quarta-feira, 30 de novembro de 2011

18/20

Parte 18/20

Após dois ou três emails em que ela escrevia sem dó e a outra respondia reticente, concluíram que o melhor era um encontro para colocar tudo em dia.
Marcariam.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Dica de leitura

"breve história de amor", do português Tiago Rebelo é um livro de crônicas simples sobre o cotidiano de encontros e desencontros promovidos pelo amor.
Bonito e cortante.

Abraçando a vida

O fato de minha mãe dedilhar as canções dele com perfeição  criou minhas três irmãs mais velhas. Ela era uma jovem de 28 anos, três filhas, uma faculdade de direito abandonada para casar, um "desquite" antes da lei do divórcio, um violão, um piano e muito Chico Buarque.  E muita dificuldade de Conseguir trabalho, e muita felicidade em existir. O que era uma mulher com três filhas e sem
Profissão, separada na década de 70?!? Para muitos, ela era a Geni. 

Depois, encontrou meu pai. Voltou para o curso de direito e o Chico passou a ser a roda de violão na UFRGS com os amigos - enquanto as gurias também assistiam aulas.

Quando minha mãe passou no concurso de juíz e já havíamos nascido eu e meu irmão, Chico no violão passou a ser o único eixo permanente numa vida com tantas mudanças. De cidade em cidade íamos nós. Levávamos a roda de violão com os cinco em volta onde quer que estivéssemos.

Com Anos Dourados meu pai me tirava para dançar. Com Carolina, nos revelava seu talento para a criação (mentia ser o autor) Com "rua nascimento Silva 107, você ensinando pra Elisete" ele nos fazia cantar. Com "é gente humilde com cadeiras na calçada", ele chorava. 

Com "se lembra da fogueira, se lembra dos balões" eles se separaram e nós mudamos mais uma vez de cidade.

Nós, com minha mãe, brigávamos para ser a segunda voz, o som da percussão com a boca, qualquer coisa entre ela, a letra e a música de Chico. 


Cada música marcava um tempo e uma história de minha casa.

E assim seguiu. Fomos crescendo e as músicas foram nos tatuando, ficando em nossos corpos e mentes.
Chico me formou, garantiu justiça em muitas decisões de minha mãe, inspirou peças de teatro de minha irmã. Chico é o contexto de nossas vidas/textos. 

Por isso, ontem quando o encontrei, me mantive estática pelo fato dele demonstrar saber quem eu era.

Dane-se o mundo e o padrão comportamental que julgam adequado para uma deputada federal.

Ao abraçar Chico - embasbacada -
Abracei o fato de minha mãe ter nos sustentado com seu violão e Chico. 
Abracei todos os meus domingos de criança em rodas de violão.
Abracei as brincadeiras de meu pais.
Abracei os encontros e reencontros.
Abracei a todos os que amo e que, de alguma forma, amei.
Abracei minha vida.
Minha vida. Abracei mais a minha vida do que aquele homem maravilhoso com duas bolotas azuis no lugar de olhos.

17/20

Parte 17/20

Durante muitos anos soube toda
A verdade. Sozinha. Sozinha como havia amargado a dúvida.
Nenhum dos dois, certamente, lembrava de ter compartilhado tudo com ela.

Depois de quase uma década mandou um email para ela. Deu a entender que conhecia a verdade  há alguns anos. 

Ficou surpresa quando recebeu o email. Não esperava que após tantos anos houvesse ainda tanto engasgado na garganta da amiga. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

De mãos dadas

-Mas dizes que eu reclamo o tempo todo!
- reclamas mesmo, de tudo. 

Discutia, enfaticamente, o casal pelas ruas. O detalhe revelava o futuro: de mãos dadas.  Seguiriam juntos.

16/20

Parte 16/20

Eventualmente voltava a viver com a dúvida.
Jamais contou para ninguém. Jamais a exporia a alguém ser ter certeza.
Na companhia muitos a culpavam pelo fim da amizade. Alegavam inveja por ela ter sido promovida para a televisão, no Rio de Janeiro.

Mas chegou o dia.
O dia em que reencontrou o ex-namorado na sua própria festa de aniversário.
Chegou o dia em que o encontrou bêbado a ponto de contar todos os detalhes.
Chegou um dia, um ano depois, em que a encontrou bêbada, no Rio de Janeiro.
 Bêbada  a ponto de confessar a verdade.

As histórias batiam.

domingo, 27 de novembro de 2011

Nunca mais

Não. Nunca mais escreveria, ligaria, procuraria. Nada. Havia apagado o nome dele dos contatos, riscado do caderno. Nunca mais. Never more. E avisou: nunca mais, ouviu? 
Pega o celular. Mensagem recebida. Eu te amo. Resposta enviada. Como é maravilhoso te ler por aqui.
Qualquer amor  é superior às promessas feitas quando estamos tomados pela ausência dele.

É permitido sonhar

Ninguém nos proibirá de olhar para o céu e ver a beleza do sol, Herta Muller.
Ninguém  nos proibirá de existir por dentro. E de - lá - sermos tudo aquilo o que quisermos e viver tudo aquilo que sonharmos.
Ninguém proíbe. Ninguém proibirá.

15/20

Parte 15/20

A vida seguia sempre em frente, o que se há de fazer.

Ela seguiu tendo seus relacionamentos razoavelmente estáveis. Tentou, inclusive, um relacionamento aberto. Mas não havia nascido para aquilo.

Ela seguia tendo seus relacionamentos abertos, seguia gostando de meninos e meninas, seguia tentando encontrar um amor romântico. Tentou até ter um relacionamento normal, escolhera o mais machista de todos. Não nascera para aquilo.

sábado, 26 de novembro de 2011

Amor

"Tomara que, apesar dos apesares, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz." C.FAbreu

Amor é companhia. Amor é presença, é cuidado.
Mas amor pode ser também só passado, só lembrança, só saudade, só falta.
É assim que sente-se quando lembra de quem já não vive mais. Entre nós

14/20

Parte 14/20

Muitos anos passaram, a companhia de teatro as separou e a dúvida, afinal,  não era uma grande aliada da amizade.

Por duvidar perdeu a amiga.
Perdeu também a melhor amiga, que optou pela presteza da nova amizade.
Perdeu dezenas de futuras e passadas amizades  pois simples e francamente não sabia mais como confiar.

Por não confiar ficou sozinha, mesmo acompanhada.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Hei, opa!

Tu,
Tu que aparece aqui todos os dias!
Tu que tens tanto a dizer...
Assina os comentários. Anônimos, bons ou ruins, não entram no ar!
Beijo na alma

Paz e amor

Nunca entendera como "paz e amor" tornou-se uma expressão tão popular. 
Afinal, é difícil imaginar que haja paz no amor ou amor em paz.

13/20

Parte 13/20

Ela queria saber a verdade. 
Diferente de todas as questões filosóficas sobre a verdade ou as verdades, nessa caso haveria de existir apenas uma.

Ou o ex-namorado era um grande mau caráter e não poupava destruir sua amizade para vê-la infeliz.

Ou sua amiga era mau caráter a ponto de tê-la consolado nas noites em que ficava angustiada por nunca se ter certeza quando se acaba uma relação.

Mas a verdade dependia de uma história a ser contada pelos dois, da mesma maneira. E isso, por óbvio, não era simples de acontecer.

Sentia culpa por duvidar da amiga. Sentia culpa por não acreditar em alguém com quem havia se relacionado desde adolescente

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Amizade?

Ele já havia sido cão guia quando ela ficava perdida, cega.
Agora não ouvia sequer aos barulhos. Ele desaparecera.
De cão guia à cachorro magro, quem diria.

Cerejas

Há muitos anos ela sorriu e disse: és a cereja de meu bolo.
Passou a ser o bolo inteiro. A festa de aniversário. 
Parecia incrível que nem mais a cereja fosse dele.

Dica de leitura

"hoje preferia não me ter encontrado", da escritora (vencedora do prêmio Nobel de literatura em 2009) Herta Müller não é um livro extraordinário. Mas tem passagens insuperáveis.
O escolhi pelo nome. Vivo dias em
que prefiro não me encontrar. Não tenho gostado de me olhar por dentro. O que é algo comum em todos nós. Amo curtas frases capazes de apunhalar meu coração. Quando vi esse livro, na volta da Tailândia, numa livraria em Portugal, meu coração foi apunhalado pela força de seu título. Hoje preferia não ter me encontrado, não ter me percebido, não ter me sentido. "Hojes ".
Se a história não me pareceu insuperável, algumas frases das reflexões da personagem o são. Em um dado momento, ao vagar pelas ruas, ela olha para o sol e para o céu e nos atira a seguinte reflexão: como pode existir algo tão maravilhoso quanto olhar para cima e ver essa perfeição  e ainda não existir nenhuma lei que proíba?
Obrigada Herta. Todos os dias em que as coisas estiverem difíceis, dias em que as proibições soarem mais fortes do que as liberdades, todos os dias ao olhar para o céu me lembrarei que esse sentimento ninguém pode me proibir de sentir.

Parte 12/20

Parte 12/20

Passam alguns meses, elas passam a namorar os dois amigos da mesma companhia de teatro.
Fazem  programas comuns. Mas a distância passa a ser realidade.

Há algo  no ar desde o dia em que ela pôs os pingos nos is.

Seguia atormentada por aquela frase que o namorado havia gritado no dia do ponto final: tua amiga me ligou e contou tudo. E eu saí com ela! Ouviu? Saí com ela.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

....

Para sempre?

Ausência - Vinicius De Moraes

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces...
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida...
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto...
E em minha voz, a tua voz...
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado...
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados...
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada...
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado...
Eu deixarei...
Tu irás e encostarás tua face em outra face...
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada...
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu...
Porque eu fui o grande íntimo da noite...
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa...
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço...
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado...
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos...
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir...
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves,
das estrelas,serão a tua voz presente, tua voz ausente,
a tua voz serenizada.

É assim a vida

Mensagem à Poesia

Vinicius de Moraes


Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.

Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso
reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem... – que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso.

Mas não a traí. Em meu coração
Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonhá-la. A minha ausência.
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la
Num mundo em paz. Minha paixão de homem
Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez eu deva
Morrer sem vê-Ia mais, sem sentir mais
O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
Livre e nua nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
Forças da tragédia abastecem-se sobre mim, e me impelem para a treva
Mas que eu devo resistir, que é preciso...
Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
A quem foi dado se perder de amor pelo direito
De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha de vermelho; e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se...
Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
É mais forte do que eu, não posso ir
Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.

Exatamente por isso te amo Paul!

Parte 11/20

Parte 11/20

Naquela noite, ao voltar para o quarto do hotel   recebeu o recado de que o namorado havia telefonado de maneira insistente. 

Quase uma intuição, ela deduz.

Nada que justificasse a falta de respeito. Respeito sempre havia sido a marca deles. E havia acabado.

No outro dia a amiga a condena com um simples olhar.

Voltam para a  cidade.

Ela coloca o ponto que deveria ter posto há três meses. Ponto final em sua relação de quatro anos.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Códigos de casa 18

"Te lo juro yo no necesito trabajar"

Como vivíamos na metade Sul do estado e meu pai nasceu na fronteira com o Uruguai, sempre passávamos as férias na pequena praia (agora grande) de Punta del Diablo. Era apenas um vilarejo de pescadores, alugávamos uma casinha e tínhamos um grupo de amigos argentinos. Não havia restaurante, nada. Apenas um fliperama e uma padaria.
Bem, tínhamos um amigo uruguaio que era dono das casas a serem alugadas. Maurício estava lá desde sempre. Patrimônio local. Nos apresentou ao "Pibe", pescador. Eis que Pibe, um pescador muito pobre e "borracho" se apaixona por Mariana. E toda a noite ou tarde, quando no trago, ele contava a mesma história: era rico, não precisava trabalhar e fazia aquilo por gosto. Isso para tentar casar com a mari. Então repetia: te lo juro, yo no necesito trabajar.
Volta e meia, quando a gente quer falar de alguém que vende uma riqueza ( material ou não) que não possui, lembramos da frase do velho pibe.

Palavra comum

Bad sad day
B(s)aday

10/20

Parte 10/20

Passaram-se três meses desde que  havia retornado.
A companhia entra novamente  em cartaz. Viajam, dessa vez as duas, para um novo espetáculo, num festival.

Estaria lá também o menino que ela havia começado a sair com mais freqüência. Pareciam namorados,
A negação de seu discurso liberal.

Numa noite ela saiu e se interessou por um colega do quase namorado da amiga

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Cissi, o que?!

Forçava a memória apoiando a cabeça com as mãos. Como era o nome da professora de biologia? Nadia? Não. Nastia, tinha certeza. Mas como era mesmo o nome daquela forma de reprodução assexuada? Cissiparidade? Talvez fosse. Achava que aquilo, aquilo que não tinha certeza do nome, a tal da cissiparidade acontecesse apenas com as minhocas (?).
Hoje descobriu que acontece também com os corações.

Insana realidade

I

Sempre havia suspeitado que a loucura - ou doença mental, para aqueles politicamente corretos, como ela - fosse genética. Se não o fosse, talvez  soasse como um bom argumento para justificar a sua. O pai e a mãe o eram.

II

Marta. M de mamão, m de mochila, m de merda, m de melancia, m de morcego, m de mel, m de melatonina. Aquilo que nos faz dormir. Marta. A de amor, a de aranha, a de árvore, a de abismo, a de anão. Lembra daquela minha colega anã? Coitada! Tanto preconceito sofria. Marta. R de rato, r de Rapunzel, jogue suas tranças... Por que cortaste o cabelo? Gostava mais dele louro e comprido. Marta. T. T de tatu, T de tofu, nossa odeio isso, t de telefone. Meus Deus! meu Deus! Ele nunca mais telefonou. Que dor! Quanta desgraça. Meu sofrimento... Marta. Ah! Outro A, que sem graça.

III

Como explicar que não agüentava mais? Como fazer uma pessoa normal entender que a vida glamourosa de artista nunca havia estado em seus planos? Como explicar que gostava dos palcos dos pobres teatros de arena e odiava a televisão e sua falsidade?

IV

Remédio para emagrecer. Afinal, só poderia ter perdido o amor de sua vida pois estava gorda. Gorda com G de gato, g de Gustavo, g de guloseimas, g de gorda.
Depressão com uma médica incapaz de sentir. Depressão com medição errada. Surto psicótico. Os filhos olhavam atentos aos sintomas manifestos na mãe.
Não. Não era possível que, após tantos anos, vissem na mãe aquilo que haviam conhecido no pai.

V

Ela queria voltar a sair nas ruas. Odiava a maquiagem e as constantes intervenções cirúrgicas as quais era submetida para manter-se bem no vídeo. Nunca quis ser artista de TV. apenas uma participação especial. Apenas uma novela. Apenas mais um seriado. Apenas uma nova novela como protagonista. Não entendia o porquê mas sua aversão ao luz, som, claquete, ação, sua aversão era proporcional ao sucesso que fazia.
Todos queriam ela. Diretores, roteiristas, telespectadores.
Um dia ouviu que justo por não desejar merecia o sucesso.

VI

Quando, há uma década, o pai teve seu surto esquizofrênico demoraram a entender. Ela e o irmão mais velho observavam aquilo impactados pela súbita religiosidade do pai. Depois, pela virilidade com que ele se referia a todos as mulheres. Depois passou a ver Maria, a mãe de Jesus, depois passou a tentar transar com todas. Inclusive com Maria. Depois foi internado. Depois foram meses com a boca e aos mãos trêmulas. Depois o olhar taciturno. Depois a indiferença provocada pela culpa.

VI

Então, tudo bem que surto ocasionado por medicação não nutre nenhuma relação com esquizofrenia. Tudo bem que não era genético. Tudo bem que ambos, o pai e mãe, viviam felizes com suas histórias passadas. Tudo bem que doença mental era como qualquer diabates ou problema cardíaco: um comprimido e tudo bem.
Então, tudo bem.
Nada disso fazia com que ela tirasse da cabeça a idéia de desistir da TV, de voltar aos teatros (alguns velhos e mal cuidados). Nada disso tirava dela a obsessão por poder ser ela mesma quando deixasse o palco. Ah! Esse era o mal das Novelas. Nas ruas, aos olhos atentos a acompanha-la, seguia sendo seus personagens. Onde já se viu a mocinha do século passado empinar uma garrafa de cerveja, com um cigarro na mão? Não. Ela não queria empinar uma garrafa de cerveja nem acender um cigarro.
Ela queria apenas sua vida de volta. E a teria. Mesmo que para isso fosse preciso ir tão longe quanto o pai e a mãe  foram.
afinal, tudo bem. Eles conseguiram chegar onde queriam.

9/20

Parte 9/20

O tempo passou, a vida tomou novamente seu velho rumo e como acontece com paixões de viagens a dela também passou.

Decidiu dar mais uma chance para a já antiga relação, agora desgastada pelas suspeitas praticadas cotidianamente pelo namorado.
 No fundo sabia que aquilo era insustentável, o teatro a havia reinventado. Havia feito dela um nova pessoa. Não melhor, nem Pior. Outra.

domingo, 20 de novembro de 2011

Bola de pêlos 2

O mais incrível nas bolas de pêlos é o fato de não serem percebidas antes de vomitadas, cuspidas, desengasgadas. 
Os minúsculos pêlos sozinhos são tão inofensivos quanto os pequenos problemas. 

8/20

Parte 8/20 

Quando chegou havia  frieza no ar. A amiga estava ainda mais próxima do namorado, mais próxima da melhor amiga e todos estavam a quilômetros de distância dela que, submersa em muitas sensações, pouco entendia.

Sentadas na velha lancheria daquele parque ela disse: com esta traição tua, acabaste com meu mito de amor romântico. Primeiro meus pais separam-se. Agora tu.

sábado, 19 de novembro de 2011

Corpo vivo

Capacidade imaginativa. Era assim que, desde pequena,  chamava seu estranho vício de imaginar. Imaginava aflições e felicidades nos passageiros do ônibus lotado enquanto se deslocava para a faculdade. Imaginava famílias ao redor de mesas também imaginadas quando via a decoração de apartamentos ao passar de carro. Mas o mais estranho acontecia com próprio corpo: imaginava a entrada dos alimentos, a reação do estômago com o arroz da vó, a sensação da bexiga com a água fresca, o movimento dos neurônios ao receber tanta informação. Tudo funcionando perfeitamente. Um dia foi pega de surpresa. Sentiu o coração apertar, como se o tivessem colocado na palma de uma das mãos e depois fechado. Ela, que imaginava tanto, jamais imaginou que aquilo pudesse acontecer.

7/20

Parte 7/20

Houve um dia em que tudo mudou.
Tudo de tudo havia mudado.

Ela estava em cartaz do outro lado do mundo e se apaixonou por alguém de outra companhia. Mandou um email comentando com a amiga, que não havia viajado pois estava em outro espetáculo. Sentia ânsias, náuseas por enganar ao namorado. Chegaria e colocaria um ponto final na história.

Códigos de casa 17

"alô, alô, terra, zoiudo chamando lorde coelhão, lorde coelhão"

Esse código lá de casa é dos mais especiais de todos. Faz menção a aquilo que nos remete à infância: a turma da mônica! Líamos tudo, amávamos os almanaques de férias. Mas os filmes... Ah! Não havia lançamento fora de nosso alcance. Todos eram assistidos por todos nós: mãe, pai, mais velho, mais jovem. 
"A princesa e o robô" é um dos melhores filmes do Maurício de Souza. O coelhinho de lata que viaja pela galáxia, com a ajuda da Turma, para procurar um coração no planeta Pulsar. Tudo pelo amor da princesa Lili. A princesa prometida para o Lorde Coelhão: um coelhinho 20 centímetros mais baixo que a princesa, mas que grita alto pelo poder que possui.
Bem, lorde coelhão tem um auxiliar fantástico: uma minhoca com dois olhos enormes. Essa minhoca verde chamada de Zoiudo é quem tenta impedir a turma de ajudar o coelhinho. Cada vez que Zoiudo tem algo a dizer para lorde Coelhão, pega um pequeno radinho e começa: "alô, alô, terra, Zoiudo chamando lorde coelhão, lorde coelhão".
Pois bem, quando algum de nós faz olhos arregalados, principalmente a mãe, eu e a Carolina apenas repetimos: "alô, alô, terra, Zoiudo  chamando lorde coelhão, lorde coelhão". Pode ser também para chamar a atenção, apenas.
Fica entendido o recado. Ah! Coisa boa códigos de casa.

Telefone

Então era assim, apenas um telefonema de distância. Tristezas e alegrias, derrotas e vitórias, a comida feita no dia, o resultado do time de futebol. Apenas um telefonema de distância, ela repetia. 
Girava o globo com uma das mãos. Segurava o telefone encostando a cabeça ao ombro. As  mãos que telefonavam, as mãos que limpavam as lágrimas, giravam o globo. Ao rodar podia ver a distância que a separava da própria casa. Sem cheiro, sem gosto, sem abraços apertados, sem o ombro que a acolhia.  Girava o globo e sentia falta de tudo aquilo que o telefone não transmitia. Sentia falta de tudo de si mesma que havia deixado lá, do outro lado da linha.

Dica de leitura 2

"Contos da mais-valia e outras taxas", do Paulo Tedesco (da também fofa editora dublinense) me ganhou. Curto, direto, marcante.  
Muito bom. Adoro descobrir novas leituras!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Códigos de casa 16

"titi" 

Somos cinco filhos de uma mãe que trabalha a vida inteira. Quando vivíamos todos com ela, a casa sempre contava com alguém
Para ajudar na lavagem dos uniformes escolares, no preparo do almoço. Logo quando voltamos para Porto Alegre essa pessoa era a Maria ou Ia, como a chamávamos carinhosamente. 
A Ia levava a filha, uma menina linda e enorme de 3 anos, para nossa casa. Ocorreu  na primeira vez que a Maria disse  "me dêem licença pois preciso dar o Titi da Beli"(apelido da filhinha). Titi era usado para leite. E a Ia tirou um enorme seio para fora e amamentou a filha.
Titi passou a ser usado como código de casa para as nossas bebidas preferidas. Minha mãe, por exemplo, com seu vinho. Eu, nos tempos em que ainda bebia refrigerante, para me referir à coca light. Cada um com seu próprio Titi.

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Sobre o Titi da minha mãe, aconteceu episódio Cômico em minha ausência. Minha mãe bebe todos os dias seu cálice de vinho, pela noite. Como ela vai na minha irmã e sobrinha, depois do horário da creche, é comum que beba o vinho com elas, pela noite. Eis que esses dias a mãe passa lá pela manhã, e a lindada Isadora com suas poucas palavras apenas olha e diz, levando a garrafa de vinho para que minha mãe tomasse: ó aua da vovó (ou seja, a água da vovó). Criança Esperta. Já entende tudo sobre o Titi da vovó.

Pressa

Com os cotovelos empurrou o idoso que lentamente caminhava até o portão de embarque, também usou o corpo para se antecipar à mãe com os gêmeos, um em cada braço. Não vacilou ao ultrapassar a cadeira de rodas e a mulher com aos mãos no quadril, a espera do primeiro filho. Sim. Ele não tinha mais de 60, não era cadeirante, não estava acompanhado de crianças e nem estava grávido, por óbvio. Também não era passageiro da classe executiva e não possuía nenhum daqueles cartões especiais de milhagens. Tinha apenas pressa. Pressa de entrar no avião, apertar o cinto e rezar. Afinal, no avião era aceitável rezar. 

Dica de leitura

Dica de leitura

Mais um do Rodrigo Rosp. Mais um da Não Editora. "fora do lugar" é ainda melhor do que "a virgem que não conhecia Picasso". "Carrasco", "maldito", "lingüista" e "agora, a dor se foi" são contos de rara precisão cirúrgica.
Mais um ponto para eles.

Nas nuvens

O chão! O chão!!! O chão! Eram as únicas palavras que ouvia ao caminhar pelo longo corredor, cinza, iluminado por horríveis luzes brancas, daquelas que deveriam ser exclusividade hospitalar. Não entendia, assustado, se os gritos o orientavam a olhar para o
Chão ou se atirar sobre ele. Corria, sob o chão que o amedrontava.
Mas não era essa a lógica de sua vida? Há quase quatro décadas mantivera-se firme naquilo que o estabilizava: o casamento com a mesma mulher, a casa branca com janelas azuis, o trabalho no pequeno escritório de contabilidade, as férias programadas com meses de antecedência.
Procurou o copo com água que  mantinha no criado-mudo, não o encontrou. Olhou para os lados. Não reconheceu as paredes, nem sequer ouviu a respiração da esposa. O velho relógio de pulso a prova d'água marcava dez horas. Da manhã?  Ergueu a cabeça e respirou tanto ar  quanto podia. Lembrou que não havia mais mulher, casa, trabalho, férias, chão. Agora, com 70 anos, havia decidido caminhar sob nuvens e ser feliz.

Out of control

"No caminho que ninguém caminha alta noite já de ia, ninguém na estrada andava"

Os deuses haviam jogado dados mais uma vez. Lá estava ele, cansado, sujo, aflito. Derrotado pela incapacidade de controlar. Controlar a tudo.  Horário, compromissos, fome, ansiedade, sentimentos. Out of control. Out of control. Out of control. Lembrava, mais do que nunca, das belas moças - cada vez menos belas e menos moças - com suas feias e coloridas maquiagens e uniformes repletos de bolinhas, lembrava das aeromoças, das aeromoças de todas as companhias aéreas do mundo. Aeromoças de companhias com lugar para as pernas, sem lugar para o computador. Lembrava que em todos os idiomas, em algum momento antes da decolagem elas afirmavam para as máscaras de oxigênio, em caso de despressurização, serem colocadas primeiro em si, depois em crianças ou idosos. Primeiro em mim mesmo. Out of control. Primeiro em mim mesmo. 
Assim mesmo, sujo, cansado, aflito olhou para os céus. Achou divertido imaginar deuses vestidos de aeromoças jogando dados. Entendeu o recado. Quando despressurizou a cabine de sua vida, colocou a máscara em si mesmo.

6/20

Parte 6/20

Nutriam, entretanto, muitas diferenças.

Ela defendia o amor livre e afirmarva, com unhas e dentes, que a outra se submetia a opressão da fidelidade conjugal. Expunha com fúria as idéias que julgava .adequadas para uma atriz viver.  E praticava essa verdade. Já havia se relacionado com todos os atores do grupo.

Ela se sentia feliz com o namorado. Estavam juntos há anos, se respeitavam. Não sentia necessidade de estar com mais ninguém.  Ponto. Seguia sua vida. Sem teses.

Se levavam bem. apesar de todos os pesares

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Backup

Sonhara com o eu te amo, quer casar comigo?, tu és o amor da minha vida. Quando ouviu "eu sou o teu backup", entendeu que quando tudo apagasse, falhasse, ele estaria ali, seguro.
Foi quando percebeu que amor é realidade, não comporta formatação prévia.

Negros olhos

Era capaz de contar as grossas e negras pestanas da expressiva face da mulher. Pequena mulher, com aquela serra desenhada entre o nariz e a boca. A boca... Os lábios carnudos da desconhecida mulher amada.  A pele macia como se amaciada por todas as rosas do mundo. A maneira como pediu, sorrindo, para que ele esquecesse que ela o amava. E ela o amava! E ele a amava. Não poderia dar outro nome para aquela sensação de quebra-cabeça, de quebra-cabeça montado. Deitada em seu ombro, com as grossas pestanas cobrindo os negros olhos, ela dormia. E ele tinha certeza que o amor seguia acordado.

5/20

Parte 5/20

Tinham o melhor desempenho acadêmico e se consolidavam como as melhores atrizes que aquele grupo já havia projetado: uma introspectiva e audaz. A outra extrovertida e dinâmica. 

Complementares.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Mais anotações 2

- Ótima constatação do Secretario do fórum parlamentar europeu, Neil Datta: a saúde sexual e reprodutiva é a única área na saúde pública em que há preocupação/ influência religiosa. Ninguém pergunta o que Deus diria do controle da malária ou dengue. Perfeito.

- Ele também fez um ótimo paralelo entre vários políticos de todo o mundo e os talibãs. Na prática, muitos democratas tem as posições idênticas as deles. 
Fez um quadro com muitas questões,  dentre elas direitos LGBT, direitos das mulheres, separação, controle sexual dos jovens pelos pais, sexo fora casamento, aborto etc. A semelhança entre os republicanos americanos e os talibãs é de quase 100%.

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Duas curiosidades:
Aqui conheci uma deputada peruana que fez todos os materiais de campanha inspirados nos nossos! Muito legal! Uma bonequinha e tudo!

A outra curiosidade é o fato de no Equador eles elegerem parlamentares que representam os que vivem fora do país. Linda, a deputada que esta aqui, vivia em NOva York quando eleita.

4/20

Parte 4/20

Causava estranheza nela o fato de que ela não tinha vida anterior: nem amigas ou amigos, nenhum namorado. Nada. 
Mas de bom grado compartilhava a melhor amiga e os amigos do bairro. Já o fizera com a outra. Amigos e amor só existem quando compartilhados, pensava.

Também não tinha problemas se ela convivia com seu namorado. Afinal, esse convivia com todos dada a seriedade do relacionamento. Depois de alguns anos a vida de um casal é quase toda compartilhada, afinal.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Mais anotações

- O número de filhos desejados por uma mulher, comparado com o número de filhos que ela tem é Um dos indicadores de direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.

- nem 10% dos métodos anticoncepcionais são responsabilidade masculina (camisinha + vasectomia). ou seja, 90% são utilizados por
Mulheres!

-Adorei ouvir da  professora Aruna Kashyap (indiana) que ela não agüenta mais ouvir dizer que direitos humanos é coisa de quem defende prisioneiros.

-ouvir as mulheres para formular/executar políticas públicas. Boa lembrança. Descobrir as verdadeiras razões pelas quais elas morrem ao darem à luz (algumas tem vergonha de ir ao banheiro por nao possuírem um), porque não saem de casa ao apanharem etc

- fiquei impressionada com o fato do Irã ser citado como referencial de educação sexual entre os países chamados de "fechados". Ensinam aos pais para eles ensinarem aos filhos, dada a impossibilidade de falarem sobre sexo na escola.

Aliás, gostei da idéia de preparar mães e pais para auxiliar na educação sexual dos filhos. Mesmo em espaços democráticos, em que filhos podem ser educados, pais precisam compreender.

-o aumento da seleção sexual, ou seja, a escolha do sexo do filho é um dos grandes temas em debate. 
Muitos países o fazem ou fizeram através do aborto de fetos de meninas. Regiões da Índia, por exemplo tem a proporção de 700 mulheres nascidas para cada mil homens.
O fato é que esse prática de seleção sexual tem sido substituída com os avanços da genética. Hoje, nos Estados Unidos, por exemplo, a escolha do espermatozóide a partir da possibilidade de desenvolver um menino é uma realidade.
A Alemanha trabalha com a construção de lei que proíbe essa prática.

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Adoro a frase "todos os direitos humanos são para todos".

Primeiras anotações

Devo dizer que hoje fiquei emocionada. Participo de muitos fóruns internacionais, sobretudo a convite das organizações ligadas a ONU.
Mas esse aqui na Tailândia (organizado pela UNFPA- fundo das nações unidas para população) me trouxe uma sensação especial: encontro global de jovens parlamentares. Me vi em cada uma dessas jovens. A canadense sentada ao meu lado, a peruana com quem me relacionava pelo twitter. Somos 50 deputados, de todos os continentes debatendo saúde e violência contra a mulher, direitos sexuais e reprodutivos, população com enfoque na questão geracional e de gênero. O objetivo é intercambiar experiências legislativas para os temas acima. 
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Mediarei o debate sobre " direitos sexuais e reprodutivos", que consistirá em direitos reprodutivos, saúde materna e planejamento familiar. Por tratar-se de um encontro global o debate sobre esses tema é muito diverso.

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Apenas alguns números para evidenciar a necessidade desse debate que fazemos aqui:
1 mulher morre no mundo, por minuto por complicações na gravidez. Esse número cai para uma a cada 30 mil na Irlanda, por exemplo.
1 em cada três mulheres no mundo corre permanentemente risco de violência e abuso sexual.
7 mil mulheres são contaminadas por dia com HIV (sendo que o maior crescimento se dá na Ásia, Europa e América latina)
38% da população tem até 24 anos.

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A Tailândia foi escolhida como país sede pois é o país que coorden o Fórum regional de população e desenvolvimento da UNFPA, o AFPPD. A senadora Porapan Punyaratabandhu é a coordenadora. 
Aqui na Tailândia, segundo as informações da diretora da UNFPA Safige Cagar, o desenvolvimento econômico cresce proporcionalmente ao investimento feito em educação de mulheres.

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Os estudos de caso, para avaliar os impactos das metas  do encontro de 1994 no Cairo (ICPD- international conference on Population and Development), são impressionantes.
Esse encontro é o marco de toda a formulação sobre saúde sexual, direitos reprodutivos e gênero  da ONU.
Em Bangladesh, por exemplo, a  distribuição gratuita de livros escolares foi a ação julgada mais importante para manter mulheres na escola. Como os livros são caros, os pais compravam apenas para os filhos homens. 
Também foram construídos banheiros femininos (!!!) pois as mulheres faltam aulas quando estão mentruadas. 
Sei que essa informação choca a alguns. É mesmo chocante saber que parte da mortalidade materna se dá pelo fato das mulheres terem anemia. Por quê? Porque comem depois dos homens, não são a prioridade alimentar.

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Olhem esse dado da América Latina e reflitam sobre algo muito comum nos debates sobre pobreza. Os 20% mais ricos tem em média 1,8 filhos. Os 20% mais pobres 6,8. Muitas vezes escuto brincadeiras sobre isso: só sabem transar?  O tema é que dinheiro e educação são muito vinculados. Quanto menos recurso, menos educação. E conhecer o próprio corpo, dominar sua saúde sexual não é conhecimento alheio aos demais.

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Um dos temas que discutiremos é a cultura de valorização  da mulher a partir do exercício da maternidade. Em alguns países africanos, por exemplo, ter muitos filhos é uma prova de força, pois eles sobreviveram. 
Mas prestem atenção: qual mulher brasileira não é cobrada para ter filhos? Quem nunca escutou a frase "como assim não quer ter filhos?!"? Além disso, existe algo muito presente nas comunidades mais empobrecidas,  a valorização da figura da mãe. Não no maravilhoso sentido do amor, apenas. Mas, também, da mulher passar a ser alguém.

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O exemplo brasileiro é citado como a maior referência de inversão populacional. Em 1990 tínhamos a pirâmide proporcional equivalente a da Etiópia. Em 2010 a alteramos radicalmente e vivemos a chamada "janela de oportunidades geracional". Isso significa que temos menos crianças e idosos do que população economicamente ativa (gente para dar sustentação  ao crescimento econômico). Então eles vinculam muito isso ao aumento daquilo que chamamos de "nova classe média". 
 Por que é tratado como modelo perfeito? Porque não é nem a pirâmide tradicional com crianças embaixo, nem a pirâmide invertida européia com idosos representando a maior proporção. Em nenhuma das duas pirâmides há quem  "pague a conta", como costumam se referir por aqui à população economicamente ativa.
Mas é importante olhar as informações/pirâmide por classe social.

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Quando leio as críticas à projetos como o estatuto da juventude, percebo que setores de nossa sociedade e também fa imprensa ainda não perceberam isso. Ou talvez pior: mantenham uma espécie de charmoso pessismo (que também existe em setores da academia). Como se fosse feio ser otimista diante de uma realidade que de fato melhora.
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Um pouco da viagem

Viagem a convite da ONU/ parte pessoal

Dia 12/11

Estou em Bangkok (capital da Tailândia) terra dos sorrisos e sabores. Aqui já é domingo pela manhã e Como contei num post anterior, fui convidada pela ONU para participar de um grupo de estudos sobre saúde da juventude  com parlamentares de todos os continentes.
Cheguei aqui sábado com uma gigantesca carga nas costas: o enorme vôo e o fuso horário. Mesmo com isso não consigo perder oportunidades de conhecer os lugares mais distantes. Sem dormir, com 40 graus na cabeça, tomei um "tuti tuti" (aquele carrinho sobre uma Moto, já viram?) e fui conhecer o Grande palácio e seu maravilhoso templo com o Buda de Esmeralda (uma estatua inteira na maravilhosa pedra verde). Fiquei impactada. Como também fiquei ao conhecer o Buda repousando, estátua de uns 100 metros de Buda.
Almocei e jantei comida local para provar todos os sabores de uma das mais famosas culinárias do mundo.  Aliás, jamais estive em outro lugar com tanta comida para vender nas ruas. Muita pimenta, coco, curry e gengibre. Muito chá. Informação importante para mim mesma: aqui também tem a tal "dragon fruit"!
Mas o mais importante de tudo não tem cheiro e nem sabor: o sorriso no rosto de todos os tailandeses. É uma simpatia sem limites. Acho que vou dar certo por aqui.

13/11

me deslocando para o local onde o encontro acontecerá. 
Ansiosa pela morte da militante do Afroreggae. Atenta à ocupação da Rocinha.
Estou chocada com a morte do Deputado Chicão, do PP, num acidente de carro. Meu Deus! Quanto medo eu sinto dessas estradas. 


14/11

O tempo sem celular e internet, fora da rotina me faz ler e escrever muito. É como se eu pudesse ver melhor e jogar ainda mais para fora. Talvez isso seja o ócio criativo, do Domenico. Mesmo que o ócio seja relativo. Chamemos de ócio mental, já que sem isso a cabeça fica mais relaxada.
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No paraíso, colocando os crachás. 
O evento começara em breve.

Parte 3/20

Parte 3/20

Ela escondia o corpo pois não havia aprendido ao certo como lidar com aquilo. Nos anos anteriores passava parte do tempo  convivendo com as adversidades causadas por ele. Usava preto. Roupas herdadas da adolescente rebelde que havia sido. Para sempre lembraria do dia que, ao usar uma camiseta mais justa, ouviu um colega de faculdade afirmar que estava feliz por vê-la vestida como mulher, pela primeira vez.

Ela exibia o corpo. Talvez aquilo fosse o que de melhor trouxesse dos anos passados. Exibia seus fartos seios em decotes enormes. Não era incomum naquela universidade mas ela não abandonava os grandes saltos e as roupas que valorizavam ao corpo. Era assim que o mulher com cabelos sutilmente loiros deveria andar.

Entraram ambas no grupo de teatro da universidade.
 Uma havia conhecido o teatro nos últimos meses da escola. 
A outra aceitou com facilidade o convite para encenar, já que sempre sonhou fazê-lo.

Assim, passaram a conviver durante todos os momentos. Juntas almoçavam, estudavam, encenavam.
Começaram a dividir a vida.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Bola de pêlo

Tal como o gato engolia pêlo a pêlo.
Alguns seus, às vezes de outros. 
Cotidianamente engolia pêlos. 
criava-se a bola.
Engasgava, tossia. 
Não agüentava.
Era preciso jogar para fora.
Vomitava.
Assim se via livre de sua bola de pêlos.
Estava pronta para recomeçar.

Parte 2/20

Sim. Era ela. A patricinha que comia doces de maneira desesperada durante as provas do vestibular. Deus! Como aqueles papéis de bala a irritavam! Não era possível que agora dividissem todas as aulas.

Sim. Era ela. A guria que escondia o corpo embaixo de longas camisetas pretas com assinaturas de alguns ídolos do rock. Acendia um cigarro no outro antes das provas! Como paravam na mesma sala?

 Descobriram poucas afinidades mas tornaram-se amigas. Foi o acaso, pensou uma. O destino,  afirmava a outra. 

Algo forçava a existência dessa amizade quando as sentou na mesma sala. 

domingo, 13 de novembro de 2011

Dica de leitura 2

Adoro a sensação de descobrir um novo autor que fará parte de minha vida. Por parte de minha vida entende-se ler tudo aquilo que ele publicar, juntar seus livros na estante, conhecer suas principais características.
"A sordidez das pequenas coisas" marcou todos os pontos comigo.
Primeiro pelo título. Sou apaixonada por livros que recebem nomes tão grandes e significativos quanto seus contos. Títulos que caminham separados das obras. Sempre lembro do espanhol "amanhã, na batalha", pensa em mim". 
Segundo, a edição. Cada conto tem uma foto escolhida a dedo que o acompanha, dando vida, cara, força a cada um dos personagens. 
E que personagens. Conheço a vários deles. De fato? Não. De direito adquirido. O bom conto faz com que personagens sejam
Nossos, os nossos com distintos nomes.
Assim escreve Alessandro Garcia, jovem conterrâneo, também lançado pela não editora.
Quando me encontro com um escritor que me deixa impactada como Alessandro, tenho a sensação que, se eu fosse capaz, teria escrito algo dele. Nesse caso seriam dois dos contos publicados nessa coletânea: Subúrbio e Selmara.

Parte 1/20

Parte 1/20

Não podia Acreditar que ela tivesse seios tão pequenos. Do farto conteúdo exibido durante os aqueles anos de convívio, não sobrara nem sequer a metade.  Ela olhava, incrédula, para a pessoa sentada em sua frente, do outro lado da mesa. Mudaram de continente para promover um reencontro. Nada de conversas sobre os fatos, apenas a exibição de alguns nomes e histórias que comprovavam a existência da intersecção entre aquelas vidas. O reencontro não foi entre elas, como esperado. Mas de cada uma consigo mesma.

Uma história incomum

Escrevi uma pequena história de ficção, dividida em pequenas 20 partes. Publicarei, cotidianamente, cada uma das partes aqui no blog.

Dica de leitura

"o professor de botânica" de Samir Machado de Machado, publicado pela não editora me fez bem. Primeiro porque gosto de livros que me fazem bem por me jogarem para outros mundos. O primeiro outro mundo em que este me jogou foi o meu próprio. O meu antigo mundo: minha vida de bolsista de pesquisa na universidade. Sei bem da rotina dos estudantes da Bio, as viagens à reserva. Também me fez lembrar do mundo de uma querida amiga bióloga.
Mas, além disso, além do que despertou em mim pela minha própria vida, Samir Machado de Machado conseguiu me prender num livro sobre a mediocridade comum a tantas vidas.
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Além de tudo, a gaúcha  "não editora" caiu no meu gosto: livros lindos, papel maravilhoso, capas expressivas, tamanho ideal e  autores muito talentosos da minha geração, ou seja, ainda não conhecidos. Perfeito.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Conselho

Os Argentinos usam a seguinte expressão:  "dos inimigos? O conselho".
Amei. Reforça a idéia do que expus em outro texto. Os adversários nos chamam a atenção, com suas críticas ferozes, das questões que  acertamos. Também chamam dos erros, é óbvio.
Mais atenção e humildade para ouvi-los é a minha particular conclusão.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O twitter e seus verbetes

Gente,
Decidi transformar em risos a exaustão que andamos com "a nova ofensiva virtual" dos setores mais atrasados. Como? Vamos criar, de maneira colaborativa, uma espécie dicionário dos termos mais utilizados e seus significados? Vou me dedicar a alguns verbetes relacionados ao machismo virtual e outros da disputa política. Ah! Não precisamos nos dedicar apenas à palavras. Podemos falar também de expressões.

- "agressiva": mulher que responde aos tweets em que é criticada. O uso masculino da palavra se estabelece com "combativo"

- "neurótica": mulher que interpreta adequadamente as ofensas machistas que sofre. O uso masculino da palavra pode se dar com "atento".

-"irritada": mulher que é enfática para responder críticas. O masculino é "indignado".

-"raivosa": expressão utilizada para mulheres com opiniões firmes. No masculino é utilizada como "firme".

-"bonitinha": o feminino de burro.

-"estressada": leia "agressiva", "neurótica", "raivosa" e "irritada" e seus usos no masculino. 

- "mal amada" ou mal coisa pior, mais vulgar e mais utilizado: mulher que fica indignada com rebaixamento da discussão.

-"Não sabes separar o pessoal do político": expressão normalmente usada por aqueles que ofendem alguém pessoalmente e, depois, reinvindicam estar debatendo  idéias.

-"eficiente": aquele que concorda com as idéias de quem escreve.

-"seja democrático!": expressão usada quando questionas a opinião de alguém. Ou seja, democracia para esses é quando a única Opinião que vale é a própria.

-"democrático": aquele que concorda com quem escreve.

-"não seja estúpido" ou "não seja grosseiro": usada quando não concordam com aquilo que escreves em 140 caracteres.

-"não tem argumentos": usada quando não concordam com os teus. Também ignora que estás no twitter e não num simpósio em Harvard.

-"incoerente": aquele que não é coerente com as idéias. Dos outros.

Por enquanto essa é minha contribuição! Enviem as suas!

Dica de leitura 2

"por isso sou vingativa", da fantástica Claudia Tajes, é de
morrer de rir.  Com menos de cem páginas, Tajes explora com muita habilidade a vida de uma mulher bastante frustrada em seus relacionamentos. A certa altura ela estabelece como meta de sua vida a vingança contra todos os que a fizeram sofrer. Aí é que são elas...
Já pensou se todas nós decidimos fazer isso? 

Dica de leitura

"a virgem que não conhecia Picasso, escrito pelo jovem Rodrigo Rosp,
da gaúcha "não editora" é uma bela seleção de contos sobre um mesmo tema: sexo.
É leve e engraçado. Gostei.
Gosto mais ainda de saber o que a gurizada anda escrevendo pelo Rio Grande.

Saúde e Direitos da Juventude

Há poucas semanas recebi convite da UNFPA, prganização ligada à ONU para participar, representando nosso país, de um encontro global de jovens parlamentares sobre saúde, direitos sexuais e reprodutivos da juventude. São 10 parlamentares da América (do Norte, Sul e central). Fiquei, evidentemente, muito honrada.
Assim,estou partindo para uma viagem – sem nenhum custo para os cofres públicos . Vou contando as coisas aos poucos. Beijos

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Contradição x convicção

Contradição louca essa que faz ter vontade de abandonar ao mesmo tempo em que incentiva a lutar!
Contradição essa que me exaure por ver tanto machismo e que me joga, enérgica, no debate para que ele não exista mais.
A contradição é o que me faz quase desistir, às vezes. Mas apenas pelos 30 segundos necessários para que ela se transforme em convicção. Convicção da necessidade. Convicção de que os adversários sempre foram esses. Se suas caras são diferentes, se seus ataques são ainda mais baixos e freqüentes, eles apenas atacam por que o caminho escolhido é o certo. No vocabulário de Nossas vidas Convicção é palavra superior à contradição.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

mais amor

Sentimental
Carlos Drummond de Andrade

Ponho-me a escrever teu nome com letras de macarrão. No prato, a sopa esfria, cheia de escamas e debruçadas na mesa todos completam esse romântico trabalho. Desgraçadamente falta uma letra, uma letra somente para acabar teu nome! - Está sonhando? Olhe que a sopa esfria! Eu estava sonhando... E há em todas as consciências um cartaz amarelo: "Neste país é proibido sonhar." Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão.

um pouco de amor

Tu Tens um Medo
Cecília Meireles

Acabar. Não vês que acabas todo o dia. Que morres no amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que te renovas todo dia. No amor. Na tristeza Na dúvida. No desejo. Que és sempre outro. Que és sempre o mesmo. Que morrerás por idades imensas. Até não teres medo de morrer. E então serás eterno. Não ames como os homens amam. Não ames com amor. Ama sem amor. Ama sem querer. Ama sem sentir. Ama como se fosses outro. Como se fosses amar. Sem esperar. Tão separado do que ama, em ti, Que não te inquiete Se o amor leva à felicidade, Se leva à morte, Se leva a algum destino. Se te leva. E se vai, ele mesmo... Não faças de ti Um sonho a realizar. Vai. Sem caminho marcado. Tu és o de todos os caminhos. Sê apenas uma presença. Invisível presença silenciosa. Todas as coisas esperam a luz, Sem dizerem que a esperam. Sem saberem que existe. Todas as coisas esperarão por ti, Sem te falarem. Sem lhes falares. Sê o que renuncia Altamente: Sem tristeza da tua renúncia! Sem orgulho da tua renúncia! Abre as tuas mãos sobre o infinito. E não deixes ficar de ti Nem esse último gesto! O que tu viste amargo, Doloroso, Difícil, O que tu viste inútil Foi o que viram os teus olhos Humanos, Esquecidos... Enganados... No momento da tua renúncia Estende sobre a vida Os teus olhos E tu verás o que vias: Mas tu verás melhor... ... E tudo que era efêmero se desfez. E ficaste só tu, que é eterno.

meu amor

o que inspira

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Ratos com asas

Existem dias em que o mundo perde a cor. Nesses dias, o bem e o mal ficam claros. É como se ficasse preto e branco. Sabemos quem é quem com maior nitidez.
São os dias em que os ratos adquirem asas. Voam. 
São os dias em que as borboletas chegam mais brilhantes. 
Dias duros. Em que conseguimos ver quem é quem.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

De volta ao passado

Segunda-feira, a convite de meu ex-professor Juremir Machado, falei com cerca de cinqüenta estudantes de jornalismo da Famecos/PUCRS. Foi nessa faculdade em que me formei jornalista. Mas aquelas salas de aula, mais do que isso, significam, para mim, a louca dinâmica da vida. Lá ingressei com os sonhos da menina que catava as letras na máquina de escrever Olivetti -uma vermelha. Anos antes de ser presenteada com aquela vermelha, um doze de outubro me apresentou uma de plástico (lembras disso, mãe?). E ainda com a improvisada máquina plástica comecei a construir aquilo que queria para o meu futuro. Sonhos e planos eram sinônimos e significam ser jornalista.
 Eram bem simples os Meus objetivos. Queria contar a verdade da vida e do mundo nas páginas dos jornais.  Melhorar o mundo. Achava que a verdade bastava.  
Talvez a equação montada por minha cabeça infantil fosse perfeita: se as pessoas tivessem acesso a verdade sobre as coisas teriam condições de  promover mudanças. Não entendia eu, com meus felizes 17 anos, que a vida não era tão simples. E foi a falta de simplicidade que me fez militante política, na mesma Famecos em que vi olhos brilharem ontem.
Ali entendi que não bastava sabermos a verdade. Era necessário adquirirmos consciência. Ali entendi que as disputas políticas eram, na maior parte das vezes, sujas.  Foi ali na Famecos que jurei para mim mesma jamais me tornar igual aos meus adversários. E também entendi o sentido da unidade de pessoas de diferentes partidos. 
E ontem, na coletiva-aula, me deparei com a emoção de ter construído um caminho que não sonhei. Que não idealizei. 
Um caminho que a vida me mostrou ser o meu para poder ser aquilo que eu julgava ser uma jornalista.
 A diferença? A diferença é que optei por não ser uma contadora de histórias, apenas. Mas alguém que trabalha para mudar a essas histórias.