terça-feira, 15 de novembro de 2011

Primeiras anotações

Devo dizer que hoje fiquei emocionada. Participo de muitos fóruns internacionais, sobretudo a convite das organizações ligadas a ONU.
Mas esse aqui na Tailândia (organizado pela UNFPA- fundo das nações unidas para população) me trouxe uma sensação especial: encontro global de jovens parlamentares. Me vi em cada uma dessas jovens. A canadense sentada ao meu lado, a peruana com quem me relacionava pelo twitter. Somos 50 deputados, de todos os continentes debatendo saúde e violência contra a mulher, direitos sexuais e reprodutivos, população com enfoque na questão geracional e de gênero. O objetivo é intercambiar experiências legislativas para os temas acima. 
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Mediarei o debate sobre " direitos sexuais e reprodutivos", que consistirá em direitos reprodutivos, saúde materna e planejamento familiar. Por tratar-se de um encontro global o debate sobre esses tema é muito diverso.

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Apenas alguns números para evidenciar a necessidade desse debate que fazemos aqui:
1 mulher morre no mundo, por minuto por complicações na gravidez. Esse número cai para uma a cada 30 mil na Irlanda, por exemplo.
1 em cada três mulheres no mundo corre permanentemente risco de violência e abuso sexual.
7 mil mulheres são contaminadas por dia com HIV (sendo que o maior crescimento se dá na Ásia, Europa e América latina)
38% da população tem até 24 anos.

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A Tailândia foi escolhida como país sede pois é o país que coorden o Fórum regional de população e desenvolvimento da UNFPA, o AFPPD. A senadora Porapan Punyaratabandhu é a coordenadora. 
Aqui na Tailândia, segundo as informações da diretora da UNFPA Safige Cagar, o desenvolvimento econômico cresce proporcionalmente ao investimento feito em educação de mulheres.

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Os estudos de caso, para avaliar os impactos das metas  do encontro de 1994 no Cairo (ICPD- international conference on Population and Development), são impressionantes.
Esse encontro é o marco de toda a formulação sobre saúde sexual, direitos reprodutivos e gênero  da ONU.
Em Bangladesh, por exemplo, a  distribuição gratuita de livros escolares foi a ação julgada mais importante para manter mulheres na escola. Como os livros são caros, os pais compravam apenas para os filhos homens. 
Também foram construídos banheiros femininos (!!!) pois as mulheres faltam aulas quando estão mentruadas. 
Sei que essa informação choca a alguns. É mesmo chocante saber que parte da mortalidade materna se dá pelo fato das mulheres terem anemia. Por quê? Porque comem depois dos homens, não são a prioridade alimentar.

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Olhem esse dado da América Latina e reflitam sobre algo muito comum nos debates sobre pobreza. Os 20% mais ricos tem em média 1,8 filhos. Os 20% mais pobres 6,8. Muitas vezes escuto brincadeiras sobre isso: só sabem transar?  O tema é que dinheiro e educação são muito vinculados. Quanto menos recurso, menos educação. E conhecer o próprio corpo, dominar sua saúde sexual não é conhecimento alheio aos demais.

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Um dos temas que discutiremos é a cultura de valorização  da mulher a partir do exercício da maternidade. Em alguns países africanos, por exemplo, ter muitos filhos é uma prova de força, pois eles sobreviveram. 
Mas prestem atenção: qual mulher brasileira não é cobrada para ter filhos? Quem nunca escutou a frase "como assim não quer ter filhos?!"? Além disso, existe algo muito presente nas comunidades mais empobrecidas,  a valorização da figura da mãe. Não no maravilhoso sentido do amor, apenas. Mas, também, da mulher passar a ser alguém.

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O exemplo brasileiro é citado como a maior referência de inversão populacional. Em 1990 tínhamos a pirâmide proporcional equivalente a da Etiópia. Em 2010 a alteramos radicalmente e vivemos a chamada "janela de oportunidades geracional". Isso significa que temos menos crianças e idosos do que população economicamente ativa (gente para dar sustentação  ao crescimento econômico). Então eles vinculam muito isso ao aumento daquilo que chamamos de "nova classe média". 
 Por que é tratado como modelo perfeito? Porque não é nem a pirâmide tradicional com crianças embaixo, nem a pirâmide invertida européia com idosos representando a maior proporção. Em nenhuma das duas pirâmides há quem  "pague a conta", como costumam se referir por aqui à população economicamente ativa.
Mas é importante olhar as informações/pirâmide por classe social.

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Quando leio as críticas à projetos como o estatuto da juventude, percebo que setores de nossa sociedade e também fa imprensa ainda não perceberam isso. Ou talvez pior: mantenham uma espécie de charmoso pessismo (que também existe em setores da academia). Como se fosse feio ser otimista diante de uma realidade que de fato melhora.
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