Quando transformamos algo em rotina perdemos a capacidade de ver a magia. Eu passo muito tempo em aeroportos. Para mim, é chegar, correr, o café, um livro, o bilhete eletrônico, a identidade, o detector de metais, o painel, o embarque. De madrugada, durmo antes da decolagem. Em vôos diurnos, devoro um livro.
Mas quem não sentiu ou viu as alegrias e tristezas dos embarques e desembarques? Meses separados: o reencontro. Dias juntos: a despedida. Filhos que vão em busca do emprego, pais que lamentam a distância e comemoram o sucesso. Aeroportos são, portanto, também, espaços do contraditório.
Gostar de alguém é, normalmente, motivo para alegria. Só gosta quem está vivo (internamente). Despedir-se de quem se gosta é, em contrapartida, triste. Não conheço um pai que não comemore a promoção do filho. E também desconheço um que não chore ao vê-lo embarcar. Os aeroportos, assim como as rodoviárias, são espaços de enorme concentração de dor no estômago.
Dor no estômago? Sim. Aquela dor que sentimos quando estamos em contradição.
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