quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sem cigarro

Ao largar o cigarro perdi aquele mau cheiro. Ganhei mais fôlego e alguns quilos. Mas os ambientes feitos para nós fumantes, (sim, somos para sempre um pouco mesmo quando somos ex) é o que mais me faz falta!
Quanto amigos deixei no fumódromo! Como pude os abandonar?! Aqueles cinco minutos, várias vezes ao dia, me fez amiga de tantos colegas! Me fez confidenciar com amigas em algumas portas de estabelecimentos com fumo proibido.
Ganhei muito ao largar o cigarro.
Mas perdi tempo para fazer amigos e conversar com eles.
No nosso mundo tempo livre vira trabalho. O tempo de cada um desses cigarros virou trabalho.
Ganhei trabalho, perdi amigos.

Antídoto

Antídotos para todos os venenos. Assim deve ser a luta daqueles que não querem esmorecer. O dia aqui não foi fácil ontem. Mais do que a cassação de um mandato em si, aquilo responderia ao anseio da sociedade por um congresso mais representativo. Mas não cabe a mim ir para casa. Cabe seguir lutando. E meu antídoto de hoje foi conhecer a jovem comunista chilena Camila Vallejo, dirigente das grandes movimentações políticas no Chile no último período. Uma menina que põe milhares nas ruas pela educação pública. E a conheci numa manhã de sol em que estudantes lotaram Brasília por mais recursos para educação.
Então, a cada veneno dado, quem luta por mais justiça social precisa de um antídoto: nosso antídoto é a própria luta.

Útero

Sentara-se no sofá como se fosse o único lugar, seu único canto no mundo. Cobrira-se com tanta coberta que sentiu-se no calor do útero. Ou naquilo que imaginava ser o útero: o lugar do nada. De um nada agradável. Nada de esforço, nada de pensamento, apenas os órgãos, os sentidos. Apenas as sensações. Parou. Permaneceu assim durante todo o dia de domingo. Olhava sem ver, falava sem pensar. Estática.
Nutrindo-se daquilo que o útero poderia lhe dar de maior: amor.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

War

Tirada a carta resta lutar para alcançar o objetivo.  Conquistar a Oceania e a Europa ou a África e a América do Sul, por exemplo. Inspirado em "war", o jogo. Só pode. Assim tem sido meus dias. Uma sucessão de objetivos distintos que se seguem. Seguem-se de maneira tão veloz que nenhum, isoladamente, consegue me exaurir.
Mas todos juntos tem me levado a loucura.  

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

o que mais me fez feliz

À Manuela

Querida filha, foi as sete e dezoito do dia dezoito de oito de oitenta e um que, entre aturdida e emocionada pelo milagre da Vida, vi saíres de dentro de mim.
Não sou diferente das outras mães, chorei , choravas, olhavas o mundo (que te recebia pela primeira vez) com os mesmos olhos vivos e espantados de sempre.
São passados trinta anos, hoje é o teu aniversário, leio teu BLOG e passeio por tuas reflexões de mulher-menina.
Não me importa o que a ONU classifique como jovem, para mim, para nós, as mães, os filhos serão sempre crianças, nossas crianças, e não será diferente contigo, és a menina Manu, que hoje fala de saudades e de memórias.
Naquela manhã fria de agosto, dia do teu nascimento, não tinhas, por certo, tantas memórias. Não, ao menos, a memória de hoje, quando trazes à tona e ao verbo coisas tuas e nossas, da nossa vida em família, dos nossos sonhos, das nossas brigas, dos teus irmãos, das nossas perdas.
Naquela fria manhã eu pensava nas palavras do parteiro – sim, do parteiro – e me perguntava por que tanto aturdimento ante os números da tua data.
“Sete e dezoito do dia dezoito de oito de oitenta e um”, ele expandiu-se, maravilhado.
Seriam códigos?
O relógio fez cair seu ponteiro no minuto preciso em que gritaste para a vida.
É milagrosa a existência, não canso de falar, sem medo de ser piegas.
Querida filha, falas em teu blog, que, se algo pudesse te ser devolvido do que já viveste (porque nada terias por excluir, senão incluir- que bonito isso!), querias ter de novo as tardes de ambrosia de quem já não mais está aqui para fazê-la.
Fizeste-me lembrar, não sei por que, e nem se teria razão para tal, de alguma poesia de Borges, esquecida, talvez, em uma das desorganizadas gavetas das minhas reminiscências.
Eu queria, se me fosse dada a chance, poder tomar de novo em meus braços a criança daquele dezoito de agosto, há trinta anos, para mais uma vez cobri-la de amor. E, para te prenunciar que terias um futuro único, exponencial, exuberante, que brigarias por muitas coisas e por muitas gentes, que desafiarias muitos preconceitos, que rasgarias muitas bandeiras e brandiriam outras tantas, que esposarias tantos credos quanto tantas as crenças, que farias muitas pessoas chorarem de alívio, que te pautarias como a Esperança de tantas coisas já tão esquecidas, que terias a garra necessária e o espírito combativo de uma guerreira, mas, também, os olhos doces de uma Iracema; que serias apontada na rua como vedete, que granjearias, ao mesmo tempo, invejas e aplausos... Mas que, sempre, quando preciso fosse, terias o referencial que nos une e uniu durante todos os dias desses trinta anos, e que te faz tão querida e amada por nós: sejas essa mulher assediada pelas crianças que te pedem autógrafos, - porque contigo se identificam -, seja porque és tão simplesmente a Manu, minha querida Manuela, que hoje abraço, nos seus 30 anos, apertada e ternamente, com orgulho por tudo o que sempre foste e és.

Feliz aniversário!

Tua mãe,

MMM

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Pílulas de meus 30 anos IX

O melhor é quando não temos o que escrever pelas palavras não traduzirem, de maneira fiel, aquilo que sentimos.
sem palavras, meu amor.
sem palavras para teu companheirismo e amizade.
sem palavras para tua dedicação e compreensão.
sem palavras para tua companhia e ensinamentos (quanta paciência e calma...)
sem palavras por ter te reencontrado tanto tempo depois.
sem palavras.
obrigada por ter estado ao meu lado com 20 e ter voltado no final dos 20.
obrigada por estares aos 30.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pílulas de meus 30 anos VIII

Como tudo mudou quando ingressei no PCdoB.!
Sempre sonhei, fiquei indignada e fui rebelde. Sempre gostei do ser humano.
Mas foi o meu partido que transformou esses Sentimentos em atitudes.
Foi meu partido que me ensinou a amar esse país e a me ver como parte desse povo brasileiro maravilhoso.
Foi meu partido que fez meu sentimento de pena virar solidariedade. Minha rebeldia desorganizada virar ação. 
Foi meu partido que fez eu me sentir apenas mais uma. Mas mais uma com muitas contribuições a dar.
Ser comunista é uma decisão cotidiana. Uma opção que fazemos a cada dia que abrimos um pouquinho mão de nossas vidas e colocamos a vida da sociedade dentro de nós. Uma opção que fazemos quando mudamos os nossos pequenos sonhos individuais pelos grandes sonhos coletivos de transformação.
Ser comunista é simples.
É ser humano. Demasiadamente humano. 

Pílulas de meus 30 anos VII

Fazer trinta anos é aprender a não
Brincar com o tempo.
Quando perdi minha avó aprendi o aspecto negativo do tempo. O tempo que nos tortura por não voltar.
Com minhas duas sobrinhas aprendi, entretanto, seus aspectos positivos.
O tempo não volta. Mas isso tem um lado maravilhosamente surpreendente. Aprendo a cada dia com elas. Num dia não caminham, noutro correm. Num dia não falam, noutro gargalham.
Isadora e Beatriz me ensinaram um novo e diferente amor. Um amor apressado. Um amor que tem a pressa de ver tudo mudar, todos os dias. 
Minhas sobrinhas também me fizeram ter um orgulho danado de minhas irmãs. Quanta coragem. Quanto enfrentamento a limites da vida. Quanto amor brota no ventre que gera.
Obrigada gurias. Ser tia fez de mim uma pessoa melhor. Amo mais a humanidade e tenho ainda mais vontade de trabalhar para melhorar o mundo. As nossas crianças merecem. Todas as crianças merecem.

domingo, 14 de agosto de 2011

Pílulas de meus 30 anos VI

Com os amigos as lições foram  simples e importantes. Aqueles que são verdadeiros ficam conosco. Nas boas horas para rir. Nas péssimas horas para consolar. Ficam dentro de nós com mudanças que provocam, com lições de vida. Somam. São tatuagens de nossa alma. 
Aprendi também, com aqueles que se foram, que o tempo resolve a todas as questões. O tempo faz muitos mostrarem a força e a outros mostrarem as limitações.
Para minha felicidade tenho a alma coberta de tatuagens. E sei o significado de cada um desses desenhos.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Pílulas de meus 30 anos V

Adversários são sempre adversários, infelizmente. Se eles  fosse aliados eu imploraria: Por favor, me chamem de mocinha novamente! De  jovenzinha de novo!
Fazer 30 anos é pensar em como foi duro enfrentar na política o preconceito com relação a minha idade. "é bonitinha", diziam. "com
Vinte desiste desse partido", sussurravam. 
Em todos os espaços de nossa sociedade há renovação geracional e presença crescente de mulheres.  É comum vermos grandes cientistas ou empresários jovens. Trabalhadores de todas as áreas. Professores, os mestres do mundo. Na política não. Somos poucas mulheres. Quase nenhum jovem. Jovens sem sobrenome reconhecido então... 
Resisti! Cheguei aos 30! Trabalhando umas 15 horas por dia para provar que meu rostinho não era bonito e que meu cérebro funciona bem. Resisti! Sigo sonhando os mesmos sonhos de transformações na sociedade de quando tinha 16 anos! Resisti! Mostrei, com outros milhares de jovens, que somos capazes, que vamos a luta, que transformamos idéias em ações. 
Resisti e em seis dias faço trinta. Pela constituição e pela ONU deixo de ser jovem. Alô? Adversários? Dá para me ofender de jovem de novo?! Agora sou eu quem quer!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Pílulas de meus 30 anos IV

Se eu pudesse apagar uma parte de meus trinta anos seria difícil
Escolher. Mas, se Deus me realizasse um único desejo de inclusão na vida eu pediria muitas tardes, muitas ambrosias, muitos "arrenegos" a mais com minha Vó Solange.
É impossível passar pela vida sem dor. Mas quando não temos trinta anos temos uma sensação que tudo dura para sempre. E que atenderemos o telefone no outro dia, e que faremos a visita no outro dia, e que... As pessoas duram para sempre.
Mas uma hora, sem aviso prévio, elas nos abandonam. E aí, não dá mais para ligar, visitar, almoçar. E aí a gente percebe que ver os anos
passar é aprender com os erros não conscientes. É passar a curtir no dia de hoje  quem amamos. Amanhã, se tudo der certo, continuamos curtindo.
 Passei a fazer almoços em  casa para  minha Familia apenas quando minha vó Solange estava somente  na fotografia e na saudade.

CLAE

Sentada no mesmo auditório em que Che e Allende falaram (Paraninfo da Faculdade de Direito de MOntevideu), me pus a refletir sobre aquilo que eles formularam em suas vidas. O que pensariam desse mundo 50 anos depois? Como nos avaliariam? O que pensaram quando sentaram aqui onde estou?
Talvez Ficassem felizes sabendo que tantos jovens seguem lutando e sonhando com um mundo socialista.

Reflexões

"o que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou?" (Relicário, Nando Reis)

Carros incendiados na Inglaterra. As ruas de Israel tomadas pela juventude. Jovens, aos milhares, nas ruas do Chile. Mulheres com rostos cobertos questionando governos no mundo árabe. Uma marcha das vadias começa num continente e termina ocupando vários pontos do mundo. A marcha da maconha transforma-se na marcha das liberdades. 
Alguns tem grandes Causas.  Outros, bandeiras individuais. Alguns atuação organizada disputando poder político. Outros, carregam revolta não traduzida em ação coerente. 
Apesar de todas as diferenças entre esses movimentos todos sentimos: há algo de diferente no ar.
A tecnologia e, mais precisamente, a internet está inserida nessas mudanças. Por ajudar no processo de mobilização com as tão divulgadas redes sociais? Também. Mas, fundamentalmente, porque a internet auxilia no processo de construção de um novo cidadão. Mais informado mas, sobretudo, com  outra visão sobre sua participação e sobre o significado de liderança. Além dos hábitos do uso, a rede mundial de computadores construiu novos valores na sociedade. Existe um mundo analógico. Outro digital. E esses dois mundos são constituídos por cidadãos diferentes.
Se para o cidadão analógico o líder é aquele que concentra informação, para o cidadão digital a liderança é ocupada por quem compartilha informação. O analógico sabe tudo e constrói sua ação "encastelado";  o digital reconhece seus limites e atua de maneira colaborativa. O analógico é mecânico. O digital é Orgânico. Imaginem computadores pessoais fixos e tablets, orelhões ou pequenos celulares multifuncionais. Não trata-se, portanto, de questão geracional, como alguns afirmam. Seria ingênuo transformar a idade no fator central de mudanças tão profundas. Existem Jovens analógicos e senhores digitais!
O fato é que nossa sociedade e nossas instituições passam por transformações. Coexistem cidadãos analógicos e digitais. Uns questionam aos outros. E nosso dilema, de nós que optamos pela vida
Pública, é garantir que nossas instituições estejam atentas a essas transformações para manterem representatividade real. Para consolidarmos a democracia.
Talvez a grande crise econômica mundial, para além dos profundos dilemas do capitalismo, também carregue consigo um pouco disso: excesso de líderes analógicos representando aos cidadãos digitais. 

Pílulas de meus 30 anos III

Quando somos muitos, nunca somos o centro das atenções. E a bem da verdade não somos muito indivíduos. Somos como um indivíduo coletivo. 
Com meus irmãos (Somos cinco. Quatro mulheres, um homem) aprendi que nunca somos bons em tudo, sempre tem alguém melhor. Mas também nunca somos os piores em tudo.
Com meus irmãos aprendi que se quatro estivessem contra mim dificilmente eu estaria certa. Aprendi, portanto, a fazer auto-crítica. No calor das emoções (e dos puxões de cabelos que nos dávamos mutuamente na infância) aprendi a não ficar isolado. Pois no calor das emoções há muito pouca razão. Mas sempre há razão para não estar isolado.
Com meus irmãos aprendi a respeitar as diferenças e a ser tolerante. Numa casa onde uma é advogada, outra publicitária, outra atriz de teatro e circo, outra jornalista e deputada e o mais jovem historiador dá para não respeitar? 
Com eles aprendi, sobretudo, o significado da palavra amizade. Já enfrentamos um mundo juntos. Mesmo quando estávamos sozinhos, um em Sampa, outra em Floripa, outra em Dom Pedrito, sempre soubemos que tínhamos mais quatro dentro de nós. Pois numa casa em que somos muitos, nunca somos indivíduos sozinhos. Carregamos um coletivo dentro de nós. E num coletivo, quando um falha o outro ajuda.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Pílulas dos meus 30 anos II

Minha família é uma família de mulheres. Minha mãe, quatro filhas (apenas o caçula dos cinco Filhos é homem!). Mas, mesmo assim, muito do que carrego comigo, em meu cotidiano, veio de meu pai. A paixão por crianças e a cara de pau de brincar com qualquer uma na rua; as piadas sem graça com o objetivo de "testar o humor" dos outros; o hábito de não presentear em datas específicas e, de maneira absolutamente extemporânea, comprar um belo presente ou comprar tomates na feira porque lembrou que o amigo adora tomates e aqueles eram os melhores. Certamente, Carrego alguns defeitos dele também e tento não carregar outros. 
Mas, a grande lição de meu pai foi o idealismo com que construiu sua vida. Viver aquilo que acreditamos. Meu pai é um tipo que dá aulas de reforço para os alunos da faculdade   em casa.  Ou que senta-se no
chão, em frente ao ônibus lotado que vai ao campus universitário, como protesto individual. Ou
Que ajuda a criar três filhas sem nunca diferenciar de seus biológicos.
Ele acredita em mundo melhor. E me ensinou a lutar para construí-lo.
Ele é um dos culpados por minha rebeldia. Transformei em militância partidária aquilo que ele vive dentro de casa.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Pílulas dos meus 30 anos

Aprendi com minha mãe a ser corajosa. E a não abrir mão de lutar por minha felicidade. Ela me ensinou a trabalhar de maneira obsessiva. Mas sempre fazendo do trabalho algo que me realize. Quando éramos crianças, os cinco irmãos, ela assinava aos bilhetes com Ana Lucia "mmm". Mãe, magistrada e mulher. Ou seja, era um todo. Não era apenas a mãe que cuidava dos filhos, a magistrada apaixonada pela profissão ou a mulher que agarrava com unhas e Dentes as chances para ser feliz. Era tudo isso. E tudo o que ela quisesse ser.
Nesses 30 anos aprendi com ela a estar presente quando preciso e a cuidar de mim mesma quando necessário. Aprendi a amar incondicionalmente a quem me ama e lutar para que aqueles que não me gostam não estejam próximos. 
Recentemente, por problemas que eu vivia, recebi um email dela me
Recordando que aos 28 anos ainda não havia voltado para a faculdade de direito, tinha três filhas para criar, dava aulas de violão para sustenta-las. E que havia mudado tudo. Com garra.
É isso. Minha mãe me ensinou a ter garra. Coragem. Para tudo. É o que carrego comigo nesses 30 anos. E que seguirei carregando nos próximos 30.
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Hoje começarei a escrever um pouco sobre os meus 30
Anos

quarta-feira, 3 de agosto de 2011