segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Espelhos

Quando comecei a militar no Partido Comunista as pessoas perguntam como, porquê eu estava fazendo política. Hoje escuto muitas vezes me perguntarem porque não desisto. Acredito ser bastante evidente a resposta. Não desisto porque nosso país é maravilhoso, nosso povo pode viver com muito mais dignidade, porque as injustiças seguem me indignando e eu acho que posso ajudar a melhorar, que nós podemos, na luta, ajudar a melhorar.
Mas volta e meia, principalmente quando converso com bons colegas que pensam em deixar o parlamento nessas eleições, reflito sobre suas razões. E existem várias que me sensibilizam. Mas uma em especial: uma sensação de que muitas pessoas agem como se todos estivessem errados, como se ninguém prestasse, como se soubessem tudo e não fosse necessário nem sequer perguntar.
Acho que já comentei aqui de um fato que ocorreu comigo há quase três anos. Eu havia sido eleita deputada há alguns meses. A Câmara estava votando aumento de salário. Minha avó estava hospitalizada. Fiquei em Brasília todos os dias trabalhando. Ela morreu. E foi, até hoje, a pessoa mais próxima e querida minha que se foi. De um lado havia um jornalista que me ligou 17 vezes (mais ou menos isso) porque achava que eu não queria falar (eu estava no cemitério). De outro, estava eu no carro indo (sei lá) para o hospital juntar as coisas delas e ouvi um cidadão gritando: em Porto Alegre, hein? Matando trabalho... Nunca mais voto em ti.
Evidente que entendo as razões de ambos. Muitos não falam com jornalistas. Muitos matam trabalho. Mas também é preciso ver o outro lado. Nós não somos espelhos que as coisas refletem e voltam. Elas entram. Nos sensibilizam. Marcam. Como em todas as pessoas.
O problema é com os políticos ainda há explicação. Evidente que não justifica, mas explica. As pessoas tem seus reais motivos para desconfiar. Mas eu percebo isso em muitas outras relações da sociedade. Parece que nosso individualismo é tão grande que esquecemos de nos colocar no lugar das pessoas. Será que a moça do caixa do supermercado que te atendeu mal não está com algum problema? Será que o cobrador do ônibus não tem contas atrasadas ou um filho envolvido com drogas? Será que não seria tudo melhor se APENAS nos colocássemos no lugar do outro? Em minha opinião sim.
Nesse período do ano em que passou (janeiro e fevereiro) enfrentei um grande problema. E vi como as pessoas que se colocaram em meu lugar puderam me ajudar. Aprendi. E tento fazer isso sempre. Pergunto mais, problematizo mais, olho por vários ângulos. A dor ensina a gemer, diz o ditado.
Escrevo isso tudo pois na última semana precisava de ajuda para arrumar uma coisa na minha casa. O senhor veio e fez tudo errado. Confundiu tudo, demorou um dia a mais. No outro dia ele veio acompanhado do filho e percebi que ele era analfabeto. Precisou de ajuda para ler. Percebi então que eu estava irritada com algo que, se eu apenas tivesse perguntado: precisa de ajuda? não teria acontecido.
Vi também que, por mais que tenha aprendido, ainda tenho muito a caminhar. Ainda bem.

6 comentários:

Alessandra disse...

Tenho pensando e praticado sobre isso que vc escreveu, de colocar-se no lugar do outro, e tenho me arrependido menos... antes via o meu lado, queria as coisas da minha forma e a única coisa que é me estressava e reclamava mais, rs.

Outra coisa, não adianta tentar mudar as pessoas, tentar colocá-las no nosso ritmo, ou agirem como agimos. É sempre mais fácil fazer a nossa parte.

SuSi... disse...

Aí... na caminhada a gente também aprende que além de tentar se colocar no lugar do outro... também é super bom tratar os outros como a gente gostaria de ser tratado...

Com isso... "nós podemos, na luta, ajudar a melhorar." xero grande p vc! =)

Anônimo disse...

Deputada Manuela,

Não se junte ao PP. V. Exa. tem dignidade, postura ética e talento político inigualáveis. Fique no seu partido e o represente muito bem como tem feito até agora. As alianças devem ser feitas, mas com pessoas de bem.

Um abraço,

Evandro Morais

Anônimo disse...

Sra. Deputada,

Compartilho da posição do Sr. Evandro. Li os comentários sobre a sua foto na Zero Hora e fiquei indignado. Diga ao povo gaúcho que a sra. não se aliará ao PP por favor.

eder freitas lima

Anônimo disse...

Dep. Manuela,

Por favor não se junte ao PP. Entendo perfeitamente os comentários dos demais blogueiros. a sra. é inteligente, competente, capaz, digna e tem feito um trabalho enorme pelo nosso Estado. Pense duas vezes,,,três ou um milhão de vezes. Não deixe de pensar sobre essa famigerada aliança com o PP.

Maria da Graça Teixeira

Tato de Macedo disse...

Prezada Deputada,

Tens certeza mesmo que é só o idealismo que te leva a persistir na disputa por vaga nesse Congresso que aí está?

Quero dizer, as regalias, as mordomias, as viagens, o tapete vermelho sempre estendido, a não necessidade de bater ponto, suar a camisa, batalhar pelo "sal", não é levado em consideração nessas ocasiões?

Perdoe-me nobre deputada, mas não acredito. E, talvez, lá no fundo de sua consciência, creio que nem mesmo V. Exa. acredite.

Da minha parte, digo-vos pois:
http://2.bp.blogspot.com/_zDDkR-k-0xg/S1R0taO-01I/AAAAAAAAHvI/2_cuHKAsjb8/s1600-h/nrn.jpg

Felicidades!