sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A vida digital

Militantes mais antigos me juram que havia um tempo em que alguns partidos contratavam pessoas para espalhar boatos. Dizem, por exemplo, que as grandes paradas de ônibus eram o melhor lugar para isso. A pessoa ficaria ali parada, receberia um panfleto e gritaria, por exemplo: "nesse eu não voto porque bate em mulher". E aí estaria a explicação para um série de boatos que surgiam sincronizados na cidade inteira. Achei péssimo saber disso, é óbvio. Mas foi uma explicação que me pareceu razoável para algumas versões que corriam com o vento. Comigo sempre surgiram os mesmos dois boatos: que eu sou festeira e lésbica. Como me elegi vereadora aos 22 anos, nunca vi nenhum problema em dizerem que sou festeira. Afinal, não fosse a vida corrida que tenho, seria natural eu estar em uma ou outra festa. Já o fato de minha sexualidade também nunca fez eu me sentir ofendida. Não sou lésbica, mas se fosse não mudaria em nada a forma como vejo o mundo. Ou seja, nunca dei bola.
Essa semana, porém, percebi que a internet é uma ferramenta mais democrática também para isso! Dessa vez com um fato sério, que foi a interpretação mal feita por alguns e maldosa de outros, de uma emenda minha a uma lei. Esse fato já está superado e acho que todos já leram e entenderam a verdade. Mas o fato é que transformaram minha emenda que liberou o uso de internet em campanhas eleitorais em uma lei de 1997 (ano em que eu ainda estava no Ensino Médio e nem votava!) que censurava o humor.
Apenas descobri isso por que uso as redes sociais. Ali vi perguntas sem nehum sentido surgirem. A diferença é que, pela internet, é mais fácil descobrir quem é "a senhora sentada na parada de ônibus". Também é mais fácil responder.
Depois disso, passei a olhar outras coisas que as pessoas diziam sobre mim, indiretamente. Um militante de um partido de esquerda, por exemplo, ridicularizava um projeto super bacana de minha autoria. Um que prevê que o SUS distribua filtro solar. Tratava como um projeto fútil, abstraindo talvez (ou abusando de sua suposta condição de anonimato) que o cancêr que mais mata no nosso país é o de pele. E que os trabalhadores do campo e das ruas de nossas cidades, esses que ganham um salário mínimo ou menos, não tem recursos para comprar algo que pode ser fundamental para previnirmos essa maldita doença e economizarmos milhões no tratamento.
Escrevi tudo isso porque percebi que a falta de envolvimento com a política e o descrédito de nossa política faz as pessoas reproduzirem coisas sem ler ou entender, julgar sem antes perguntar, adotar posturas radicais sem ouvir. Se é verdade que existe muita coisa ruim por aí (e as essas combatemos cotidianamente), também é verdade que agora é mais fácil esclarecer, conversar, perguntar, ouvir, discutir.
A democracia que queremos construir, a justiça social que lutamos para ver existir, passa pela não existência de censura, sim, mas também passa pelo não existência de "donos da verdade". Já que a vida digital nos abre tantas portas, agora a gente pode aproveitar e conversar. Como se estivesse na parada de ônibus com aquela senhora paga para fazer fofoca. Já pensou em olhar para ela e perguntar: "de onde a senhora sabe disso?"

4 comentários:

sinthia disse...

Oi Manu, sempre evito emitir opinões pq podia te encontrar e te dizer o que penso pessoalmente, mas a correria de sempre, só nos permite aquele " oi" camarada e deixo passar batido muita coisa. Mas enfim, a rede vale por isso. Aproveito então, pra te dizer que não existe nada mais covarde que o boato. Entendo a tua preocupação em responder, afinal vc é uma pessoa pública. Mas eu aqui te digo que podes contar com teus camaradas. Somos um partido e aqui vale a confiança e o respeito. Conta com a gente. Fica bem!! Não precisa aceitar esse depoimento, pq ao ler tua postagem, senti que vc precisava te dizer isso. Beijos!!!

Anônimo disse...

Oi Manu sou a Laura lembra?Acredito que sim,de Viamão...
Não sabia da existência do teu blog, e isso foi uma maneira de poder ler algo escrito por ti,afinal só te vejo falando no horário político.Os boatos que saíram sobre ti, são os mesmos que me deixam aflita hoje(de ser lésbica e tal) aff né.
Existem pessoas que não sabem cuidar das suas vidas.Como tu tens uma vida bem pública as pessoas acabam tendo interesse na tua vida particular e não no teu trabalho,o que te fez importante
Um beijo o blog é bem interessante

Anônimo disse...

Sua juventude, não impediu que você fizesse um mandato de gente grande. Defendeste com altivez e galhardia as melhores bandeiras para o povo, não só o gaucho, mas para o brasileiro. Acredito que a despeito das escaramuças de invejosos disfarçados de fofoqueiros, o povo gaucho saberá reconduzí-la à Câmara Federal.

André Brito disse...

Belo texto. Inspirador.