terça-feira, 26 de março de 2013

Falta

Faltam certezas,
Sorrisos largos,
telefonemas bestas.
sonhos comuns,
Promessas quaisquer,
Crenças.
Ciúmes pretéritos,
Saudades futuras.

Acidente

Embora seja dia, ainda é noite. os faróis vermelhos dos carros mandam parar. A vida me manda parar. Tu me mandas embora, mesmo pedindo para que fique.
É noite em pleno amanhecer, os faróis vermelhos nas traseiras dos carros mandam parar. Os semáforos estão fechados. Sigo.
Chamem a polícia.
Acidente.

domingo, 24 de março de 2013

Sem fé

Sou uma mulher sem fé.
Joguei fora o terço,
Na quarta, quinta, sexta vez que bateste em minha cara com as verdades que eu não queria ouvir.
A fé tem dessas coisas.
O amor tem dessas coisas!
Sobrevive com dogmas.
Verdades absolutas!
Mentiras absolutas.
As orações perderam o nexo,
Ajoelho,
concentro.
A memória não projeta nada santo, nada puro, nenhuma deusa, nenhuma reza.
As preces trazem sons das madrugadas insones, contigo, conosco, quando juntos chegamos mais perto de Deus.
Sou uma mulher sem fé.
Temos pecados demais.
E são eles que me fazem acreditar em nós dois.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Linda Elisa Lucinda

"Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças....
Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução....
Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse....
Ah, eu sempre quis um amor que me amasse"

terça-feira, 19 de março de 2013

Excessos

O que chamas de partes,
detalhes
é essência.
Essa sou eu.

Vês copo meio vazio.
Nunca meio cheio.

Não importa que estivesse exausta,
de pé,
arrumada,
sorrindo.
depois de cuidar de tudo.
Tatuaste a piada das malas.

Sou essa alegria que te irrita.
E te irritará saber que tu és parte dessa alegria também.

És outras lembranças
Não serás teu,
nem meu,
Nem nosso.

Não consegui ser a próxima depois de mim.
irrito antes, durante e depois.
Sobro antes, durante e depois.
Falto antes, durante e depois.

A realidade chamou.
Acordei para a vida real.
É lá que vou calar,
colar os cacos de tudo que jogamos fora por me achares tão excessiva.


quarta-feira, 13 de março de 2013

Avião

"- Estou sufocada, mamãe"
"- Foi bom, bom ele ter feito isso, assim vejo bem o tipo de gente com quem estou lidando"
Escrevo pois o silêncio me angustia.
"- Estas sufocada, bonitinha? O pior é ser adulta! A gente passa a vida sufocada"
"- E não tem a mãe por perto"
"- E não tem ninguém por perto"
E o a única forma de vencer essa angústia é dizer a verdade.
"- A gente sufoca, sufoca tanto que sente até vontade de gritar!"
"- Depois de adulto? Gritar que nem criança?!"
E a verdade é que sinto uma tristeza enorme que quase me mata todos os dias.
"- sim, um grito alto de desespero."
Estou desesperada.
"-Uau. Acho que não estou sufocada, mamãe."

...

Já lhe dei meu corpo
Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água...

Chico

terça-feira, 12 de março de 2013

a pior de todas

calçou os sapatos e riscou os olhos de preto. tentava confundir a cor dos olhos, a pele insone, a maquiagem. floriu o corpo de vermelho e azul, falsamente alegrando o dia, congelou o sorriso, digitou mentiras para enganar a si, aos outros, a um universo de pessoas com quem não se importa.
engoliu o leite, a saliva, trancou o choro. ficou quieta e repassou mais uma vez tudo aquilo que havia sentido.
se os símbolos contam, todo o amor de seu corpo, estava naquele prato de comida. depois de tantos dias sem dormir, permbulando, enfrentando leões, tentando ficar bonita, cozinhou para que ficasse feliz.
não entendia que esse era a fortuna, que a mulher da foto, das fotos, havia gasto. essa era a fortuna que a havia enlouquecido.
não entendia que não era a raiva que a enfurecia: era a fragilidade do amor. de ser tão feliz por que alguém estava presente.
ele bateu a porta. foi embora. como ela nunca teve coragem de ir. a olhou com raiva e disse que era a pior de todas. de todas.
calçou os sapatos, riscou os olhos de preto. confundiu a todos. sorria um riso triste. quando deu o melhor de si, foi a pior de todas.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Cora Coralina

Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

sexta-feira, 8 de março de 2013

MMM

MMM

Minha mãe me ensinou a ser a mulher que sou quando assinava seus bilhetes com três Letras M.
Sempre nos lembrava que era nossa mãe e nos amava como tal, mesmo que fossemos cinco e déssemos trabalho como cinco e chorássemos como cinco e ficássemos doente como cinco. Não há divisão no amor materno, há apenas multiplicação. Esse é, portanto, o primeiro e óbvio M.
Mas não poderia ser somente mãe se não saísse de casa antes de nos ver acordar para trabalhar. Minha mãe que durante anos foi professora de violão para criar minhas irmãs mais velhas. Minha mãe que bordou blusas para concluir o curso de direito e que levava as filhas para a faculdade. Que enfrentou o preconceito de ser "desquitada", passou no concurso e é magistrada. Assim, surgiu o segundo M, o M de seu trabalho, a magistratura.
Mas ela também, nos ensinou, o amor materno não é exclusivo como alguns ousam em bradar. Mães não devem abrir mão de ser mulheres que abrem mão de seus sonhos de mulheres e amores e desejos e batons e lápis de olho e boca. E assim, ela nos ensinou que é também um terceiro M, M de mulher.
Obrigada, Ana MMM. Por me ensinar que nós somos mulheres. Sempre 3 em 1. Muitas em uma. Nunca uma apenas.

quinta-feira, 7 de março de 2013

E Deus me fez mulher!

Y Dios me hizo mujer,
de pelo largo,
ojos,
nariz y boca de mujer.
Con curvas
y pliegues
y suaves hondonadas
y me cavó por dentro,
me hizo un taller de seres humanos.
Tejió delicadamente mis nervios
y balanceó con cuidado
el número de mis hormonas.
Compuso mi sangre
y me inyectó con ella
para que irrigara
todo mi cuerpo;
nacieron así las ideas,
los sueños,
el instinto.
Todo lo que creó suavemente
a martillazos de soplidos
y taladrazos de amor,
las mil y una cosas que me hacen mujer todos los días
por las que me levanto orgullosa
todas las mañanas
y bendigo mi sexo.