segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Oco

Naquela noite
- Longe -
um filme de terror virava realidade.

Na porta de um edifício.
Roupas de bebê eram postas no lixo.
Brancas, sonhadas, Cortadas.

Naquela noite ele desejou que fosse oco o útero dela como oco, dizia, era o coracão.

Naquela noite, ele comia peixe, via a lua, ria da vida.

Na manhã seguinte,

mães procuravam - desesperadas - aos filhos.

Ela levava o filho dela.
Dele.
A mãe dele.
Sentiam medo.

Ela sentia medo.

Oco.
Não tardou ao ouvir o som.

O coracão oco.
Dele.


1 comentários:

Beto Fontes disse...

Se você me esquecer

Quero que você saiba uma coisa.
Você sabe como é:
Se eu olhar a lua de cristal, pelo galho vermelho
do lento outono em minha janela,
Se eu tocar, próximo ao fogo, a intocável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva a você,
como se tudo o que existe: perfumes, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
rumo às tuas ilhas que me esperam.

Bem, agora,
se pouco a pouco você deixar de me amar
eu deixarei de te amar, pouco a pouco.

Se, de repente, você me esquecer,
não me procure,
pois já terei te esquecido.

Se você considera longo e louco
o vento das bandeiras
que passa pela minha vida,
e decide me deixar na margem do coração
em que tenho raízes,
lembre-se que neste dia,
nesta hora,
levantarei meus braços
e minhas raízes sairão a buscar outra terra.

Mas
Se cada dia,
cada hora,
você sentir que é destinada a mim
com implacável doçura,
se cada dia uma flor
escalar os teus lábios a me procurar,
ah meu amor, ah meu próprio eu,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem é esquecido
meu amor se nutre no seu amor, amada,
e enquanto você viver, estará você em seus braços,
sem deixar os meus...

Pablo Neruda