quinta-feira, 16 de junho de 2011

De novo, diferente

-Oi meu filho
-Como vai a Sra.?
-Volte até a porta e repita tudo - ele volta para a rua e ela para a cozinha. A cena acontece como um "replay".
-Tudo bem, meu Filho?
-Como vai Dona Chupetinha?
-Volte e suba novamente a escada. Duas vezes é demais.
-Me deixa almoçar.
-Não. Volta lá.
Ele saí, vai mais longe dessa vez e sobe a escada novamente. Senta-se:
-Tudo bem, chupetinha?
-Agora sim.
Ela é assim. A cozinheira que chupa bico (ou usa chupeta) aos 60 anos não admite ser senhora ou dona. Dentro do "complexo gastronômico" o senhor é o único dono.
Carrega orgulhos: ali nunca entrou nenhum chefe do tráfico armado. Podem ser donos de Vigário. Ali o dono é Deus. O outro é o fato de nunca ter comprado gás, queijo ou enlatados roubados: - E custava a metade do preço.
Chneider, 37 anos, 3o semestre do curso de Direito. Um cara normal, certo? Claro. Mas ele já foi Latino. 10 anos de cadeia, chefe de vigário, andava com seus soldados armados para um lado e outro. Roubava carros e carga e levava para a Rua Paris, em
Frente ao "complexo gastronômico".
-Provocação pura porque eu não deixava entrar com arma.
-Nada não. Era mais fácil apenas.
Latino sentava na Lage da passarela e olhava para a rua. Ali via a liberdade que não podia viver.
Chupetinha e chneider viveram a
Vida na mesma Vigário. Ela viu a mãe grávida dele. Ele viu o irmão morrer. Ela viu ele dono da comunidade. Ele deixava o "soldado" cuidando para poder entrar no restaurante dela.
Hoje ele comeu carne assada, aipim, arroz e feijão feitos por chupetinha. Tomou um bom suco de maracujá. Não tem mais soldados. Não é mais Latino.
Hoje ela chorou ao contar ao que sente vendo a felicidade dos pais de Chneider por ele ter mudado de vida. 
Ele diz: mudou tudo. Não ganho quase nada. Mas vou ser defensor público.
Ela chora servindo a mesa do cara que foi bandido e hoje é militante do afroreggae e estudante de direito.
Eles estão juntos no mesmo restaurante de sempre. Tudo de novo. Tudo diferente. 

3 comentários:

chinaider disse...

Olá Drª Deputada e amiga!
Super bacana te-lá conhecido pessoalmente, fico feliz que nossa câmara esteja muito bem representada. foi um prazer estar junto a ti em lugares que tiveram destaques em minha vida, que hoje olho de maneira totalmente diferente, nem irei perguntar se gostaste, pois vi em seu olhar a cada momento que os direcionava as paisagens diferentes. Um grande abç! e volte sempre para esse Rio de Janeiro que estar de braços abertos sobre a Guanabara que só nós temos kkkkkk.
atenciosamente
Chinaider Pinheiro ( Afroregggae )

Saulo Antônio Alves disse...

Pelo exemplo de que as pessoas mudam e só precisam de oportunidades para viver novamente em sociedade.

Mari disse...

Eu acredito na mudança do ser humano, na redenção e na vontade interna de mudar. Necessário criar oportunidade, mostrar aos individuos que podemos e que no fundo temos uma grande força interior e não se deixar marginalizar pelas ilusões passageiras que a TV e o dinheiro fazem corromper!