quarta-feira, 5 de maio de 2010

Dica de cinema


Martha Medeiros escreve muito melhor do que eu. Assisti a esse flme de Woody Allen e confesso que gostei. A crônica de Martha é a versão bem escrita de minha opinião.


Tudo pode dar certo

Uns acharam bom, outros acharam ruim, e assim é a vida, todos opinam aqui e ali, e eu serei apenas mais uma a palpitar sobre o recente filme de Woody Allen. É possível que você concorde comigo e estaremos em sintonia, ou você irá discordar, engrossando a turma dos que acham que Woody Allen não é mais o mesmo, ou você talvez sempre tenha considerado Woody Allen um chato de galochas, ou vai ver nem sabe quem é esse tal de Woody Allen, e nada disso mudará uma única fagulha no curso do universo.
O monólogo de abertura de Tudo Pode Dar Certo, com Larry David no papel do mal-humorado Boris, traz esse espírito fatalista. Segundo ele, nada tem muito sentido, a sorte é que manda no jogo, e se ao menos facilitássemos as coisas para tornar nossos dias mais suportáveis, mas fazemos justamente o contrário. “As pessoas tornam a vida pior do que é preciso”, reclama o protagonista.
Na contramão da crítica especializada, pra mim Woody Allen está cada vez melhor, se não como cineasta, ao menos como filósofo. Tem se revelado mais debochado e mais leve, como convém a um homem inteligente que está chegando aos 75 anos e que aprendeu que só o que nos cabe na vida é não fazer mal aos outros e usufruir da melhor maneira a honra de ter nascido.
Desta vez, Woody Allen foi fundo na caricatura. Mostra um personagem ranzinza que fracassa em suas duas tentativas de suicídio, uma loirinha desmiolada, uma senhora careta que reavalia seus conceitos e “se reinventa”, um príncipe encantado cujo único atrativo é ser bonitão e um pai de família temente a Deus que descobre que é um gay enrustido. “Às vezes, os clichês são a melhor forma de dizer as coisas”, alerta Boris ainda no início do filme.
Quando assisti, em 2003, a Igual a Tudo na Vida, lembro de ter comentado que Woody Allen havia se dado alta. E sigo com a mesma impressão. Em seus filmes anteriores, mais ricos e consistentes em questionamentos existenciais, o diretor parecia dizer: “Não há cura”. Em sua resignada fase atual, ele parece dizer: “Não há doença”. O diretor está apenas confirmando que não temos nenhum domínio sobre os mistérios que nos rondam e sobre as experiências nunca testadas. Então, não importa o que façamos, o risco de dar certo é o mesmo de dar errado, e, até quando parece que dá errado, funciona. Qualquer coisa funciona. Até um Woody Allen clichê.

1 comentários:

Camila disse...

Em outras palavras e com todo respeito: a Martha é fod... ela escreve MUIIITO.

Parabéns, Deputada.