desenvolvimento urbano e as reflexões mundiais sobre cidades em função da minha pré-candidatura em Porto Alegre. Se é certo que não existe modelo a ser copiado, também é certo que existe muita coisa legal acontecendo. E isso, pode inspirar soluções novas para nossos antigos problemas.
Hoje terminei as extensas 300 páginas de "triumph of the city", do Edward Glaeser. Foi desafiador voltar a ler em inglês, mas esse é o Principal pesquisador de harvard sobre cidades. E eu tento buscar um pouco em cada país, com zero de preconceito.
Polêmico e recheado de informações, Glaeser tem idéias com as quais não concordo. Creio que ele não compreende o papel que o estado pode ter na diminuição das desigualdades, dentre outras questões. Divergências a parte (e não são poucas) ele traz um eixo central: as cidades se desenvolvem economicamente a partir de seu capital humano. Traça um paralelo estonteante entre Detroit e Nova york. Detroit a grande cidade de Ford e Detroit que perde milhares de habitantes/ano. Detroit com
Menor escolaridade. Nova York e sua rápida recuperação pós fim da industria têxtil, Nova York que pensa os carros e as roupas do mundo. Pensa. Investe em capital humano. Investe em educação.
Achei realmente bárbaro o pensamento de Glaeser que cidades são palco de conversas/encontros entre pessoas e que a tecnologia se desenvolve em espaços de contato interpessoal. Ou seja, contato humano é vital para o desenvolvimento de tecnologias que dispensam contato humano.
Glaeser está longe de ser um quase guru como jan gehl. Mas tem boas contribuições. Sobretudo no tema do desenvolvimento econômico de cidades.
---------
Segunda-feira assistirei uma palestra dele e serei debatedora. Depois comento aqui.
---------
Na amazon.com é fácil e nem tão caro comprar o livro dele.
Hoje terminei as extensas 300 páginas de "triumph of the city", do Edward Glaeser. Foi desafiador voltar a ler em inglês, mas esse é o Principal pesquisador de harvard sobre cidades. E eu tento buscar um pouco em cada país, com zero de preconceito.
Polêmico e recheado de informações, Glaeser tem idéias com as quais não concordo. Creio que ele não compreende o papel que o estado pode ter na diminuição das desigualdades, dentre outras questões. Divergências a parte (e não são poucas) ele traz um eixo central: as cidades se desenvolvem economicamente a partir de seu capital humano. Traça um paralelo estonteante entre Detroit e Nova york. Detroit a grande cidade de Ford e Detroit que perde milhares de habitantes/ano. Detroit com
Menor escolaridade. Nova York e sua rápida recuperação pós fim da industria têxtil, Nova York que pensa os carros e as roupas do mundo. Pensa. Investe em capital humano. Investe em educação.
Achei realmente bárbaro o pensamento de Glaeser que cidades são palco de conversas/encontros entre pessoas e que a tecnologia se desenvolve em espaços de contato interpessoal. Ou seja, contato humano é vital para o desenvolvimento de tecnologias que dispensam contato humano.
Glaeser está longe de ser um quase guru como jan gehl. Mas tem boas contribuições. Sobretudo no tema do desenvolvimento econômico de cidades.
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Segunda-feira assistirei uma palestra dele e serei debatedora. Depois comento aqui.
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Na amazon.com é fácil e nem tão caro comprar o livro dele.
Código florestal e a sexta-feira...
Sexta-feira a presidenta Dilma deve anunciar o seu posicionamento sobre o código florestal. Tenho acompanhado de perto - por ser deputada federal - cada momento dessa batalha. Soube hoje que a tendência é que ela faça um veto parcial. É essa posição que julgamos, eu e meu partido, a mais justa e responsável.
O projeto é uma obra complexa, vivemos momentos tensos. Julgo que o texto do senado foi produzido num momento de maior acordo aproveitando debates começados na câmara. Quem está aqui sabe que é assim que funciona: câmara e senado se corrigem, complementam. Por isso votei a favor do texto do senado. Muitos viam o sim no painel e não entendiam que o sim representava sim ao texto equilibrado, aprovado por PCdoB, PT, PMDB, PDT, PTB, PP. Ou seja, um texto mais consensual.Tenho certeza que a presidenta - mulher firme, convicta, estudiosa e defensora do desenvolvimento e da sustentabilidade (e não de um ou outro) tomará a melhor decisão para o Brasil e para o Rio Grande.
*(Abaixo, reproduzo matéria com nosso presidente nacional expondo sua opinião sobre o veto presidencial)
Quinta, 10 de Maio de 2012 às 09h 05Deborah Moreira
O projeto é uma obra complexa, vivemos momentos tensos. Julgo que o texto do senado foi produzido num momento de maior acordo aproveitando debates começados na câmara. Quem está aqui sabe que é assim que funciona: câmara e senado se corrigem, complementam. Por isso votei a favor do texto do senado. Muitos viam o sim no painel e não entendiam que o sim representava sim ao texto equilibrado, aprovado por PCdoB, PT, PMDB, PDT, PTB, PP. Ou seja, um texto mais consensual.Tenho certeza que a presidenta - mulher firme, convicta, estudiosa e defensora do desenvolvimento e da sustentabilidade (e não de um ou outro) tomará a melhor decisão para o Brasil e para o Rio Grande.
----------------Sigo com a mesma preocupação de anos: o código florestal trabalha com poucos temas urbanos. Mesmo a versão do senado. As cidades são as verdadeiras responsáveis pela degradação ambiental. É preciso assumir as responsabilidades e propor soluções.
*(Abaixo, reproduzo matéria com nosso presidente nacional expondo sua opinião sobre o veto presidencial)
Quinta, 10 de Maio de 2012 às 09h 05Deborah Moreira
Da redação do Vermelho
Pelo veto parcial do Código Florestal
O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, defendeu nesta quarta-feira (9) o veto a alguns pontos do Código Florestal, como a exclusão da definição sobre as faixas de áreas de preservação permanente (APPs) a serem recuperadas nas margens dos rios. Rabelo lembra que, antes das alterações propostas pelo relator, o deputado Paulo Piau (PMDB-MG), que agradaram aos ruralistas, as diversas forças políticas, incluindo o PCdoB, tinham acordado um texto no Senado.
“O texto do Senado era referência para nós. Ele foi construído sobre o texto original da Câmara e conquistou o apoio de uma maioria.”, ponderou o presidente do PCdoB.
(...)
"Veta Dilma"
O assunto ganhou destaque e vem gerando grandes discussões e até manifestações de diversos setores da sociedade como o “Veta, Dilma”, que vem ganhando adesões. Para o presidente da legenda comunista, é preciso equilibrar desenvolvimento com sustentabilidade, levando em conta as condições reais de quem produz no país.
“Agora, cabe a presidente Dilma avaliar e ponderar o que prejudica o desenvolvimento e a sustentabilidade. Se algo criará problemas de degradação ao meio ambiente é claro que a presidente tem toda a autoridade para interferência”, completou Renato Rabelo.
(...)
terça-feira, 22 de maio de 2012
Deixem a Xuxa falar.
Não sou fã da Xuxa. Não flerto com o sensacionalismo da mídia. Mas fiquei surpreendida com as reações de diversos setores da sociedade à entrevista concedida por ela no Fantástico. Detalhes da vida privada a parte, Xuxa revelou que foi vítima de abuso sexual quando adolescente. E para mim doeu ouvir "até hoje acho que a culpada sou eu".
Alguns duvidaram, disseram que era "golpe de marketing", outros que ela precisava denunciar abusadores e não falar sobre o tema, outros disseram que ela transbordava falsidade no depoimento. Uniu a muitos, entretanto, o sentimento forte de responsabilização da vítima, de julgamento da vítima.
Três ponderações: 1) estive com Xuxa uma única vez, Na ocasião em que eu presidia a Comissão de direitos humanos da Câmara. Lá em Brasília ela emprestava sua visibilidade para a campanha "não bata, eduque". Uma loucura o impacto de seu trabalho nessa área. se mil vezes a tivesse ao lado na luta contra violência, mil vezes agradeceria por dar visibilidade para pauta que a grande mídia desconhece.
Achei irônico que ela aparece o dia todo na TV e não causa reação nenhuma. Na vez que toca em tema tão importante é hostilizada. Hein?
2) para quem atua na área de Direitos humanos a confissão de sentimento de culpa pela violência sofrida é quase um atestado de veracidade. Por que? Porque a sociedade faz com que crianças e mulheres sintam-se responsáveis pelo abuso sofrido. Sedutora, assanhada, jeitinho de p_ _ _, assim dizem. E infelizmente, a repercurssão debochada, irônica de muitos confirmou a tese. Independente da reação da vítima, se teve medo e calou, se gritou, se ... Vítima é vítima!!!
3) falar sobre isso é duro. Não sei as razões de Xuxa. Coragem? Vontade de ajudar a outros? Cansada de esconder a vida? Sei lá. Nem sei assimilar o que a vida dessa mulher. Sei que é muito bom para quem luta contra a exploração de mulheres que ela fale, que a sociedade debata, que se tire da escuridão crianças violentadas dentro de casa. a maior parte dos abusos são idênticos ao dela: dentro de casa, gente conhecida, anos de dor e silêncio, vítima sentindo-se culpada.
Vamos deixar os dogmas/ preconceitos de lado? Xuxa usou o horário mais nobre da Globo para dar luz ao drama de algumas milhares de crianças e mulheres. Eu agradeço.
Deixem a Xuxa falar. Deixem as "xuxas" falar sem serem culpadas por isso.
--------
O disque 100 recebeu 220 mil ligações depois do depoimento de Xuxa. Ou seja, fez efeito.
Alguns duvidaram, disseram que era "golpe de marketing", outros que ela precisava denunciar abusadores e não falar sobre o tema, outros disseram que ela transbordava falsidade no depoimento. Uniu a muitos, entretanto, o sentimento forte de responsabilização da vítima, de julgamento da vítima.
Três ponderações: 1) estive com Xuxa uma única vez, Na ocasião em que eu presidia a Comissão de direitos humanos da Câmara. Lá em Brasília ela emprestava sua visibilidade para a campanha "não bata, eduque". Uma loucura o impacto de seu trabalho nessa área. se mil vezes a tivesse ao lado na luta contra violência, mil vezes agradeceria por dar visibilidade para pauta que a grande mídia desconhece.
Achei irônico que ela aparece o dia todo na TV e não causa reação nenhuma. Na vez que toca em tema tão importante é hostilizada. Hein?
2) para quem atua na área de Direitos humanos a confissão de sentimento de culpa pela violência sofrida é quase um atestado de veracidade. Por que? Porque a sociedade faz com que crianças e mulheres sintam-se responsáveis pelo abuso sofrido. Sedutora, assanhada, jeitinho de p_ _ _, assim dizem. E infelizmente, a repercurssão debochada, irônica de muitos confirmou a tese. Independente da reação da vítima, se teve medo e calou, se gritou, se ... Vítima é vítima!!!
3) falar sobre isso é duro. Não sei as razões de Xuxa. Coragem? Vontade de ajudar a outros? Cansada de esconder a vida? Sei lá. Nem sei assimilar o que a vida dessa mulher. Sei que é muito bom para quem luta contra a exploração de mulheres que ela fale, que a sociedade debata, que se tire da escuridão crianças violentadas dentro de casa. a maior parte dos abusos são idênticos ao dela: dentro de casa, gente conhecida, anos de dor e silêncio, vítima sentindo-se culpada.
Vamos deixar os dogmas/ preconceitos de lado? Xuxa usou o horário mais nobre da Globo para dar luz ao drama de algumas milhares de crianças e mulheres. Eu agradeço.
Deixem a Xuxa falar. Deixem as "xuxas" falar sem serem culpadas por isso.
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O disque 100 recebeu 220 mil ligações depois do depoimento de Xuxa. Ou seja, fez efeito.
sábado, 19 de maio de 2012
Amor de vó
Para mim a força da vida se faz presente em muitos e diferentes momentos. Hoje estava na vila Planetário e um senhor veio falar comigo. Trabalhava no prédio em que minha avó morava. A minha avó do texto "a saudade mata a gente, morena". Chorei quando ele falou nela.Peguei o celular e olhei a data. Exatos cinco anos da sua morte. E ela sempre dá um jeito de se fazer presente.Eu te amo, vozinha.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
A Comissão da Verdade
Essa semana vivi um momento histórico e que me emocionou muito: a instalação da Comissão da Verdade. Primeiro, pela a emoção da presidenta Dilma, que enfrentou a ditadura, sofreu a violência da época e jamais desistiu da luta pela democracia. Ela emocionou todos nós com seu discurso: mesclou o resgate histórico muito rico com a emoção de quem sobreviveu e hoje ocupa o posto mais importante do país.
Segundo, porque Dilma reconheceu o papel de cada ex-presidente da nossa recente democracia no caminho daquele dia. Ao lado de todos os ex-presidentes vivos, ela destacou os passos de cada um no rumo da consolidação da Comissão. O nosso encontro com a verdade é fruto do trabalho de cada um deles e Dilma demonstrou sua generosidade ao reconhecer isso publicamente.
Terceiro, porque fiquei orgulhosa por fazer parte da Legislatura que ajudou a tornar a Comissão uma realidade e por ter a certeza de estamos caminhando sob a luz da verdade e da transparência.
Alguns perguntam se a Comissão terá resultados ou, ainda, se é revanchismo. Eu acredito que ao permitir o encontro do brasileiro com sua história, estaremos livres de repetir os erros do passado. Acredito, também, que negar ao povo brasileiro o direito de conhecer sua história é compactuar com a injustiça. Mais, os principais objetivos da Comissão são esclarecer casos de graves violações de direitos humanos, em especial os episódios de torturas, mortes, desaparecimentos e a autoria desses crimes, em especial nos anos de chumbo.
A Comissão é, também, o primeiro passo para que seja feita justiça a Vladimir Herzog, Frederico Eduardo Mayr, Rubens Paiva, Osvaldo Costa, aos guerrilheiros do Araguaia e aos milhares de brasileiros anônimos que foram torturados e deram suas vidas lutando pela democracia.
Como disse a presidenta, lembrando Ulisses Guimarães, “a verdade não desaparece quando é eliminada a opinião dos que divergem. A verdade não mereceria este nome se morresse quando censurada”. Que saibamos valorizar esse dia, pois verdade e transparência são parte significativa da consolidação do Estado Democrático.
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Fiquei muito feliz, também, por ter reencontrado o presidente Lula, por poder abraçá-lo e ver que está mais forte. Lula nos mostrou que era possível mudar e deu aos brasileiros a autoestima que precisávamos para mudar o curso da nossa história.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
“Já pesei 100 kg. É claro que o ‘musa do Congresso’ me ofende”
Entrevista da revista Marie Claire comigo, por Letícia González
A deputada Manuela D’Ávila, 30 anos, tinha 22 quando foi eleita vereadora pela primeira vez. Hoje no segundo mandato como deputada federal, ela é pré-candidata a prefeita de Porto Alegre e, caso siga à frente nas pesquisas, será a primeira mulher a assumir o cargo na capital gaúcha – além de a mais jovem. Conversamos com Manuela sobre sua história, política e machismo.
Marie Claire – Em entrevista à Marie Claire, a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet disse que as roupas de uma política chamam mais a atenção do que o que ela fala. Concorda?
Manuela D’Ávila –Totalmente. Nos ambientes de destaque a mulher é muito valorada pelo que ela é fisicamente. Eu me elegi deputada federal com 25 anos e era a única parlamentar jovem a não ter o sobrenome de uma família tradicional na política brasileira. Mas, ao invés desse fato chamar atenção, [fui chamada de] “musa do Congresso”.
MC – O apelido de “musa do Congresso” a incomodou?
MA –O que as pessoas não sabem é que até os meus 17 anos eu fui gorda. Pesei 100 kg. Então aprendi desde cedo que o que está por fora não vale nada e ninguém vai me convencer que eu consigo alguma coisa porque sou bonita ou deixo de conseguir porque sou feia. O “musa do Congresso” era dito de maneira totalmente pejorativa e me incomodou, sim. Tanto quanto me chateava ser chamada de elefoa na escola.
MC – Como emagreceu?
MA – Copiei a dieta de reeducação alimentar da minha irmã e segui. É muito difícil comer menos, mas é a única maneira de fazer isso. Acho um absurdo mulheres saudáveis que precisam perder 40 kg, como eu precisava, optarem por cirurgia bariátrica. É muita irresponsabilidade.
MC – Já deixou a vaidade de lado para se provar séria?
MA – Com 22 anos a gente pensa em morrer pela causa. Depois entende que precisa estar vivo para a causa ser realizada.
MC – O que possibilidade de ser a primeira mulher a assumir a prefeitura de Porto Alegre significa para você?
MA – Na sociedade, as mulheres são empresárias, ocupam cargos de chefia, chegaram a todos os postos. Mas na política ainda não. Sou deputada num congresso que tem 513 deputados e só 42 são mulheres. É um ambiente muito machista e fechado. Na semana passada, um jornalista conhecido disse na rádio que eu deveria ter “algum outro atributo” além da minha capacidade política para seduzir os parlamentares do jeito que eu seduzia. Sabe quantas vezes tive de respirar para não ligar para esse senhor e perguntar exatamente o que ele estava sugerindo? Eu ainda me surpreendo.
MC – O desafio de assumir a prefeitura assusta?
MA – Não. Gosto muito da frase [da escritora Clarice Lispector]: “tenho medos bobos e coragens absurdas”. Eu deixo o meu medo para barata.
MC – Qual é o maior problema feminino hoje? Como uma mulher no poder pode enfrentá-lo?
MA – A violência é o maior deles, em Porto Alegre ou no Afeganistão. No poder, as mulheres têm o sonho do projeto e a sintonia com a vida real.
MC – Qual foi a maior dificuldade de ser eleita tão jovem?
MA – Ficar longe das minhas pessoas quando fui para Brasília. Percebi que não ia ter ninguém para conversar quando chegasse em casa, se ficasse doente ou se quisesse dividir minhas angústias. Telefone não é vida real.
MC – Como sua família reagiu quando você concorreu pela primeira vez?
MA – A minha mãe torcia para que eu fizesse uns 130 votos, o número de amigos que ela calculava que eu tinha. Na primeira campanha, a única faixa com o meu nome foi presente da minha mãe. Me elegi vereadora com 9,5 mil votos.
MC – Sonhava em ser política quando era pequena?
MA – Não, sonhava em veterinária. Depois, queria ser professora.
MC – E em casar e ter filhos?
MA – Sempre sonhei em ter filhos, mas nunca em casar na igreja. Mas vou casar na igreja! Meu namorado (o chefe de gabinete da secretaria de turismo do Rio Grande do Sul e professor de ioga Rodrigo Maroni) me convenceu. Se eu não fosse candidata, nos casaríamos ainda em 2012. Mas agora vai depender do resultado da eleição. Se eu for eleita, adiaremos novamente.
MC – Qual é o seu momento mais mulherzinha?
MA – Me maquiar 100% no carro. Faço isso todos os dias.
MC – Você é filiada ao PCdoB desde o início da sua carreira. Acha que o comunismo funciona?
MA – Acredito no que eu entendo por comunismo, que é a crença de que a sociedade pode ser justa. Se me perguntares se ele já funcionou alguma vez, não preciso nem responder. É não.
MC – Desde 2011, você é vice-líder do governo no Congresso e tem uma postura de apoio amplo. Falta autocrítica?
MA – Consigo diferenciar muito o projeto que eu defendo de pessoas que erram. A presidente Dilma tem um norte, ela segue um projeto, e as pessoas não são maiores do que ele. Os episódios de corrupção têm de ser radicalmente apurados, mas não devem parar o país. Eu tenho críticas, sim. Faço uma crítica permanente há mais de dois anos à ministra da cultura (Ana de Hollanda). Ela tem uma visão de cultura de um tempo que já passou, é elitista.
MC – Como vê a legalização do aborto?
MA – Primeiro de tudo, acho uma grande infelicidade que no Brasil isso seja tratado como um assunto das mulheres. Porque não é. É tema de saúde pública. Tivemos um grande avanço há quinze dias quando foi reconhecido o direito de vida das mulheres (em 12 de abril, o STF decidiu que não é mais crime o aborto de fetos anencéfalos no Brasil). Eu tenho a posição de todas as mulheres do Brasil: ninguém quer fazer um aborto. Mas se ele tem que ser feito, como no caso dos anencéfalos, que ele seja feito com dignidade.
MC – E no caso de ser uma vontade da mulher?
MA – Acho que o Brasil tem que discutir isso. Defendo que as pessoas têm o direito de viver com dignidade e fazer as suas escolhas, mas acho que o Brasil precisa ainda debater muito isso.
sábado, 12 de maio de 2012
Feliz dia das mães
Minha mãe me ensinou a acreditar no amor e na força que ele tem. Minha mãe me ensinou a ver que as pessoas, todas elas, são cheias de virtudes e cheias de defeitos. Foi ela tambem que me ensinou a tolerância e a flexibilidade são as marcas dos fortes de caráter. Os fracos gritam. Os fortes escutam. Minha mãe me ensinou que a vida pode ser reinventada pois ela o fez!
Ela me ensinou que pessoas se comunicam com os olhos. Mas ela consegue ir além: sentir como estamos - nós, os 5 filhos - do outro lado do mundo. Sei lá se é intuição, premonição ou qualquer outro "ão" o nome disso. Sei que existe e que ela tem.
Existe uma única pessoa no mundo que sempre sabe como estou. Sem twitter, email, telefone, olhares ou sinal de fumaça. Minha mãe. Talvez isso aconteça pelo sinal idêntico que temos no peito. Não sei. Sei apenas que a amo muito.
A todas as mulheres que se comunicam de maneira magica com os seus filhos, a todas as mães, saúde e paz.
------------
Não me lembro de um dia sequer de minha vida adulta em que eu tivesse dúvidas sobre ter filhos. Sempre os desejei. Ocorre que a vida nem sempre nos permite ter tudo e eu abri mão, até hoje, para me dedicar a tentar melhorar primeiro minha cidade (fui vereadora) e depois o país. Talvez muito motivada pela idéia de melhorar, transformar o mundo que meus filhos viverão.
Fato é que esse domingo ainda não é meu dia. Espero que seja um dos últimos...
Ela me ensinou que pessoas se comunicam com os olhos. Mas ela consegue ir além: sentir como estamos - nós, os 5 filhos - do outro lado do mundo. Sei lá se é intuição, premonição ou qualquer outro "ão" o nome disso. Sei que existe e que ela tem.
Existe uma única pessoa no mundo que sempre sabe como estou. Sem twitter, email, telefone, olhares ou sinal de fumaça. Minha mãe. Talvez isso aconteça pelo sinal idêntico que temos no peito. Não sei. Sei apenas que a amo muito.
A todas as mulheres que se comunicam de maneira magica com os seus filhos, a todas as mães, saúde e paz.
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Não me lembro de um dia sequer de minha vida adulta em que eu tivesse dúvidas sobre ter filhos. Sempre os desejei. Ocorre que a vida nem sempre nos permite ter tudo e eu abri mão, até hoje, para me dedicar a tentar melhorar primeiro minha cidade (fui vereadora) e depois o país. Talvez muito motivada pela idéia de melhorar, transformar o mundo que meus filhos viverão.
Fato é que esse domingo ainda não é meu dia. Espero que seja um dos últimos...
sábado, 5 de maio de 2012
A saudade mata a gente morena
Uma das maravilhas da vida é ter lindas lembranças. Lembro perfeitamente a imagem de minha avó cantando: "fiz meu rancho na beira do rio, meu amor foi comigo morar e nas noites na beira do rio, meu bem me abraçava pra me agasalhar... A saudade mata a gente, morena....". Essa música alegrou muitos natais, viradas de ano, muitas separações em viagens e despedidas entre nós. Quando ela morreu, naquele dia, a música fez um sentido danado. Durante 26 anos foi motivo de riso a dor da saudade cantada. E eu a senti apenas quando ela morreu.
Hoje, ao entrar no Asilo padre cacique, encontrei o coral cantando essa música. Não a ouvia há anos. Os olhos encheram de lagrimas de saudade. De lembranças. A saudade não mata. A saudade do que é lindo faz a vida doer um pouco, mas ser mais bela.
Hoje, ao entrar no Asilo padre cacique, encontrei o coral cantando essa música. Não a ouvia há anos. Os olhos encheram de lagrimas de saudade. De lembranças. A saudade não mata. A saudade do que é lindo faz a vida doer um pouco, mas ser mais bela.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Qual a pergunta certa?
Queridos leitores,
É natural que em momentos de disputas eleitorais existam tensões entre partidos e candidaturas. Entretanto, em minha avaliação, esses tensionamentos devem ser reais.
Tenho visto de maneira sistemática alguns militantes de outra candidatura questionarem minha postura, minhas alianças. Acredito que esse não seja o melhor caminho. E não o é por que julgo que as verdadeiras questões a serem respondidas não residem no esforço que meu partido faz para ampliar a sustenção de minha candidatura. Até porque o esforço que fazemos tem base num programa de governo sólido e buscamos a base de Dilma e Lula. Buscamos a bAse do querido Jairo Jorge em Canoas. Buscamos e tenham certeza NADA temos a ofertar que não programa. Não temos cargo nenhum. A pergunta que deve ser respondida é, em minha Opinião, a que fiz em 5/12/11 aqui no blog. Questionam minha aliança? Ok. Respondam então aos seus e meus e nossos a pergunta abaixo. E lembro, caros companheiros, não criem distâncias irreais entre nós. Não repitam 2008. Lembrem quem em 2010 superou 2008 e construiu a unidade que nos levou a sonhada vitória. Somos juntos Dilma e Tarso. Faço um convite a vocês: vamos discutir nossa cidade?
Abaixo reproduzo artigo de dezembro/2011
Qual a diferença entre 2010 e 2012?
O ano de 2011 vai chegando ao fim. Deixará para o próximo algumas reflexões sobre o processo político em nossa capital e em nosso Estado.
Na política, esse é um ano prensado entre outros dois: 2010 (ano em que uma frente política de unidade da esquerda, com discurso amplo venceu as eleições para Estado) e 2012 (ano em que essa frente será testada em sua capacidade de manter-se unida).
Eleições são espaço de apresentação de projeto, programa e posicionamento político.
O que justifica a existência de uma candidatura de oposição é o projeto, o posicionamento, a visão de que a administração tem limites. Ou seja, é uma visão crítica. Alguns fazem e recebem críticas como se fossem "intocáveis".
As críticas - quando de natureza política, e não pessoais - justificam os diferentes projetos. Se não por isso, qual a razão da existência de uma candidatura? "Protagonismo" do partido e/ou pragmatismo.
Se o projeto político é consistente, ele deve ser maior que esses dois aspectos.
Em 2008, apesar de termos o mesmo diagnóstico sobre a administração Fogaça/Fortunati, não conseguimos unificar nosso posicionamento político, nem o projeto para a cidade.
Já em 2010, a história foi diferente: PCdoB e PSB retiraram uma candidatura viável ao governo do RS, por achar que poderíamos construir um novo ciclo para o Estado com a candidatura de Tarso Genro.
Nossos partidos não tiveram, é evidente, o mesmo protagonismo do PT. Mas vencemos a eleição, pois superamos tudo o que julgávamos MENOR do que a necessidade de retomar o desenvolvimento do Estado, aproveitando o bom momento do Brasil.
O que mudou entre 2010 e 2012? Essa é a questão a ser respondida pelos partidos que elegeram Tarso.
O projeto? Seguimos acreditando na unidade da esquerda, ampliando para todos que se identifiquem com um programa que supera limites da atual administração? O programa ou posicionamento político?
Não temos unidade na avaliação dos limites da atual gestão? Não temos clareza que, independente do partido do atual prefeito, há um projeto, em curso em Porto Alegre, conflitante com o nosso?
Se as premissas são essas, o que nos distancia são as menores questões. Ou não?
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Lembro que anticomunismo também é manifestação ideológica
Entrevista que me emocionou
Essa entrevista me deixou muito emocionada.
Ela foi militante política nos anos 70, presa, torturada e teve o pai assassinado por um militar. Anos depois, tornou-se ministra da Defesa e presidenta do Chile. Hoje, defende os direitos das mulheres na Organização das Nações Unidas e sabe, de perto, como é enfrentar preconceitos
Por Marina Caruso. Foto: Nancy Coste (corbis)
Na psicologia, a capacidade de superar traumas e sair fortalecido deles chama-se resiliência. A palavra, também usada para definir o potencial de um objeto de retomar sua forma depois de uma deformação, encaixa-se bem à ex-presidenta do Chile, Michelle Bachelet, 61 anos. Atual diretora-executiva da ONU Mulheres — braço das Nações Unidas criado para combater a violência e a desigualdade de gênero — Michelle expandiu os limites da resiliência. Tranformou os próprios traumas em algo melhor para si e para os outros. Depois de ser presa e ter o pai, o brigadeiro Alberto Bachelet, assassinado durante a ditadura, formou-se em medicina e pós-graduou-se nas Forças Armadas e na Academia de Políticas Estratégicas do Chile. “Precisava disso para entender a ditadura que levou à morte 40 mil chilenos”, diz. Mãe de três filhos (Sebástian, 33, Francisca, 28, e Sofia, 19) e separada duas vezes (uma do arquiteto Jorge Dávalos e outra do epidemiologista Aníbal Henriquez), Michelle foi a primeira mulher a ocupar o Ministério da Defesa e, depois, a Presidência da República em um país onde até pouco tempo atrás nem o divórcio era permitido.
De passagem pelo Brasil para a Terceira Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, ela conversou com Marie Claire em diferentes momentos: no Palácio do Planalto, em Brasília, no morro do Cantagalo, no Rio, e no hotel em que esteve hospedada. Em todos eles — abraçando uma líder comunitária ou cumprimentando com beijinhos a presidenta Dilma — sorriu com gentileza. Prova de que é perfeitamente possível ser firme “sin perder la ternura”.
MARIE CLAIRE A senhora e a presidenta Dilma têm histórias parecidas: foram militantes políticas, presas, torturadas e ministras. No que são diferentes?
MB Identifico mais semelhanças do que diferenças. Como eu, Dilma é uma mulher de resultados. Une a capacidade de sonhar alto ao pragmatismo que, para os gregos nada mais era do que a capacidade de realizar sonhos. Temos ideais, mas queremos ações que melhorem a vida das pessoas. Por mais parecidas que sejam, as pessoas têm sempre algo que as diferencia. Eu não sei dançar samba, por exemplo, já ela (risos)...
MC Quais são os maiores problemas femininos no mundo e como ter uma mulher na presidência favorece enfrentá-los?
MB Os maiores problemas são os abusos sexuais, a violência doméstica, a baixa participação política e a falta de autonomia financeira. Há apenas 20 chefas de Estado entre os 194 países da ONU. Mas isso está mudando. Na América Latina já temos três presidentas e duas primeiras-ministras. O Brasil criou a lei Maria da Penha — uma das maiores conquistas femininas do último século — e hoje tem nove ministras, ou seja, 27% dos cargos. No mundo, isso não passa de 19%. Aqui ocupamos pastas importantes como Planejamento (Miriam Belchior), a Articulação Política (Ideli Salvatti) e a Casa Civil (Gleisi Hoffmann).
MC Uma menina de 14 anos foi abusada por um soldado brasileiro da tropa de paz da ONU no Haiti. O que a ONU Mulheres faz contra isso?
MB O (secretário geral das Nações Unidas) Ban ki-Moon já disse ter tolerância zero com esse comportamento. E tem que ter mesmo. Agora, acho uma pena que a imprensa dê mais destaque a esse tipo de assunto do que às coisas boas que as missões de paz têm feito.
MC Temos de cobrar respostas...
MB Até por causa disso (dos abusos) acho que é tão importante a presença feminina nas tropas de paz. Quanto mais mulheres nas missões, menos abusos. Mas o problema da violência de gênero é muito maior: 80% das vítimas de tráfico são mulheres. E, ainda hoje, morre uma mulher por minuto, no mundo, em decorrência de complicações na hora do parto ou de abortos clandestinos.
MC No Chile, um de seus grandes feitos foi a lei 20.348, que estimulava empresas a pagarem salários iguais para homens e mulheres com a mesma função. No Brasil, a diferença ainda é de 35%. Como podemos mudar isso?
MB Para implantar leis como essa, é preciso olhar a constituição do país. Não se pode chegar e dizer “agora todo mundo é obrigado a pagar salários iguais para homens e mulheres”. Quando assumi o governo, queria uma lei que obrigasse as empresas a fazerem isso, mas seria inconstitucional . Então, criei uma lei que bonificava quem o fizesse. O hiato diminuiu bem (de 40% para 15%, segundo os analistas).
MC Hillary Clinton disse que, por ser mulher, prestam mais atenção na sua roupa e no seu penteado do que nos discursos que faz. A senhora já sentiu isso?
MB Claro! E de todas maneiras imagináveis, desde que era candidata. Nas prévias, a oposição dizia que era a disputa da morena elegante (a senadora Soledad Alvear)com a loira gordinha. Queriam me diminuir afirmando que eu tinha o apoio do povo porque era simpática, não competente. Se me emocionasse fazendo um discurso e ficasse com olhos cheios d’água, era porque eu era histérica, não sabia controlar as emoções. Já meu antecessor, era um “homem muito sensível”. Eu sempre a era a gorda malvestida. E os homens mais cheinhos, eram os fortes, poderosos. Quando entrei para o governo, uma das coisas que mais me impressionou foi um artigo de uma revista feminina dizendo: “Inacreditável: a presidenta do Chile usou o mesmo vestido duas vezes na mesma semana”. Me chocou profundamente. Como jornalistas mulheres não são solidárias? Você acha que eu tinha tempo para pensar se tinha ou não usado aquela roupa na semana? Estava tentando mudar um país!
MC Houve momentos em que a senhora sentiu a clássica culpa feminina por estar longe da família?
MB A clássica culpa feminina? (irônica) Nunca a conheci (gargalhando). É claro que sim! No entanto, uma vez, quando era presidenta, disse isso em uma entrevista e o título virou. “A presidenta sente culpa”. Tomo cuidado para isso não acontecer de novo... mas, para sua revista posso dizer que tenho os mesmos sentimentos de culpa de qualquer mãe que se mata para encontrar equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho. Fui ministra por seis anos, candidata por um e presidenta por quatro. Dou aos meus filhos todo direito de reclamar. Mas eles me apoiam muito. Quando o presidente Ricardo Lagos me convidou para ser ministra, pediu que eu fosse até o seu apartamento para conversarmos. Eu estava com um problema no braço e pedi ao meu filho que me levasse. No caminho, disse: “Olha, é possível que me ofereçam um cargo importante, mas fique tranquilo porque os ministros da Saúde nunca duram mais que dois ou três anos no poder” (risos). Mal sabíamos nós que depois viriam o Ministério da Defesa e a Presidência. Mas ele e as meninas sempre me deram força. Até nessa vinda para Nova York (onde fica a sede da ONU Mulheres) disseram “Adiante, mamãe, adiante”. Ainda que com o peito apertado, sei que sentem orgulho de mim. Orgulho e saudade, essa palavra maravilhosa que a língua portuguesa criou para designar o vazio que é “sentir falta”.
MC O que, na sua história de vida, a senhora diria que mais contribuiu para a formação de sua personalidade?
MB Uma família extraordinária, com um pai militar muito carinhoso, que acreditava na força das mulheres e sabia que o casamento não era o único futuro possível para elas. Isso, com muito amor e uma educação de princípios e disciplina, forma uma pessoa bem estruturada. Na minha mamadeira, junto do leite, vinha a palavra responsabilidade (risos). Sempre fui muito responsável e isso tem a ver com o ambiente em que cresci.
MC Pais militares tendem a ser mais duros, mas a senhora se refere ao seu como carinhoso. Como ele reagia às suas artes de criança?
MB Meu pais nunca me bateram. Nunca levantaram a mão para mim ou para o meu irmão. Agora, apesar ser boa filha e boa aluna, desde menina, eu tinha personalidade. Era contestadora. Perguntava o tempo todo o porquê das coisas. E não aceitava ouvir “porque sim” e “porque não”. Queria que me explicassem as leis e as lógicas de tudo, até a exaustão. Para mim força não é sinônimo de autoritarismo. É sinônimo de saber convencer, explicar, se fazer entender.
MC Quantos anos a senhora tinha quando seu pai morreu?
MB Tinha 22 ou 23. Estava no quarto ano de medicina, no estágio de cirurgia no hospital José Joaquim Agurré, que pertence à Universidade do Chile. Vi o chefe da cirurgia vindo até mim. Achei estranho, porque chefes nunca dão bola para alunos. Mas, depois dele, veio a minha mãe, com uma cara terrível. Os dois me levaram para o canto e deram a notícia de que meu pai, que estava preso a mando de Pinochet, morreu na prisão. Foi impressionante (emociona-se), uma dor muito grande. Não tinha ido à última visita na cadeia, porque tive uma coisa importante para fazer do outro lado da cidade. Ou seja, mesmo indo a todas as visitas — geralmente às quartas e sábados — não pude me despedir. Ele foi preso no dia do golpe, em 11 de setembro 1973 e morreu 12 de março de 1974. Era brigadeiro das Forças Aéreas e não se conformava em estar preso como se fosse inimigo da nação. Justo ele, que a vida toda se dedicou ao Exército, foi acusado de traição à patria por tentar respeitar a Constituição, quando Pinochet fazia exatamente o contrário, desrespeitava.
MC Onde a senhora estava no dia 11 de setembro de 1973?
MB Eu era militante estudantil e tinha decidido dormir na Faculdade de Medicina por causa dos rumores de que iam invadí-la. Era um momento complicado no Chile. Liguei para os meus pais, expliquei o que acontecia e disse que no dia seguinte iria para casa e conversaríamos. Minha mãe, arqueóloga aposentada, conta que às quatro da manhã, tocou o telefone lá em casa. Era um colega seu dizendo: “Há rumores de um golpe de Estado. O que o seu marido sabe sobre isso?”. Ela acordou meu pai assustada. Mas a resposta dele foi: “Mande esse idiota voltar para cama. Um golpe de Estado, no Chile? Impossível ”. Para ele, que acreditava piamente no Exército e na Constituição, isso não existia. Golpe de Estado era coisa dos bolívares, de outros países da América Latina, não do Chile. Nós chilenos, sempre nos achamos a Suíça da América do Sul, né? Então, para os suíços, um golpe era algo totalmente fora de cogitação. Foi um misto de ingenuidade com traição. Sabendo que meu pai não participaria do golpe, seus colegas de farda o deixaram de fora e o apunhalaram (por causa dos maus-tratos sofridos na prisão, Alberto Bachelet sofreu um infarto).
MC A senhora e sua mãe foram presas por serem consideradas “ameaças socialistas” ao governo de Pinochet. Depois, passaram quatro anos exiladas na Alemanha. Como foi esse período? Diria que foi o pior momento da sua vida?
MB Sem dúvida, foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Não só por mim, mas por tudo: o golpe, a morte do meu pai e de amigos queridos, a perseguição, o exílio, a quebra dos ideais de toda uma geração. Ainda assim fiquei no Partido Socialista. Até que, ao meio-dia do dia 10 de janeiro de 1975, os homens da DINA (Direção da Inteligência Nacional) apareceram na minha casa, vendaram a mim e a minha mãe e nos levaram à Villa Grimaldi, principal centro de tortura do Chile (Bachelet mostra-se desconfortável em falar sobre o tema, mas, segundo sua biografia, ela e a mãe teriam sido separadas e submetidas a interrogatórios e agressões físicas). Um mês depois, conseguimos sair do país. Primeiro, fomos para a Austrália e, em seguida, para a Alemanha.
MC Como foi a volta do exílio?
MB Fomos morar no mesmo apartamento em que vivíamos antes, só que nesse mesmo edifício passou a viver um dos conhecidos torturadores da Villa Grimaldi. Era horrível encontrar com ele no elevador, na garagem. Minha mãe mais de uma vez disse: “Sei bem quem é o senhor, viu? Eu te conheci na Villa Grimaldi!”. Ele abaixava a cabeça, dava um jeito de desviar da gente, sentia-se tremendamente desconfortável. Mas ele foi preso e nesse momento está na cadeia.
MC Mesmo tendo sido torturada pelos militares, a senhora estudou estratégia militar no Chile e fez uma pós-graduação em defesa continental no Forte Leslie McNair, em Washington. Por que isso?
MB Me formei em medicina (na Faculdade de Humboldt, durante o exílio em Berlim, de 1975 a 1979) com especialização em pediatria e saúde pública. Depois, fiz um curso de seis meses na Academia Nacional de Políticas Estratégicas do Chile e ganhei uma bolsa para fazer essa pós nos EUA. Percebi que o golpe de 1973 tinha a ver com a falta de diálogo entre o mundo político e o militar. No início dos anos 90, quando nunca imaginava que pudesse ser ministra ou presidenta, passei a me perguntar o que eu, pessoal mente, poderia fazer para evitar que o país repetisse seus erros. Eu me cobrava isso, precisava ajudar os outros a não passarem pelo que eu passei. No caso do Chile, a melhor maneira de fazer isso era estudando o Exército (Como ministra da Defesa, ela aumentou o contingente de mulheres nas tropas e de militares nas missões de paz, conseguiu melhores salários e aproximou as Forças Armadas das vítimas da ditadura).
MC Mesmo mulheres fortes têm seus momentos de fragilidade. Quais são os seus? O que a faz chorar? Qual foi a última vez?
MB Não lembro exatamente qual foi a última vez. Mas o que mais me faz chorar é a injustiça. Ver uma mulher ou uma criança serem maltratadas me destrói. É indescritível minha sensação de impotência ao ver que mesmo a sociedade tendo evoluído tanto, ainda morrem de fome 12 crianças por minuto... isso é horrível. E não é o pior. Estatísticas não mostram a cara.Ver de perto a violência é muito mais doloroso. Me comovi profundamente com o que vi no Quênia: bebês desnutridos nos braços das mães, como se já não pertencessem a esse mundo (embarga a voz). Não podemos levantar da cama todos os dias pensando no que está acontecendo de pior. Mas admito que muitas vezes isso acontece comigo.
MC E o amor? Já a fez chorar?
MB No passado, várias vezes (risos). Na verdade, algumas (recompondo-se). Faz tempo que estou sem companheiro. Mas tomei uma decisão: “Se o amor chegar, chegou. Não vou ficar procurando”.
MC Como é a relação da senhora com seus ex-maridos?
MB Somos muito amigos. Para mim, o mais importante era que os meninos estivessem bem. E filhos só ficam bem quando sabem que seus pais também estão.
MC Diria que é uma boa avó?
MB Sou uma avó ausente (risos). Fico em Nova York e os meninos no Chile. Mas leio e gravo histórias para eles sempre que posso. Depois, peço que meu filho coloque para que eles ouçam, assim não se esquecem da voz e do carinho da avó. Sou um dinassouro tecnológico, mas uma das minhas resoluções de ano novo é dominar o skype, assim, além de falar com eles, poderei vê-los.
MC Como é sua vida em NY?
MB É 100% trabalho. Viajo muito e fico pouco em casa. Moro sozinha, em um apartamento com vista para o rio, e me levanto cedo. Vou caminhando para a ONU e sempre compro um café para viagem. No pouco tempo livre, adoro ouvir música e cozinhar.
Reportagem da Revista Marie Claire
Ela foi militante política nos anos 70, presa, torturada e teve o pai assassinado por um militar. Anos depois, tornou-se ministra da Defesa e presidenta do Chile. Hoje, defende os direitos das mulheres na Organização das Nações Unidas e sabe, de perto, como é enfrentar preconceitos
Por Marina Caruso. Foto: Nancy Coste (corbis)
Na psicologia, a capacidade de superar traumas e sair fortalecido deles chama-se resiliência. A palavra, também usada para definir o potencial de um objeto de retomar sua forma depois de uma deformação, encaixa-se bem à ex-presidenta do Chile, Michelle Bachelet, 61 anos. Atual diretora-executiva da ONU Mulheres — braço das Nações Unidas criado para combater a violência e a desigualdade de gênero — Michelle expandiu os limites da resiliência. Tranformou os próprios traumas em algo melhor para si e para os outros. Depois de ser presa e ter o pai, o brigadeiro Alberto Bachelet, assassinado durante a ditadura, formou-se em medicina e pós-graduou-se nas Forças Armadas e na Academia de Políticas Estratégicas do Chile. “Precisava disso para entender a ditadura que levou à morte 40 mil chilenos”, diz. Mãe de três filhos (Sebástian, 33, Francisca, 28, e Sofia, 19) e separada duas vezes (uma do arquiteto Jorge Dávalos e outra do epidemiologista Aníbal Henriquez), Michelle foi a primeira mulher a ocupar o Ministério da Defesa e, depois, a Presidência da República em um país onde até pouco tempo atrás nem o divórcio era permitido.
De passagem pelo Brasil para a Terceira Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, ela conversou com Marie Claire em diferentes momentos: no Palácio do Planalto, em Brasília, no morro do Cantagalo, no Rio, e no hotel em que esteve hospedada. Em todos eles — abraçando uma líder comunitária ou cumprimentando com beijinhos a presidenta Dilma — sorriu com gentileza. Prova de que é perfeitamente possível ser firme “sin perder la ternura”.
MARIE CLAIRE A senhora e a presidenta Dilma têm histórias parecidas: foram militantes políticas, presas, torturadas e ministras. No que são diferentes?
MB Identifico mais semelhanças do que diferenças. Como eu, Dilma é uma mulher de resultados. Une a capacidade de sonhar alto ao pragmatismo que, para os gregos nada mais era do que a capacidade de realizar sonhos. Temos ideais, mas queremos ações que melhorem a vida das pessoas. Por mais parecidas que sejam, as pessoas têm sempre algo que as diferencia. Eu não sei dançar samba, por exemplo, já ela (risos)...
MC Quais são os maiores problemas femininos no mundo e como ter uma mulher na presidência favorece enfrentá-los?
MB Os maiores problemas são os abusos sexuais, a violência doméstica, a baixa participação política e a falta de autonomia financeira. Há apenas 20 chefas de Estado entre os 194 países da ONU. Mas isso está mudando. Na América Latina já temos três presidentas e duas primeiras-ministras. O Brasil criou a lei Maria da Penha — uma das maiores conquistas femininas do último século — e hoje tem nove ministras, ou seja, 27% dos cargos. No mundo, isso não passa de 19%. Aqui ocupamos pastas importantes como Planejamento (Miriam Belchior), a Articulação Política (Ideli Salvatti) e a Casa Civil (Gleisi Hoffmann).
MC Uma menina de 14 anos foi abusada por um soldado brasileiro da tropa de paz da ONU no Haiti. O que a ONU Mulheres faz contra isso?
MB O (secretário geral das Nações Unidas) Ban ki-Moon já disse ter tolerância zero com esse comportamento. E tem que ter mesmo. Agora, acho uma pena que a imprensa dê mais destaque a esse tipo de assunto do que às coisas boas que as missões de paz têm feito.
MC Temos de cobrar respostas...
MB Até por causa disso (dos abusos) acho que é tão importante a presença feminina nas tropas de paz. Quanto mais mulheres nas missões, menos abusos. Mas o problema da violência de gênero é muito maior: 80% das vítimas de tráfico são mulheres. E, ainda hoje, morre uma mulher por minuto, no mundo, em decorrência de complicações na hora do parto ou de abortos clandestinos.
MC No Chile, um de seus grandes feitos foi a lei 20.348, que estimulava empresas a pagarem salários iguais para homens e mulheres com a mesma função. No Brasil, a diferença ainda é de 35%. Como podemos mudar isso?
MB Para implantar leis como essa, é preciso olhar a constituição do país. Não se pode chegar e dizer “agora todo mundo é obrigado a pagar salários iguais para homens e mulheres”. Quando assumi o governo, queria uma lei que obrigasse as empresas a fazerem isso, mas seria inconstitucional . Então, criei uma lei que bonificava quem o fizesse. O hiato diminuiu bem (de 40% para 15%, segundo os analistas).
MC Hillary Clinton disse que, por ser mulher, prestam mais atenção na sua roupa e no seu penteado do que nos discursos que faz. A senhora já sentiu isso?
MB Claro! E de todas maneiras imagináveis, desde que era candidata. Nas prévias, a oposição dizia que era a disputa da morena elegante (a senadora Soledad Alvear)com a loira gordinha. Queriam me diminuir afirmando que eu tinha o apoio do povo porque era simpática, não competente. Se me emocionasse fazendo um discurso e ficasse com olhos cheios d’água, era porque eu era histérica, não sabia controlar as emoções. Já meu antecessor, era um “homem muito sensível”. Eu sempre a era a gorda malvestida. E os homens mais cheinhos, eram os fortes, poderosos. Quando entrei para o governo, uma das coisas que mais me impressionou foi um artigo de uma revista feminina dizendo: “Inacreditável: a presidenta do Chile usou o mesmo vestido duas vezes na mesma semana”. Me chocou profundamente. Como jornalistas mulheres não são solidárias? Você acha que eu tinha tempo para pensar se tinha ou não usado aquela roupa na semana? Estava tentando mudar um país!
MC Houve momentos em que a senhora sentiu a clássica culpa feminina por estar longe da família?
MB A clássica culpa feminina? (irônica) Nunca a conheci (gargalhando). É claro que sim! No entanto, uma vez, quando era presidenta, disse isso em uma entrevista e o título virou. “A presidenta sente culpa”. Tomo cuidado para isso não acontecer de novo... mas, para sua revista posso dizer que tenho os mesmos sentimentos de culpa de qualquer mãe que se mata para encontrar equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho. Fui ministra por seis anos, candidata por um e presidenta por quatro. Dou aos meus filhos todo direito de reclamar. Mas eles me apoiam muito. Quando o presidente Ricardo Lagos me convidou para ser ministra, pediu que eu fosse até o seu apartamento para conversarmos. Eu estava com um problema no braço e pedi ao meu filho que me levasse. No caminho, disse: “Olha, é possível que me ofereçam um cargo importante, mas fique tranquilo porque os ministros da Saúde nunca duram mais que dois ou três anos no poder” (risos). Mal sabíamos nós que depois viriam o Ministério da Defesa e a Presidência. Mas ele e as meninas sempre me deram força. Até nessa vinda para Nova York (onde fica a sede da ONU Mulheres) disseram “Adiante, mamãe, adiante”. Ainda que com o peito apertado, sei que sentem orgulho de mim. Orgulho e saudade, essa palavra maravilhosa que a língua portuguesa criou para designar o vazio que é “sentir falta”.
MC O que, na sua história de vida, a senhora diria que mais contribuiu para a formação de sua personalidade?
MB Uma família extraordinária, com um pai militar muito carinhoso, que acreditava na força das mulheres e sabia que o casamento não era o único futuro possível para elas. Isso, com muito amor e uma educação de princípios e disciplina, forma uma pessoa bem estruturada. Na minha mamadeira, junto do leite, vinha a palavra responsabilidade (risos). Sempre fui muito responsável e isso tem a ver com o ambiente em que cresci.
MC Pais militares tendem a ser mais duros, mas a senhora se refere ao seu como carinhoso. Como ele reagia às suas artes de criança?
MB Meu pais nunca me bateram. Nunca levantaram a mão para mim ou para o meu irmão. Agora, apesar ser boa filha e boa aluna, desde menina, eu tinha personalidade. Era contestadora. Perguntava o tempo todo o porquê das coisas. E não aceitava ouvir “porque sim” e “porque não”. Queria que me explicassem as leis e as lógicas de tudo, até a exaustão. Para mim força não é sinônimo de autoritarismo. É sinônimo de saber convencer, explicar, se fazer entender.
MC Quantos anos a senhora tinha quando seu pai morreu?
MB Tinha 22 ou 23. Estava no quarto ano de medicina, no estágio de cirurgia no hospital José Joaquim Agurré, que pertence à Universidade do Chile. Vi o chefe da cirurgia vindo até mim. Achei estranho, porque chefes nunca dão bola para alunos. Mas, depois dele, veio a minha mãe, com uma cara terrível. Os dois me levaram para o canto e deram a notícia de que meu pai, que estava preso a mando de Pinochet, morreu na prisão. Foi impressionante (emociona-se), uma dor muito grande. Não tinha ido à última visita na cadeia, porque tive uma coisa importante para fazer do outro lado da cidade. Ou seja, mesmo indo a todas as visitas — geralmente às quartas e sábados — não pude me despedir. Ele foi preso no dia do golpe, em 11 de setembro 1973 e morreu 12 de março de 1974. Era brigadeiro das Forças Aéreas e não se conformava em estar preso como se fosse inimigo da nação. Justo ele, que a vida toda se dedicou ao Exército, foi acusado de traição à patria por tentar respeitar a Constituição, quando Pinochet fazia exatamente o contrário, desrespeitava.
MC Onde a senhora estava no dia 11 de setembro de 1973?
MB Eu era militante estudantil e tinha decidido dormir na Faculdade de Medicina por causa dos rumores de que iam invadí-la. Era um momento complicado no Chile. Liguei para os meus pais, expliquei o que acontecia e disse que no dia seguinte iria para casa e conversaríamos. Minha mãe, arqueóloga aposentada, conta que às quatro da manhã, tocou o telefone lá em casa. Era um colega seu dizendo: “Há rumores de um golpe de Estado. O que o seu marido sabe sobre isso?”. Ela acordou meu pai assustada. Mas a resposta dele foi: “Mande esse idiota voltar para cama. Um golpe de Estado, no Chile? Impossível ”. Para ele, que acreditava piamente no Exército e na Constituição, isso não existia. Golpe de Estado era coisa dos bolívares, de outros países da América Latina, não do Chile. Nós chilenos, sempre nos achamos a Suíça da América do Sul, né? Então, para os suíços, um golpe era algo totalmente fora de cogitação. Foi um misto de ingenuidade com traição. Sabendo que meu pai não participaria do golpe, seus colegas de farda o deixaram de fora e o apunhalaram (por causa dos maus-tratos sofridos na prisão, Alberto Bachelet sofreu um infarto).
MC A senhora e sua mãe foram presas por serem consideradas “ameaças socialistas” ao governo de Pinochet. Depois, passaram quatro anos exiladas na Alemanha. Como foi esse período? Diria que foi o pior momento da sua vida?
MB Sem dúvida, foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Não só por mim, mas por tudo: o golpe, a morte do meu pai e de amigos queridos, a perseguição, o exílio, a quebra dos ideais de toda uma geração. Ainda assim fiquei no Partido Socialista. Até que, ao meio-dia do dia 10 de janeiro de 1975, os homens da DINA (Direção da Inteligência Nacional) apareceram na minha casa, vendaram a mim e a minha mãe e nos levaram à Villa Grimaldi, principal centro de tortura do Chile (Bachelet mostra-se desconfortável em falar sobre o tema, mas, segundo sua biografia, ela e a mãe teriam sido separadas e submetidas a interrogatórios e agressões físicas). Um mês depois, conseguimos sair do país. Primeiro, fomos para a Austrália e, em seguida, para a Alemanha.
MC Como foi a volta do exílio?
MB Fomos morar no mesmo apartamento em que vivíamos antes, só que nesse mesmo edifício passou a viver um dos conhecidos torturadores da Villa Grimaldi. Era horrível encontrar com ele no elevador, na garagem. Minha mãe mais de uma vez disse: “Sei bem quem é o senhor, viu? Eu te conheci na Villa Grimaldi!”. Ele abaixava a cabeça, dava um jeito de desviar da gente, sentia-se tremendamente desconfortável. Mas ele foi preso e nesse momento está na cadeia.
MC Mesmo tendo sido torturada pelos militares, a senhora estudou estratégia militar no Chile e fez uma pós-graduação em defesa continental no Forte Leslie McNair, em Washington. Por que isso?
MB Me formei em medicina (na Faculdade de Humboldt, durante o exílio em Berlim, de 1975 a 1979) com especialização em pediatria e saúde pública. Depois, fiz um curso de seis meses na Academia Nacional de Políticas Estratégicas do Chile e ganhei uma bolsa para fazer essa pós nos EUA. Percebi que o golpe de 1973 tinha a ver com a falta de diálogo entre o mundo político e o militar. No início dos anos 90, quando nunca imaginava que pudesse ser ministra ou presidenta, passei a me perguntar o que eu, pessoal mente, poderia fazer para evitar que o país repetisse seus erros. Eu me cobrava isso, precisava ajudar os outros a não passarem pelo que eu passei. No caso do Chile, a melhor maneira de fazer isso era estudando o Exército (Como ministra da Defesa, ela aumentou o contingente de mulheres nas tropas e de militares nas missões de paz, conseguiu melhores salários e aproximou as Forças Armadas das vítimas da ditadura).
MC Mesmo mulheres fortes têm seus momentos de fragilidade. Quais são os seus? O que a faz chorar? Qual foi a última vez?
MB Não lembro exatamente qual foi a última vez. Mas o que mais me faz chorar é a injustiça. Ver uma mulher ou uma criança serem maltratadas me destrói. É indescritível minha sensação de impotência ao ver que mesmo a sociedade tendo evoluído tanto, ainda morrem de fome 12 crianças por minuto... isso é horrível. E não é o pior. Estatísticas não mostram a cara.Ver de perto a violência é muito mais doloroso. Me comovi profundamente com o que vi no Quênia: bebês desnutridos nos braços das mães, como se já não pertencessem a esse mundo (embarga a voz). Não podemos levantar da cama todos os dias pensando no que está acontecendo de pior. Mas admito que muitas vezes isso acontece comigo.
MC E o amor? Já a fez chorar?
MB No passado, várias vezes (risos). Na verdade, algumas (recompondo-se). Faz tempo que estou sem companheiro. Mas tomei uma decisão: “Se o amor chegar, chegou. Não vou ficar procurando”.
MC Como é a relação da senhora com seus ex-maridos?
MB Somos muito amigos. Para mim, o mais importante era que os meninos estivessem bem. E filhos só ficam bem quando sabem que seus pais também estão.
MC Diria que é uma boa avó?
MB Sou uma avó ausente (risos). Fico em Nova York e os meninos no Chile. Mas leio e gravo histórias para eles sempre que posso. Depois, peço que meu filho coloque para que eles ouçam, assim não se esquecem da voz e do carinho da avó. Sou um dinassouro tecnológico, mas uma das minhas resoluções de ano novo é dominar o skype, assim, além de falar com eles, poderei vê-los.
MC Como é sua vida em NY?
MB É 100% trabalho. Viajo muito e fico pouco em casa. Moro sozinha, em um apartamento com vista para o rio, e me levanto cedo. Vou caminhando para a ONU e sempre compro um café para viagem. No pouco tempo livre, adoro ouvir música e cozinhar.
Reportagem da Revista Marie Claire
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Twitter, justiça e eleições
Hoje tive acesso a informação da decisão do juiz eleitoral de Porto Alegre sobre o uso do twitter. Como muitos sabem recebi duas notificações de decisões do judiciário. A primeira ordenava que eu retirasse dois perfis do twitter por, em tese, serem campanha eleitoral antecipada. Não me recordo os nomes mas sei que faziam menção à candidatura a prefeitura. Mobilizamos a rede e, por serem perfis com posicionamento favorável a mim - conseguimos retira-los do ar. Eram fakes ingênuos que nem sequer manifestavam de maneira permanente apoio a mim. Cogitava, inclusive, que poderiam ser adversários que guardavam o nome de usuário para, na hora certa, me atacar. Pois bem, como defensora da liberdade na internet jamais entrei com ações judiciais para a retirada de materiais virtuais a meu respeito: nem os favoráveis não ativos, nem os pejorativos (que até hoje lotam as redes sociais e espaços de vídeos virtuais). Tampouco o juiz ordenou a retirada ou investigação de autoria sobre materiais que atingem, inclusive, minha honra.
Mas não ingresso na justica por convicção. Inclusive convicção que, se é possível localizar autores, não é justo e correto que a Policia Federal (policia responsável pelos crimes eleitorais) seja envolvida em atos tão pequenos frente ao combate da pedofilia, racismo etc virtuais.
Ok. Passada a informação da retirada, o êxito da retirada dos perfis com mobilização virtual, achei que a trama kafkaniana tivesse acabado. Eis que somos multados! Multados por perfis fakes. Ok. Vamos recorrer com o argumento obvio que o juiz ordene a investigação para descobrir autores já que a legislação brasileira é claríssima quanto a presunção da inocência.
Eis que leio a decisão judicial e descubro que, por o perfil ter UMA VEZ feito uma menção com direto ao meu perfil do twitter, no ano passado, o juiz entende que eu fui omissa por não pedir o seu bloqueio. Ceus!!!!! Que loucura! Entendo agora que de cada um dos militantes da candidatura X quiserem prejudicar Y, basta fazer um perfil favorável a Y e dizer: "oi Y". pronto. Multa de 5 mil reais. Será que o juiz sabe como funciona o twitter, quantas menções recebo num dia? Eu perco o meu tempo denunciando quem defende pedofilia, racismo, homofobia. Não com quem fala oi.
É preciso que o TSE faça algo concreto para que não ocorra mais uma vez, a exemplo de 2008, a punição de quem usa a internet.
Fui uma das mais ativas legisladoras para a liberação da rede nas campanhas. Milito pelo marco civil. Mas, para tanto, faço uso de pessoas que sabem mais que eu, que entendem, que estudam. Apelo para o judiciário que tenha bom senso e faça o mesmo. Senão, vocês estimularão a milhares de pessoas montarem a seguinte equação: ajudar a alguém é a melhor maneira de prejudicar esse alguém.
Mas não ingresso na justica por convicção. Inclusive convicção que, se é possível localizar autores, não é justo e correto que a Policia Federal (policia responsável pelos crimes eleitorais) seja envolvida em atos tão pequenos frente ao combate da pedofilia, racismo etc virtuais.
Ok. Passada a informação da retirada, o êxito da retirada dos perfis com mobilização virtual, achei que a trama kafkaniana tivesse acabado. Eis que somos multados! Multados por perfis fakes. Ok. Vamos recorrer com o argumento obvio que o juiz ordene a investigação para descobrir autores já que a legislação brasileira é claríssima quanto a presunção da inocência.
Eis que leio a decisão judicial e descubro que, por o perfil ter UMA VEZ feito uma menção com direto ao meu perfil do twitter, no ano passado, o juiz entende que eu fui omissa por não pedir o seu bloqueio. Ceus!!!!! Que loucura! Entendo agora que de cada um dos militantes da candidatura X quiserem prejudicar Y, basta fazer um perfil favorável a Y e dizer: "oi Y". pronto. Multa de 5 mil reais. Será que o juiz sabe como funciona o twitter, quantas menções recebo num dia? Eu perco o meu tempo denunciando quem defende pedofilia, racismo, homofobia. Não com quem fala oi.
É preciso que o TSE faça algo concreto para que não ocorra mais uma vez, a exemplo de 2008, a punição de quem usa a internet.
Fui uma das mais ativas legisladoras para a liberação da rede nas campanhas. Milito pelo marco civil. Mas, para tanto, faço uso de pessoas que sabem mais que eu, que entendem, que estudam. Apelo para o judiciário que tenha bom senso e faça o mesmo. Senão, vocês estimularão a milhares de pessoas montarem a seguinte equação: ajudar a alguém é a melhor maneira de prejudicar esse alguém.