segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Fantasmas

Exorcizo fantasmas,
Choro 2012.
Os vejo sair.
Escolhas erradas,
Caminhos tortos.
Cheguei.
Exorcizo fantasmas.
Os conheço pelo nome.
Sei que voltarão.

A

foste escolha errada.
Na prova de múltipla escolha, pega ratão.
Ratona,
Apressada,
Vestibulanda.
Chutei.
Nenhuma das alternativas anteriores.
Na trave.

Aborto

Gestação interrompida.
Gravidez indesejada.

Estas conseguindo matar tudo o que um dia eu poderia sentir por ti.

Paixão abortada.
Minha alegria é infiel: apenas é feliz nas tuas costas.

Eventos solenes,
Almoço na mesa.
Reunião de família.
Acompanho.
Não faço parte.

Sem documento

Baixa a bola!
larguei tudo
por minha causa.

O barco afundou.
Me Atirei na água.
Sem lenço e sem documento.

Sem casa,
Família,
Roupa lavada.

Foste a desculpa.
Eu afundei o barco.
Eu saltei na água.

chegaste quando eu gritei socorro.
Foste a primeira a ver o sinalizador.
Apenas isso.

Baixa a bola.
Larguei tudo para sobreviver.
Saltei na água.
Deixei o lenço e os documentos.
Porque eu quis.
Porque eu precisei.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Banana

- Troca uma banana por um carro?
- Não.
- E a vida por uma migalha?
- Sim...

Tal qual a antiga brincadeira do Silvio Santos, trocou tudo. Por nada.
Promessa de ano-novo: cumprir minhas promessas de ano-novo.

Saudade

Saudade
de minha vida
De minhas coisas
De minha gente
Saudade
de receber
Mais do que dar.
Saudade
de gente perto,
De toque,
Sorriso e abraço.
Saudade
De apontar pro mesmo mapa,
De sintonizar na mesma freqüência.
Saudade
de ouvir "nós"
Mais do que "eu".
Saudade.

Km

Quilômetros de distância
Pouco tempo
Tempo de menos
Quilômetros de distância
entre nós

preciso apenas de um abraço.
E meu silencio é capaz de se diluir como suco de pacote.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Lata de lixo

lixo
Planos
sonhos
Panos
versos
Lixo.
Fotos e filmes.
Lembranças,

nomes de filhos.
Lata de lixo.
Passado
Lixo
Futuro.
É impossível montar uma imagem com o resto de duas caixas diferentes de quebra-cabeças
Tudo o que em ti é feliz,
É sem mim.
Abraço solitário
Sorriso plástico
Estático
Indiferente.
Urso de pelúcia.

Guerra

Amor?!
és correspondente de guerra.

Olhos fixos
Dedo em riste
Ouvidos fechados.
Inimigos.

Amor?!
És correspondente de guerra.

Na Mesa,
Carro
E Casa.
Embate.

Amor?!?
És correspondente de guerra.

Sem confiança,
Paciência ou
tolerância.
Adversários.

Guerra
Morte
Amor


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Viagem

Dobro, cuidadosamente, decepções e mágoas.
Procuro no armário cada amor perdido e os sonhos não realizados.
No varal, busco a esperança.
Fecho o mala.
É hora de pegar o ônibus de volta para minha vida.

Ausência

O cheiro na casa,
Cama, sala, sofá.
Camiseta jogada no chão.
O copo na pia,
Farelo no lixo,
Bagunça na área,
Roupa na corda.
memórias de vida
o cheiro na casa
És tudo por aqui.
Desconheço o chão que me fazes andar.
Salto alto.
Chinelo de dedos.
Nunca sei como pisar.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Tempos verbais

Vejo tuas fotos abraçado no presente,
Sorris.
Ela te chama por um apelido qualquer.
Meu estômago contrai.
Lembro do passado.
Vejo tuas fotos abraçado no presente.
Sorrio para o futuro que perdemos.

2012

2012 foi dos mais fortes anos de minha vida. Muitos interpretaram o fim do mundo como um fim definitivo. Para mim, vários mundos acabaram. E, por sorte, vários novos mundos foram se abrindo e mostrando os olhos atentos de pessoas que me amam. 
a essas pessoas que me amam e que estão comigo em todos os momentos, dedico essa música linda, de Gonzaguinha. Acreditem: estou inteira como nunca estive. 

EU APENAS QUERIA QUE VOCÊ SOUBESSE

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher

E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queria que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher

E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também




terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Vestido

Guardo meios poemas
Tranco espirros
Seguro lágrimas.
Calo.
Escondo palavras
Especulo caminhos
Sofro antecipado.
Choro.
Pego a mão
Seguro o vestido
Imagino o passado
Perco.



Poesia



sábado, 22 de dezembro de 2012

Atirador

O atirador deixou um poema.
Cheio de doçura,
Malícia e
Verdade.
O atirador deixou um poema.
Com meias palavras,
histórias inteiras,
Dores na alma.
O atirador deixou um poema.
E cuspiu seu próprio sangue.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Agora

Desejada
Debochada
Derrotada
Humilhada
Vitoriosa
Gorda ou
Magra
Preparada
Deprimida
Entusiasta
Fui muitas.
Quero ser apenas eu mesma.

Abajur

olhos
Abajures sobre a cama
Lemos a vida inteira que tivemos
Olhos
Raios de sol que invadem a janela do quarto
Para testemunhar que posso ficar feliz.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Queria saber copiar o brilho de teus olhos para dar vida a cidade quando a luz acaba

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Fração

Fração de segundos

Escorregaste por entre os dedos que te acariciavam.
O sorriso murchou como as flores no calor portoegrense.
Flores únicas, para o príncipe tatuado em minha costela.

Rádios sem sintonia.
carros sem controle,
pernas moles.
pressão 9 por 6.
Dois rios passaram por meus olhos.
Lembrei do alerta de minha mãe:
Rios Escondem a correnteza.

Foi apenas uma fração de segundos.
E eu não entendi mais nada.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Botija

Fingi acreditar
Fingiste sentir
Fomos pegos com a boca na botija.
Não existem crimes perfeitos.
Humor seletivo
Tristeza dirigida
Não quero a última fatia da torta

sábado, 15 de dezembro de 2012

Plural

Nada é tão triste quanto não fazer parte da primeira pessoa do plural que sonhamos.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Mais uma vez

Cansei de recomeçar
Colocar tudo na mochila,
Voltar pra casa.
Perceber,
Sentir,
Conhecer.
Cansei de recomeçar,
olhar pra trás 
E ver que não deixei nada.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Dos novos agravantes penais:
Fazer para outro aquilo que sabemos como machuca, dói e faz sofrer

AA

Sempre as risadas
ridículas
Cantadas baratas
Mensagens trocadas.
Sempre o vazio
Que destrói.
Reprise
Sessão da tarde
Cinema barato.
Um dia de cada vez.
Recaída.

Silêncio

Tranco as portas,
Apago a luz,
Busco respostas.
Grito.
Não ouvem.
Não ouves.
Silencio.
Parto.





Baratas

Vais ficar sozinho.
Vocês sempre ficam.
Ratos,
Baratas,
Morcegos.
Pegam em bonitas mãos,
Olham para espelhos pendurados no teto
Mas não conseguem olhar para dentro de si.
Essa é a pior das solidões.

Aberto

Dois Raios.
Uma árvore
Náusea,
Pranto?
Nojo.
Promessa.
A tua?
Decepção.
Pouco importa.
A minha.
Fechado.
Aberta?
Não vou viver isso de novo.

Leite chorado

Choro derramado
Vida que devora
Tempo que socorre
Muito cedo
Tarde demais.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Anestesia

a gente corta o que odeia por fora.
E segue a mesma droga por dentro.
Não há anestesia ou cirurgia para o que somos de verdade.

Oferta Mundo

Um mundo me foi ofertado.
Eu sonhava apenas uma mesa quadrada,
Toalha xadrez,
Cadeiras pra quatro,
Arroz, feijão e bife.

Um mundo de tantas coisas me foi dado,
Eu queria sofá bege para dois,
Duas poltronas,
Tapete, mesa de centro,
Guerra de almofadas.

Um mundo de luxo me foi ofertado.
Preciso apenas de cama,
Banheiro, cozinha.
Sala pra bagunçar.
E de gente pra juntar.

Um mundo de cores me foi dado.
Esqueceram que sozinha
Meu mundo é preto e branco.

Encontrei o eu te amo errado

Encontrei o eu te amo errado,
Espalhado em cada centímetro quadrado
Do sofá que estou sentada.
partes antigas de mim,
Lembranças de ti,
Desencontros vividos por nós dois.

Fogo aceso na lareira
Pessoas sentadas em torno da mesa.
Decoração,
Bule do chá.
Comida.
Vida inteira,
intensa vida
Sem nada de mim.

Encontrei o eu te amo errado,
Jogado na cara em cada porta fechada,
Caixa guardada,
Foto picada,
Em cada mudança feita para provocar
Em cada presença posta para aliviar.

Livro riscado,
Disco autografado,
Diário de bordo,
Planta que brota,
Quadro que inspira.
Imagem que lembra.
Não faço a menor diferença aqui.

Encontrei o eu te amo errado,
Fez sangrar meus pontos,
Inchar as pernas,
Prostrar a alma.
Olhei para todas as paredes,
para todas as peças da casa e,
Em todas elas, estava pichado
em vermelho e preto:
Eu avisei!



sábado, 8 de dezembro de 2012

Sakê

Há o Barulho de chuva,
As Luzes de Natal,
As Mãos dadas,
A porta do hospital abrindo,
Os Pés cruzados,
O abraço na barriga,
A conversa noite a dentro.
Os signos,
Churrasco e
mapa astral,
O salto alto,
O amigo secreto
Um grande homem,
a camisa de força.
O sakê,
O leme quebrado,
As palavras bonitas.
Tanta coisa sem sentido
Dando sentido pra vida.



Avenida

Quero tua mão.
Como as mães querem as mãos gordas de suas criancas
ou como os filhos querem as mãos magras de suas velhas mães.

Quero tua mão para Cruzar uma avenida movimentada
- talvez a da esquina de tua casa -
E te mostrar que tudo segue
no rumo que planejaste.
Tua vida segue ali,
Na outra calçada.

Quero tua mão
para cruzar essa avenida da vida.
Dessa vida louca
em que as folhas do calendário voam
feito os carros na descida.

Mas tu,
Tu não precisas correr.
Basta esperar o sinal fechar.

Ali,
Do outro lado,
Depois que atravessares,
tudo segue tranquilo.
Podes seguir caminhando.
Está tudo certo do lado de lá.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Cartas antigas

Encontro cartas antigas tuas,
Sonhos não realizados,
Planos que naufragaram.
Encontro cartas antigas tuas,
Tranco o choro dos últimos meses.
Torço para que tudo vá bem,
Rezo para que não sejas atropelado ao atravessar as ruas mais duras da cidade e da vida.
Encontro cartas antigas tuas.
A vida passada fez sentido.

Assassina

Culpada.
Sou ré confessa.
Eu matei parte de mim.

Com marretadas em azulejos,
pinceladas nas paredes,
Desfiando os cabelos
Matei.

Com Pauladas pelo corpo,
Rabiscos nas pernas,
Chorando cartas de final,
Matei.

Matei parte de mim.
E quando te vejo dormir,
Sei que valeu a pena.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Traição

Na cesta de vime
uma pérola.
Era anel?
Foi presente?
Era loira.
E alta.
Como o chama?
Imaginação.

Na pequena cesta de vime,
um bilhete
Papel de cigarro,
Prateado como o anel.
Ia a missa.
Pedia perdão ao padre.
Dias de traição.
Imaginação.

Na pequena cesta de vime,
Ao lado da cama,
deixou rastros.
Brincou de ferir,
Com imaginação
fez do amor dos outros
Caixão.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Dança

Ouço a música,
Tuas mãos me tiram para dançar.
Aceito.

Não sabes para onde ir,
Nossos pés se encontram,
nos machucamos.
sorrimos ao final.

Sonho com os passos de nossa dança

Com desafios,
Andar ao lado,
Pegar a mão,
Sentir o cheiro.

Dançar é confiar,
Contar com outro,
Sentir o outro,
Cuidar do outro.

Levanto da cama,
Tenho os pés machucados.
Mas dançar contigo vale a pena.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Louça

Abro a torneira, mãe.
Pelo ralo mando embora
a gordura dos pratos,
a sujeira das mãos,
as mágoas,
os desentendimentos.
Abro a torneira, mãe.
Sozinha.
Lavo a louça sozinha.
Sozinha,
Nasço,
Morro.
Vivo acompanhada.
A louça?
Lavo sozinha.
Sei que apenas tu és capaz de entender.

Erros

Roupas
Livros
Temperos
Esmaltes.
Na casa é tudo único.
Exceto os erros.
Esses repito sempre.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Rebobinando

Tem como rebobinar a fita?
Preciso.
É o único jeito.
Assim desconheço o que disseste ontem.
Rebobinar a vida é mais fácil que esquecer.
Não sei quem és.
Não reconheço a mão que pega na minha após cuspires em minha cara.

Sobras

sobro.
Sobram em mim braços,
pernas e quadris.
Sobra volume na voz e cumprimentos na rua.
Sobra tamanho.

sobro.
Sobra a minha piada dita ao garçom,
Meus comentários na internet
Problemas que carrego,
Sobra zelo.

sobro.
Sobra agressividade,
Passionalidade,
Personalidade difícil.
Sobra opinião.

sobro.
Tudo o que sou, sobra.
Eu sobro.

Sobras.
Para mim,
Sobras.

Loucura

Partiu.
Palavras que cortam.
Olhares que gritam.
Espaço ocupado.
Vazio.
Neurose
Loucura
Chatice
Excesso
Esforço
Sacrifício.
Não quero.
Não entendo.
Não creio.
Não tem sentido.
Não temos sentido
Mais nada.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Chute

O bom de estar feliz no presente é que as tristezas do passado quando puxam o nosso pé de noite, não assustam. São chutadas para longe.
Como corta ouvir na boca dos outros as notícias que queremos que Saiam da nossa.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mata, Alice!

Maria,
Maria!
O que te passa?
Não sinalizas os caminhos errados e assim sempre escolhes mal! Pães e doces?
Maria, seria menos ingênuo marcar o caminho com as lágrimas que caem desses teus grandes olhos de jaboticabas.
Qual o problema, Dorothy?
Porque não queres voltar para casa?
Bater os pés, repetir "não há lugar como nosso lar", acreditar no coracão do homem de lata.
Ah! Dorothy!
Porque não olhas para os lados e simplesmente caminhas?! Anda! Marcha!
Wendy, sai da janela agora.
Não existe quem seja criança para sempre.
Ele vai sair voando - pela janela ou dentro do carro do ano.
E tu vais ficar velha, sentada na cadeira de balanço e contando para os filhos dos outros as historias do menino que insistisse tanto em sonhar.
Não interessa Alice.
Não acredita no gato com sorriso e relógio, em rainhas vermelhas ou brancas de copas ou de qualquer naipe.
A vida é real, Alice.
Manda o chapeleiro maluco para longe.
Concentra, Alice, respira.
Pega essa arma.
Aponta para todas elas: Maria, Dorothy, wendy.
Pronto. Agora coloca em tua boca.
Mataste todas as ilusões.
Agora, quem sabe, sejas feliz.

Pause

Coloca no pause, por favor.
Já vi esse filme:
a personagem principal sabe que a bomba vai explodir,
que o tempo passou e, mesmo assim, muda de rumo mais uma vez.
Dá um pause, por favor.
Conheço de cabeça a história daqui pra frente.
É impossível mudar o final.

Lactose

Para as baratas, Baygon.
Para a indiferença, solidão.
Para a tristeza? Doce de leite.
A lactose faz doer a cabeça. Assim esqueço que és tu quem me dói.

tentei

Busquei forças em cantos desconhecidos do corpo

tentei
tentei tudo:
me conhecer, te conhecer, me esquecer, esquecer teus erros.
Tentei
Tentei tudo
Moldei o corpo, a vida, os fantasias, os sonhos.
Tentei
Busquei forças em cantos desconhecidos do corpo
Elas não foram o suficiente.
Desisti.


Sonhei contigo.
Acordei feliz.
Somos muito melhores na vida real.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Fica comigo essa noite

Fica comigo essa noite.
Não me deixa ir embora,
Diz que não me quer sozinha,
Trancada no quarto escuro.
Fica comigo essa noite.
Diz que meu lugar é a teu lado,
Que somos feitos um para o outro,
E que os outros não nos importam.
Fica comigo essa noite.
Invade meus sonhos.
faz da minha solidão e da distância uma piada de mau gosto.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O cabide

Se o vestido fosse tudo,
Era pouco.
O álbum,
o pôster,
a sombra,
o prendedor de cabelo,
a árvore de Natal,
o dono do restaurante,
a voz no telefone,
Tudo isso é pouco.
Menos o brilho nos teus olhos.
Esse é o rastro que dói.

Unhas coloridas

As pontas de meus dedos mudam de cor feito luzes de Natal.
Cavam buracos imaginários em tua nuca,
Buscam tesouros escondidos dentro de tua cabeça.
As pontas de meus dedos mudam de cor como o céu ao entardecer na primavera de Porto alegre.
Lá no fundo o sol se põe - laranja, amarelo, vermelho - pedindo pra que aceites minha mão.
Desatenção é pisar na flor que nasce ao chão enquanto caminhamos.

Desintoxicação

Dos poros saem o cheiro, o gosto, o nojo, o peso de cada um dos dias dedicados ao que, no fim das contas, não significa nada.
Nos olhos opacos, faíscas, lágrimas, brilhos, raiva de ter perdido tempo. De não ter tido tempo. De ter negligenciado, desatenta ao que realmente importa.
Na boca palavras sem sentido, frases desconexas, piadas sem graça. Da boca, o cuspe na cara, o palavrão preciso e desnecessário. O grito de desespero.
Desintoxicar das desilusões, das angústias, das dores.
Ficar limpa, de cara limpa,
Um dia de cada vez,
Lembrar para nao repetir.
Ficar limpa, de cara limpa,
Para ficar contigo.

Te amo

Eu te amo quando deito a cabeça em teu peito.
Sou minúscula, pequena, desamparada.
E protegida.
Quando gargalho sem sentido,
rio de piadas sem graça
E teus olhos julgam,
- cruéis que são -
e acolhem meus ruídos
e sorriem para meus dentes.
Amo quando testas meus ódios e paixões, meus sim e não, a cada segundo. Porque me pões em movimento, me tiras para dançar,
no silêncio de tua distância.
E te amo mais, ainda mais, quando abro meus olhos - que, às vezes, giram em torno de seu próprio eixo, tal qual o sol - E os teus olhos estão fixos a me admirar.

sábado, 24 de novembro de 2012

Fones de ouvido

Ponho teus fones em meus ouvidos,
Deito a cabeça em teu peito e
escuto nossos sons,
Os corações batem forte.
Os ruídos do mundo em que não existíamos não perturbam.
Ponho teus fones em meus ouvidos,
Escuto minha voz saindo de tua boca: eu te amo, dizemos.


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Teus dedos, meus nós

Deixa as pontas de meus dedos frios desatarem os nós de tuas mãos.

Aqui, fora da propaganda de margarina, longe das fantasias e dos cenários,
a felicidade também pode ser verdadeira.

Meu mundo é real e tua magia o torna doce.
Coloca teus pés no chão.
É esse o chão que caminho.
Posso imaginar que meus pés estão sob os teus. Podes?

Se conseguires caminhar um pouco, apenas um pouco, brincando de me levar,
Terás desbravado meu mundo real.
Se eu conseguir ficar um pouco, apenas um pouco, sem os pés no chão,
Terei entendido a magia que cerca tua vida.

Deixa as pontas de meus dedos frios desatarem os nós de tuas mãos.

Há dias Marisa monte canta centenas de vezes apenas essa música para mim. Tirei minha dor para dançar e soltei os cabelos ao vento.

"Vai sem direção,
Vai ser livre
A tristeza não, não resiste

Solte seus cabelos ao vento
Não olhe pra trás
Ouça o barulhinho que o tempo no seu peito faz
Faca sua dor dançar

Atenção pra escutar
Esse movimento que trás paz
Cada folha que cair
Cada nuvem que passar

Ouve a terra respirar
pelas portas e janelas das casas
Atenção para escutar
o que você quer saber de verdade"


Baú

Abri o baú das velhas fotos, recortes, lembranças.
O esvaziei, faxinei. Passei um pano úmido com água.
Ficou vazio.
E agora?
Ponho fora ou conto contigo para torna-lo cheio de novas lembranças?

Fantasmas

Vivi muitos anos cercada de fantasmas.
Quis ser como cada um deles:
mais alto, mais baixo, mais gordo, mais magro, mais loiro ou moreno.
Vivi cercada por fantasmas pois topei entrar na casa mal assombrada.
Não quero voltar.
Quero que me aceites como sou.
Quero que mandes embora teu fantasma.
Tira ele de minha casa pois dessa vez não aceitei brincar.

Iogurte

Abres a porta da sala,
Te encontro e percebo:
não fazes nenhum sentido.

Nenhum sentido ter sido diferente do que é
bom dia, tudo bem?
Como vai? Eu vou bem.

És navalha transformada em faca plástica de aniversário infantil
Redundante como iogurte estragado
(os iogurtes já nascem estragados, afinal)

És parque de diversões fechado
Estádio de futebol interditado
És como o quarto de hóspedes: não tens a cara de ninguém

Abres a porta da sala,
Me despeço.
Não despertas nenhum sentido.
A convivência fez de ti o monstro que combates
Em caso de emergência,
Coloque a máscara primeiro em si,
Depois nos outros.
É apenas isso: depois nos outros, não apenas em ti.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Chego no quarto do hotel,
Desmancho a cama,
Com travesseiros e cobertor deito no sofá.
Assim, finjo me sentir em casa.

O novo

Olho atenta para o corpo distraído em minha frente,
Insegura,
falo bobagens e rio sem jeito. Desconheço limites, gostos, cores. Manias e trejeitos.
Conheço os defeitos. luto para que eles fiquem lá, no passado.
o que vale é o agora?
Me reinvento.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Então ser feliz contigo é como parar de fumar: passo a passo, difícil para sempre.

domingo, 18 de novembro de 2012

Escolhe o que faz,
No que investe,
O que come ou bebe.
Escolhe a roupa,
A companhia,
O esporte ou brincadeira.
Escolhe a hora, o local, o traje ideal.
Pensa e Escolhe os vazios que queres deixar.
Pois eu vou escolher com o que preenche-los.

Domingo 2

Deveriam proibir domingos sem mesas cheias e barulho de criança.
proibir domingos vazios.
Domingos não são feitos para solitários.
ficam cheios daquilo que não fomos,
Daquilo que não somos,
Daquilo que não temos.
Dos sonhos que não realizamos.
A semana poderia acabar no sábado,
No domingo acaba a esperança.

Domingo

O final de domingo foi feito para doer tudo aquilo que não temos na semana. e na vida.
Quando teu reflexo aparece no espelho dela, nada faz sentido para mim.
Não precisa duplar as paredes.
O barulho todo está dentro de mim.

Espada

A água sai do chuveiro,
Sento no chão desde sempre,
Com a cabeça encostada nos joelhos.
Nem eu mesma conheço minhas lágrimas,
Saem de meus olhos e ao entrarem no ralo já se transformaram em espuma de banho.

Desde Sempre fui assim.
A vida me fardou para sua guerra:
Minha espada é feita de palavras afiadas
Meu escudo de risos altos e gargalhadas invasivas.
Meu deboche fez com que eu risse por primeiro.
Mas quem ri por último, ri melhor.

Ligo o chuveiro,
Sento no chão.
Olho para o ralo,
Encaro as lágrimas.
Elas tem o jeito dos sonhos que matei com minha espada.

sábado, 17 de novembro de 2012

Sempre tem um balde de água fria pendurado na porta.
Odeio quando sinto culpa de ser do jeito que sou

Celeste

Me cobriste de azul celeste
Como se pudéssemos viver uma história de amor escrita para os santos.
Eu queria apenas amor,
Sem desenho prévio,
Sem mapa de viagem.

disseste que estarias sempre ao meu lado, de mãos dadas, olhando por mim.
nunca te pedi proteção.
queria apenas parceria ilimitada, aventura, companheirismo.

Acendeste velas,
Floriste o corredor central da Igreja,
Te confessaste.
esqueceste de mim.
Lembraste do que os outros queriam para nós dois.
Eu?
Eu queria apenas ficar contigo.

Jogo do copo

Custou a passar.
Deixei velas acesas aos teus santos,
Troquei as flores semanalmente.
Confidenciei meus maiores medos, vitórias e derrotas com tua foto sobre a lápide,
com letras recortadas sobre a mesa.

De repente, tanto tempo depois,
Quando julgava que o luto seria eterno,
Que ficaríamos juntos para sempre -
Mesmo separados -
de repente,
acabou.

Mandei teu fantasma embora.
Tirei o negro do corpo e
vesti todas as cores.
Gargalhei, livre!

Por favor, não apareça nem no jogo do copo.
Nem ali, no lugar dos mortos, te quero mais.

Para mim, Não resta nada
senão a vaga lembrança de que um dia estiveste aqui.

Tua presença

Acordo,
Abraço teu casaco feito bicho de pelúcia.
Não és meu durante as noites,
Há um mundo que te escuta.

Tua ausência é transformada em presença, tal qual transformaste
a Madeira que dá forma a casa.


És a colcha colorida,
O bicho de pelúcia improvisado.

Estas aqui, abraço teu casaco.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Te Mistura,
Junta,
Transforma.
Não precisa ter medo algum.
Que lindo ver o girassol aceitar o calor do sol!

Seguem os mesmos,
astro rei,
singela flor.
Lindos e fortes e delicados sozinhos.
perfeitos
quando tornam-se parceiros em movimento.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Jogo do não

Nunca soube fazer o jogo do não.
Não gosto, não quero, não posso, não amo.
O jogo do eternamente em suspense, em pausa, em dúvida. O jogo do talvez não seja bem assim e eu não seja exatamente tua.
Sempre dou play e nunca pause. Se quero, falo. Se sinto, conto. Não há arrependimento em ser inteiro.
Sempre estou onde me vês.
Mas caminho.

Desperta!

O dia amanhece lento, colorindo a cidade que desperta. Dormes em cada canto da minha cidade. Dormes na cama bagunçada vazia, na geladeira cheia que conversa com seu ruídos e sucos, no banheiro de azulejos brancos e espelho lascado. Dormes na cidade que desperta, com seus táxis cor de fruta, suas ruas ajardinadas e seus andarilhos. Perdes o horário. O tempo. Não despertas para mim. Dormes.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Não sonhas - ou sonhas? -
Como tento apagar isso tudo de minha cabeça e, simplesmente, acreditar.
Mas escreveste a caneta. A borracha não apaga.

Mulherzinha

Uma hora a mulherzinha dentro de mim sai pra fora.
Nem que seja nessas malditas lágrimas que insistem em aparecer.

Canivete

Meu canivete é original.
Não levo tantas horas para cortar o braço.
Posso ser rápida.
Basta olhar o mundo
pra entender que não consigo ser inteira nele.
Pego o canivete.
Me Corto.
Assisto ao filme todos os dias.
Todos os dias penso que não há espaço para uma personagem principal.
Serei sempre coadjuvante.

A casa


A casa é feita de escolhas.

Escolho.
E trago em mim o peso de cada renuncia.

A dor do verde rejeitado para ser a parede rosa.
A memória da velha cama de casal trocada por outra, com molas mais novas.
A aparência do antigo quarto de criança transformado em Escritório!

Como seria essa casa verde,
Com a cama de molas velhas e crianças crescendo no meio de uma bagunça maior que a do Escritorio?

Aproveito a cama nova, acomodo o travesseiro, ligo a luz. Escolho um livro e aproveito o silêncio da casa vazia para aprender um pouco mais.

Escolhas.
A casa é feita de escolhas.

Fotografia

É impossível desatar a nós,
aos nossos nós.
Nossos bons são contraditórios
Estamos em andares diferentes.
Em tempos diferentes.
o mesmo mundo,
Os mesmos Sonhos,
Duas realidades.
Vivemos em Dois planos distintos.
Na fotografia os planos se aproximam.
Tentamos?


Dê descarga em tua cabeça,
Por favor.
Eu troco o lixo do banheiro.

domingo, 11 de novembro de 2012

Gritas
no telefone
Na rua
Não tem sentido.
Cansa
tanta grosseria,
Neurose,
Reclamação.
É uma ansiedade,
Um agito
Um barulho perturbador.
Sempre um problema.
Cansei.
O problema, na verdade,
é que ficaste como eles.
Faz caras e bocas e poses e pouco caso do que há de melhor no mundo.
Faz caras e bocas e poses.

Crediário

A parcela do crediário durou mais tempo que o amor.

sábado, 10 de novembro de 2012

Lagoa

São muitas e enormes as andorinhas que voam levadas pelo forte vento na lagoa. Colorem o céu. Competem na paisagem com os Moinhos de vento. Todo o espaço é ocupado. São pássaros gigantes voando sobre campos de moinhos eletrônicos!
O vento faz luz, pássaros e os cabelos voarem! O vento me faz sorrir. Sinto como se tua mão tocasse meu rosto.

Toalha de mesa

A renda da toalha de mesa é da cor do arroz servido sobre ela.
O riso solto faz a conversa casar renda com feijão.
A Toalha é rendada para celebrar a simplicidade do arroz e feijão. Da felicidade.

Te sonho

Não entendes mesmo porque durmo tão pouco?
Porque acordada tenho certeza que não estou te sonhando.
Sempre achei insegurança não falar o que sentia para as pessoas.
Descobri ser arrogância não dar aos outros o direito de falarem por si.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Só dirige sem retrovisor quem tem alguém sentado ao lado, cuidando o fluxo de veículos.

Calo

Nunca fui princesa para andar de carruagem.
Sempre tive as rédeas em minhas próprias mãos.
Garanto: dá calos.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Simples assim

Overdose de liberdade
Brincadeira de entrar e sair de casa,
De minha própria casa.
Bateste na porta.
Colocaste meus dedos entre os teus,
Deitei em teu ombro e o beijei.

a felicidade é simples
Como sentar no mesmo sofá,
Falar sem parar
assuntos diferentes
chá e leis e livros e canções

A felicidade é simples
Rir do sorriso
Do rolo de fotos do celular
Pegar o cacho de cabelo da nuca
E olhar nos olhos
E no olho ter certeza
Que a vida poderia ser sempre
Simples assim

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Conjuntos matemáticos

Intersecção.
Um contido no outro.
As aulas de conjuntos matemáticos fazem sentido.
Visualizo toda a tristeza e alegria como dois conjuntos que se relacionam numa intersecção provocada por ti.

Marcada

Por favor, imploro.
Pega a faca e corta.
Arranca de mim tudo o que sobra.
Como todas as dores físicas,
Minha alma acordou doendo.
Sinto pelo que não quis ser no passado,
Sinto pelo passado que nos
Marca.
No corpo. E na alma.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

sorri para mim e o mundo inteiro fica um lugar melhor

.

Te vejo na televisão do computador. Contas tua vida, falas sobre os degraus que subiste sozinho. Vejo um sorriso que desconheço e penso em tudo que desconhecemos um do outro. Minhas lágrimas fazem parte da escadaria anterior a atual. também os dentes que mostras bobo no computador em minha frente não sobem esses degraus contigo.
Olho para o computador, diminuo o brilho para teus olhos não doerem tanto em mim. Dou um Pause.
Torço para que nossas escadas nos levem ao mesmo andar.

Demônios

Meus demônios são enormes. Torres de três andares com paredes que não se sustentam, sem vigas.
Meus demônios são espaçosos e sedutores. Cantam como sereias meus defeitos e tentam me afogar em minhas angústias.
Eles são enormes. E daí? Tamanho não é documento. Baratas são pequenas e me causam medo. Meus demônios? Ah! corro todos eles com a tinta da caneta.
Eu posso te ajudar a atravessar essa rua escura. Para isso, preciso que pegues minha mão.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Lápide

Levei treze anos para perceber que não voltarias.
Não saíste para comprar cigarro mas saíste de ti, de nós, de nosso passado comum, de nossas vidas.
Levei treze anos para perceber que mesmo sem teu corpo, deveria escrever tua lápide:
"Ali, no balanço vazio, vive o menino que brincava comigo"

Mini mundo

Sei que tu sonhaste a vida inteira em te ver crescer com os olhos que perdeste ainda criança. Sei disso.
Mas já o realizaste! Não reafirma tua felicidade jogando em minha cara minha frustração de nunca ter me visto em miniatura.

Voyeur

Não quero ser voyeur de teu passado. Não deixa a porta entreaberta. Eu não quero imaginar uma história pronta.
O olho mágico da porta funciona para quem esta do lado de dentro. Estou fora. Tenho a visão distorcida. E sempre contra mim mesma.
A perfeição do que vejo impõe objetivos que não consigo alcançar.
Fecha a porta. Tapa o olho mágico. Me leva para uma outra casa, no tempo presente. Com o passado dentro de ti, longe de mim.
Me leva para uma outra casa. Não quero ir sozinha.

SIM

"preciso sim, Preciso tanto. Preciso que alguém aceite tanto meus sonhos demorados quanto minhas insônias intermináveis".

Aceita?
se disseres sim, o garçom terá atendido a meu pedido de dias atrás:
"um café e um amor. Quentes, por favor".
-----
As aspas são de Caio Fernando de Abreu

domingo, 4 de novembro de 2012

Caio f Abreu

"se me perguntarem como estou, eis a resposta:
Estou indo bem, sem muita bagagem.
Pesos desnecessários causam sempre
Dores desnecessárias

Esvaziei a mala, olhei no fundo dela, limpei e estou indo...
Preenche-la com coisas novas.
Sensações novas, situações novas, Pessoas novas
Tudo novo"
Uma paulada na cara.
Um beijo no ardido do machucado.
Cá e lá.
Não sei o que esperar de ti.

Entrelinhas

no velho caderno de caligrafia as letras ocupam o espaço inteiro das linhas.
Somos nós que, ao escrever a história, deixamos espaços - ou não - para que outras frases sejam escritas nas entrelinhas.
No meu caderno, evito.

Gargalhada

Hoje seqüestraram minha gargalhada.
Pedi para me ajudarem no resgate.
O cativeiro? O passado.
A esconderam num tempo em que
eras diferente.
Fiz um check list do que não quero para minha vida.
A lista é pequena:
não conviver com gente desatenta e egoísta.
não aceitar esse jogo infantil de "gostar de quem não gosta"
não olhar para quem olha a diferença como inferioridade
não ser e nem ter plano B.

Não ficar ao lado de quem gosta de mim apenas forte.
Aí é fácil.
Quero saber de gente que entra no fogo, caminha na brasa, entra na água.
Quero saber de quem gosta de mim fraca, decepcionada, triste.

Quem me entender fraca,
saberá desfrutar da força extraordinária
que trago de lá.
Quem me quer apenas forte, aproveite. A porta da rua é serventia da casa.

sábado, 3 de novembro de 2012

Cachos

"como pude ficarmos assim?", pergunta Quintana ao velho refletido no espelho.
Encontrei o balanço em que embalava meus sonhos. Ali sentei. Com um nó - daqueles que apenas os marujos sabem dar - minha garganta sufocou.
A menina que competia com o irmão caçula pela altura dos balanços, a menina que ia a missa para brincar no parque de diversões não reconheceu a adulta com olheiras profundas.
A vida fez com teus sonhos aquilo que faz com as mulheres que desejam nascer com o cabelo crespo. Transformou teus cachos em cabelo escorrido, disse a menina, fazendo a adulta chorar como criança.
Estou em movimento.
Ação.
Reação.
Sou brisa
Ou tempestade.
Depende de ti.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Futuro

Na estrada homenageiam
aos mortos.
Cruzes marcam Saudades.
trago as minhas dentro de mim.
Acidentes de uma vida em alta velocidade.

Passei anos fugindo
de tudo que reencontro
em cada casa da esquina.
Corri.
Ignorei que tudo estava dentro de mim,
cada peça do quebra-cabeça.

Volto ao meu passado.
No tempo em que éramos muitos,
Em que o rei era Alberto e todas nós, sentadas na volta do piano ou do violão de nossa mãe, éramos princesas.

Volto para o tempo em que os Natais marcavam a disputa pela última empada de camarão.
O tempo em que a sentávamos na rua e vendíamos papéis de carta feitos em casa.

O tempo da frigidaire cheia de ambrosia,
Das garrafas contadas de refrigerante,
Dos gritos que nos
Impediam de pescar lambaris no Rio ou de nadar mais fundo na lagoa Mirim.

Voltei para a casa.
Voltei para dentro de casa.
Para a mesa de vidro no centro,
Para a rede com horários marcados,
Para as cadelas no pátio com a única rosa que nascia abaixo da única parreira.

Voltei para mim mesma.
Voltei para meu passado para mudar meu futuro.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Amar é...
Passar por uma girafa de gesso na estrada e lembrar de ti.
Acabo de desistir.
Não tenho preparo técnico
Para competir com toda a felicidade
Que já viveste.
Como queres me fazer acreditar em justiça?!
Ela realizou meus mais antigos sonhos sem jamais sonha-los.
Eu vi a vida que ela quis pela janela e a deixei passar.
Tenho medo de morrer afogada de ti
Cada lágrima que seguras
Por dores tuas que não são minhas
Provocam um tsunami dentro de mim.

Passado

Fiz tudo o que disseste:
Tapei o espelho, rezei para o anjo da guarda,
Contei carneiros, repeti mantras,
Atirei com balas de prata,
Paguei por um exorcismo.
E todos,
todos os meus fantasmas seguem aqui.
Onde esta tua mão para eu apertar,
Cravando cada uma de minhas unhas vermelhas?


Lembraste de Ghostbusters,
Jurando eliminar os fantasmas lá de casa.
Estou fora e eles me perseguem,
Debocham de minhas certezas,
Zombam de tuas promessas,
Confundem minha imagem projetada no espelho.
Sou parecida com quem não quero.
Com quem enterrei no passado,
Cuspindo no caixão e jogando rosas de maneira desajeitada.


disseste que não me deixarias sentir medo.
Que acenderias a luz do quarto,
Que meu pesadelo era apenas um pesadelo.
Acreditei.
Mas escuto aquele choro de criança lá no fundo, baixinho.
As outras meninas gritam coisas horríveis,
Mutilam o corpo,
ela chora no canto escuro.
Não tenho coragem de ajuda-la,
A abandono.
Ela vem comigo.
A janela está escancarada e eu choro.
Encolhida, desesperada, assustada.
Choramos juntas.

Tomo um tapa na cara para enfrentar o pânico.
Corro ao teu encontro,
Consigo trancar todos os fantasmas, dores, barulhos e medos
Dentro de casa.
Escondo a chave em meu próprio corpo.
Livre, corro ao teu encontro.
descuidado, desatento, encontras a chave.
Entras na casa comigo em teus braços.
Ficaremos ali, juntos.
Eu, tu e todos os meus fantasmas.



Já te olhaste no espelho hoje?
Amanheceste diferente de tudo o que te mentiste ser.
O peso do nome não dado é insuportável.
Dê nome aos teus bois!
João, Pedro, Henrique.
Saudade, amor, pra sempre.
Fuga, passatempo, pra passar tempo.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

sempre
conseguiu qualquer coisa
que quis.
Nunca conseguiu
gostar de mim
Como queria.
Tem dias
que nenhum filme de terror
daria conta
De todos os medos
que despertas em mim
Hoje rezei para que não te encontres contigo mesmo.
não freqüento encontros sem ser convidada.

Dom quixote eletrônico

Luzes de natal os enfeitam.
Da lagoa,
Quixote Observa.
Teme que sua espada
não os alcance.

plantação
de moinhos de vento.
centenas.
Teme enfrenta-los de uma só vez.

ele é quixote,
eles moinhos.
Não interessa
que produzam eletrecidade
e ele esteja na água e
Não no cavalo.

Eles são moinhos,
ele Quixote.
Os enfrentará.
Em qualquer tempo da história.


------
Tenho um sonho de ver dom quixote na plantação de moinhos do parque eólico de Osório há anos.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Fênix

Olho pra ti
vejo flor que brota
entre as pedras.
Lembro Darwin.
o ser mais forte
ser forte
não significa nada.
Nada. Nada!
sobrevivem aqueles
que se adaptam melhor a realidades novas.
Olho para ti
vejo o mundo
flores amarelas e lilases
sobre pedras cinzas.
Sobre cinzas.
Fênix.


Amo correr o risco de repetir contigo erros que odeio ter cometido.
Se os corro é porque estou viva!
Meus olhos estão furiosos.
Não acreditam que estavas aqui desde antes.
Como puderam não brilhar por ti desde sempre?

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Fotos

Apagando fotos
Lembrei de vidas passadas
já apagadas

Tira esses olhos fixos de mim.
Eles foram feitos para olhar para dentro dos meus. Não para julgar meus modos e gestos.
Teus olhos foram feitos para ver o belo e o feio.
Fazes outros vê-los através do que eles vêem.

Tapa teus ouvidos.
Não presta atenção em palavras que não podes compreender. E dentre o que não compreendes opta por aquilo que é dito na cama ou no banho, não na mesa.

Cala quando fores cortar.
Tua boca não é navalha para dilacerares o corpo e a mente dos outros com palavras que sangram.
Tua boca é posto de combustível para dias melhores.
Abastece aos outros com aquilo que tens de melhor: Tua delicadeza.

Lixo

Atirou as palavras como quem atira lixo na estrada.

Uma bituca na chuva apaga.
Em Brasília, incendeia.

O saco plástico sem vento, pára.
No vendaval cobre o vidro de quem anda atrás.
Tira a visão.
Acidenta.
Mata.

Um pouco de política

Muitas vezes, nos quinze anos em que milito em meu partido, me perguntei se não deveria seguir o caminho "original", o caminho que idealizei até meus 16 anos.
Aquele em que eu seria professora, ajudaria a melhorar o mundo dando aulas na universidade, em que estaria sentada na grama cercada por filhos correndo.

Como sou humana - e nada do que é humano nos deve ser estranho, diria Drummond - quando fui sozinha pra Brasilia ou quando vivi crises políticas mais agudas, pensei em voltar para transformar meu sonho em realidade.

Mas em dias como o de ontem, em que milhares de pessoas tentam melhorar o Brasil com seus votos, nesses dias, acredito que esteja com mandato se deputada ou dando aulas, minha vida é mesmo a vida de quem acredita que os melhores sonhos (mais felizes também) são aqueles que compartilhamos com outras pessoas.

-----------------

Nem sempre ganha quem nos queremos que ganhe. Eu mesma já fui derrotada duas vezes em eleições majoritárias. Mas o que mobiliza a população também deve nos fazer prestar atenção e não apenas o resultado.
Seria Obama igual ao que mobilizou os americanos em sua primeira eleição? Não. Mas isso não apaga o significado daquele movimento.

------------
Volto agora para minha licença poética não remunerada. Segunda serei deputada novamente e terei menos tempo para isso.
Ping
Ping
Ping

Todo dia
Todo o dia
Todo santo dia
Pinga água junto
ao ouvido Do preso.

Ping
Ping
Ping

Tortura.

Ping
Ping
Ping

Ping.
Uma noite pingou pouco.
Pingou ácido.


domingo, 28 de outubro de 2012

Margarina

Não fui contratada para teu comercial de margarina.
Apenas assisto, sentada no sofá, com minha xícara de café.

Dialética

Dialética do
Yng
yang
Duas em
Uma
Um contido no outro
Alegre
Triste
Cansada
Feliz
Sorriso falsos
Pra fora
Lagrimas verdadeiras
Pra dentro
Dialética

Lento: Julieta venegas

Si quieres un poco de mi
Me deberias esperar
Y caminar a paso lento
Muy lento

Y poco a poco olvidar
El tiempo y su velocidad
Frenar el ritmo, ir muy lento, más lento

Sé delicado y espera
Dame tiempo para darte
Todo lo que tengo

Si quieres un poco de mí
Dame paciência y veras
Será mejor que andar corriendo
Levantar vuelo

João e Maria

Olho para a "trilha" entre as árvores e percebo que perdemos o caminho marcado por pequenas pedras.

João e maria.

Preciso chegar lá.
Te busco há tanto tempo!
injusto te perderes.
Injusto te perder de mim.

Compostela

O travesseiro está molhado.
Será que saberás o quanto posso doer?
Aperto os olhos.
Dói ter chegado aqui.
Foi santiago de Compostela.

sábado, 27 de outubro de 2012

Houve um tempo
em que as roupas
Não cabiam em mim.
hoje eu não caibo.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

👑

Escolher batatas,
Comer frango com polenta,
Fotografar com flores,
Deitar no chão e
Rir de tudo que significa nada.
Pra que príncipes correndo em cavalos brancos?
Prefiro nosso carrinho de supermercado.


.

Família

Caleidoscópio de ti.
Cores, formatos, misturas.
Tuas partes,
O desenho do que foste,
Do que te tornaste
E daquilo que serás!
Caleidoscópio de ti.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Feliz

Escultura

Abro.
Fecho.

Rio.
detestas tatuagem,
Viraste uma.

Fecho os olhos.
Abro novamente.
Segues ali.
Esculpido na retina.

Galeano

Essa mulher
é uma casa secreta que esconde fantasmas.
Quem entra nela, dizem,
nunca mais sai.

Galeano me descreveu tão bem que deduzi que sabias.

Saíste.
Saíste depois
de atravessar o fosso
que cercando
me protege.


------
Sobre "janela sobre uma mulher"

Campainha

A campainha toca
A voz desce dois tons
Olhar taciturno

A campainha toca
Teletransporta
Telesufoca

A campainha toca.
nunca Estiveste aqui.
Estas do outro lado da porta.



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

É definitivo.
Sou da turma dos esquisitos.

Com 5 gostava de filmes trágicos.
Com 12 queria casar com o Paul.
Com 15, pesava 100.
Com 16, 60.
Torcia para a bela ficar com a fera e pro príncipe loiro (e babaca!) ficar perdido na selva e ser devorado.

Quando a adolescente gorda e divertida chegou longe, virou musa.
quando sorrio para aliviar a tensão, apontam o dedo como deboche.

Quando rio demais, estou acabada.
Quando reticente, feliz.

Quando corro para não chorar,
crêem ser ataque.
quando protejo, assusto.

Quando desligo, Acerto.
Tentando acertar, afasto.

Anjo torto.
Sou Líder da turma dos esquisitos.




Loser

Depois de tantos tombos
levantei com espelhos nos olhos ao te encontrar

Vi tuas mãos em miniatura em quem mais amas e sorri como se elas também fossem tuas

Fiquei quieta pra calar contigo e falei para construir Pontes com as palavras. Joguei bombas. Implosão.

Tatuei o medo bobo da felicidade para tentar mantê-lo sob controle.
Perdi.
Loser
That's it.
Loser.

Como diria o "la la la la la la" de meu tempo:
"soy un perdedor, I'm a loser baby..."
E a música toca, arranhada pela agulha da tatuagem, sem parar.

Olhos

Olhos parados
Atiram contra o nada
Acertam em meus sonhos
Olhos parados
no passado

Menina

Com a mochila nas costas, saindo da escola, a pequena menina de cabelos longos foi se afastando. Longe. Cada vez mais longe de mim.
Cálculo renal
Enxaqueca
Parto
Cerimônia de adeus

Barata

Matar barata
Trocar a lâmpada
Tocar a obra
Pagar as contas
Essa é a vida real
Sem maçã do amor
Pérolas no colar
Rosas na porta
Velas no jantar

Pra ti

"O que quer dizer?"
Não pergunta o que não vou responder.

Estou com meu próprio mapa na mão e o estás lendo comigo.
Real time.

Me inspiras
a ser eu:
yng e yang.
Alegre e triste.
boa e cruel.
Lembra que te contei do gato do Gargamel?

vibras a Corda da vida.
Escuto.
Escrevo.
Impossivel te sentir e calar.
rimas o sofá com a parede!
Como não inspirar?

Mas não pergunta o que eu quis dizer.
Vou mentir, inventar,
Sonegar, sorrir, corar.

tudo aqui é pra ti.
Até o que não te diz respeito.

Pois se sentes o que escrevo
Sabes quem sou.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cinderela

São apenas goteiras.
Pingos d'água.
Conta gotas.

Isso é tudo?

Sorry, baby.

sorriste.
entendi errado.
Na caravela
Avistei o mar inteiro.

não apenas essas gotas salgadas
que sordidamente decoram
Teu castelo de areia.

Presa na torre,
Apenas goteiras
Pingos d'água
Conta gotas.

Sorry, baby.

Caminho sobre o castelo.
Piso com força.
Destruo com meus pés
Que nunca usaram
sapatos de cristal

Sobre os escombros
Vejo o mar inteiro
Sinto o vento Salgado
Corro.
Ele é meu.
Todo ele.

Não apenas as gotas salgadas
De minhas lágrimas na torre.





__

Agulha
cura
fere
Arranha o vinil
empaca a música
Tatua.
Pra sempre.

CTRL C

Não. Não passa a limpo.
Não há como.
A vida que queres agora
já viveste.
E a viverás para sempre
dentro de ti.
Não.
Não me impõe
Copiar e colar.
A vida que que quero agora
Não vivi.
Sonho vivê-la desde sempre,
Dentro de mim.

Errado

Vestibular na vida.
Interpreta textos o tempo inteiro.
Sinto saudades, ele diz.
Legal, ela responde, marcando a opção B.
Legal? A resposta correta não seria aquela da opção A, que dizia "eu também"?
Eu te amo. obrigada. Opção errada.
Quanto dito no não dito.
Vestibular? Difícil é viver, tanto tempo depois.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ab

a
Espirro.
Choro trancado.
Pêlo de gato.
Passado, presente.
Medo.

b
Olhos parados.
passado, presente.
Sorriso fechado.
Medo.

a
Baixo a cabeça.
Baixo a guarda.
Sorrio.
Fecho os olhos.
Choro, apaixonada, para dentro.
Medo.

B
baixa a cabeça.
Fecha os olhos.
Sorri sem Vontade.
medo de pensar no que ama mesmo.
Medo.

***

Teatro?
Novela?
Cinema?
Chega!
Fechem as cortinas!
O espetáculo acabou!
Chega de atuar.

Chega!
Escreve um livro,
Planta tua árvore,
Se queres fugir da tua realidade.

Chega de falar em A,
sou o teu B.

O circo partiu.
A graça ficou.

Tu

Tu tu tu tu tu tu tu
O som do telefone batido em tua cara é tudo aquilo que consegues pensar.

Aviso aos navegantes

Essa blog não é um espaço de autobiografia. A maior parte dos meus textos é escrita com base em meias conversas ouvidas na mesa ao lado no restaurante, imaginações de finais de historias contadas no elevador.
Ou seja, não se identifiquem, não identifiquem pessoas. São apenas textos.

domingo, 21 de outubro de 2012

Correndo

Quando dói demais corro.
Corro de tua beleza que irrita.
Corro de teus silêncios que torturam.
Corro de mim mesma, que grito.

-/

Chuta.
Faz ser menor o que viveste.
Chuta.
Manda flores e champanhe para enterrarmos os sonhos.
Chuta.
Faz com que outro sinta as dores de teu parto.

sábado, 20 de outubro de 2012

Armário

Na bagunça do armário eu havia perdido o sorriso bobo e a gargalhada gratuita. Em outra prateleira, entre camisetas mal dobradas escondi minha coragem de içar velas e pular muros.

O inverno em que não senti frio no estômago foi longo. Mas a primavera chegou e no chão, num daqueles tapetes coloridos de flores roxas e amarelas, encontraste o brilho de meus olhos. E o devolveste, arrumando, assim, todo o meu armário.

Desenho

desenho com os dedos cada cacho de teus cabelos.
Os imagino brancos num dia em que viverás. Nesse dia serás feliz e teus dedos seguirão criando o mundo no violão. Os meus seguirão desenhando teus cachos, enquanto luto para o mundo ser mais parecido com aquele que cantas.

Hélio

Deverias ter o nome do gás que faz com que os balões voem leves para sempre.
Hélio, me encheste de vida, como se fosse eu também um balão capaz de voar leve, para sempre.

-

Existem silêncios que gritam em minha cabeça.
Silêncios que fazem nossos monstros gritarem.

Colorida

Colorida caminha, colorindo o silêncio da casa cheia de ausências. As patas na madeira ecoam o som dos fantasmas que ali habitam.
A vida em preto e branco. Colorida caminha.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Contigo


Sozinha.
Deitada no sofá com a melhor roupa de ficar em casa. Faz frio mas o cobertor aquece e na televisão faz um barulho qualquer. sessão da tarde ou vale a pena ver de novo.
Cochilo. Acordo e posso comer tranqüila uma panela inteira de negrinho. Um pé toca no outro e a cabeça se aconchega no travesseiro.
Assim, como na melhor tarde de descanso depois de uma jornada intensa de trabalho, me sinto contigo.

*

Engasgada pelas Palavras presas na garganta.

Atordoada por realidades imaginadas.

Com Hemorragia interna de Lágrimas não choradas.

Dores na alma.

#

Coloca bastante gelo em
Tuas partes amputadas.
Assim, fica impossível reaproveita-las.

Navalha

Não há lei que me proteja das tantas vezes que me mataste com tuas palavras afiadas.

/

Cansei de ser tocado pelas mãos que o tocam.
Cansei de ser ouvido como se falasse com a sua voz.
Cansei de ser medido pela régua feita sob medida para outro corpo.
Esse é meu corpo: flácido, cansado, vistoso. E é esse corpo disforme que não te falta.

Defeitos

Todos os dias ele gritava os defeitos dela para tentar construir as próprias qualidades.

Não via que entre suas virtudes estava, justamente, o fato de ignorar os defeitos dele.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Cara

Odeio conhecer a cara do teu passado. Essa cara ocupa o mesmo espaço que os sonhos que tinha para o nosso futuro.

De volta pra casa

Sinteko no parquê.
Nas paredes descascadas, uma demão de tinta branca. Nas laterais? magenta.
tapetes lavados, sofá forrado.
Azulejos limpos com alvejante.
O banheiro cheira a pinho.
Os lençóis? São novos.
Pronto. Depois de muito tempo longe de casa, voltei para mim mesma.
És bem-vindo.

Dois pesos, uma medida.

Aço.
Algodão.
Um quilo de cada.
Tudo igual.
Tudo diferente.

Canetinhas

Canetinhas nas mãos de criança.
Desenho, mesa, mãos, roupa.
Tudo enfeitado de verde, azul, vermelho.
Festa das cores e sentidos.
Assim, bem assim, colores toda a minha vida.

Sem perder a ternura

Não viemos ao mundo para viver da comida insossa do hospital.
Somos feitos para o tailandês.
Tira o sal. Ele é coisa do passado.
Joga cury verde, bem forte.
Põe bastante pimenta. Daquelas com três desenhos no rótulo. Ardidas.
Um pouco de mel e muito leite de coco. Faz parte da confusão misturar a delicadeza com a força.
Assim é a paixão. Tal qual comida tailandesa.
Intensa. Mas sem perder a ternura.

domingo, 14 de outubro de 2012

Memória

Apaga o passado do celular.
deixa a memória livre para o futuro que viveremos hoje.

Espaço em branco

Não. Não deixa nenhum espaço em branco entre nós.
Esses são os espaços das interpretações, inseguranças, ausências, passado.
Não. Não deixa nenhum espaço em branco entre nós.
Deixa espaço para sermos apenas um, às vezes. Deixa espaço para sermos dois, sempre.
Não. Não deixa nenhum espaço em branco entre nós.
Nascemos para preencher o branco com nossos sonhos. Para colorirmos a vida com nossa paixão.

Mapa da vida

Amo planos.
São Mapas da vida:
"Pegue seu sonho de infância e o realize. Depois, comece aquilo que deixou para o próximo ano há mais de dez anos. Acredite. Dessa vez será diferente."
Os planos são a prova da esperança interminável de que dias melhores virão. Sim, Eles virão.
Fazer planos é Curar feridas e estar disposto a abrir novas!
É aprender a andar de bicicleta: cair, levantar, equilibrar, respirar fundo e seguir!
Faço planos. Subo na bicicleta, visualizo o mapa da minha vida e escolho o trajeto. Um novo e desbravado trajeto. Desta vez coloco o capacete e outros equipamentos de segurança. Pedalo em Direção a minha vida.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sorte no jogo...

Os gritos de comemoração do gol de seu time de coração fizeram com que toda a tristeza fosse transformada em lágrimas. afinal, comprovavam o ditado popular.
Maldito momento em que decidiu sair de casa e não assistir ao jogo.
Tudo teria sido diferente.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Por medo da felicidade do presente deixaram o passado borrar o futuro.

Gol contra

Ao meio dia errou o restaurante: marcou em um, esperou no outro.
À meia noite errou as palavras: tentando fazer feliz, desfez o sorriso.
Gol contra. Quem olha para apenas para o atacante e não pro goleiro, sempre marca.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Recomeçar

Minha licença não remunerada da Câmara encerra em 2 de novembro. Assim, terei esses dias para organizar a vida, fazer planos, avaliar os acertos dos adversários e erros nossos.
Recomeço.


Assisti ao filme "os intocáveis" hoje a tarde no cinema. Uma homenagem delicada à amizade. Terno, profundo, sensível.
Vale cada sorriso e cada Minuto.

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Na net assisti "Virada de Jogo", filme sobre história da construção marketeira de Sarah Palin, candidata a vice na Eleição americana.
Muito bom. Serve para avaliação das eleições e superficialidade de alguns processos.

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Li "a favor do vento", de Duca Leindecker.
"A casa da esquina", primeiro livro dele, é delicado. Mas o segundo tem um final surpreendente.

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domingo, 7 de outubro de 2012

!

"há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus-, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, tambem com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom" Caio F Abreu

Mas há a vida - Clarice

Mas há a vida
 que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

Exigência

"Eu disse a uma amiga:
-a vida sempre superexigiu de mim.
Ela disse:
-mas lembre-se que você também sempre superexige da vida.
Sim."

sábado, 6 de outubro de 2012

.

Contou cinco estrelas no céu.
A carne assava, a gata pulava.
As cervejas brindavam,
Música na rua,
Criança tranqüila.
Falavam da vida.
Estava acordada.
Sonhava de graça.

Até aqui

Abri os braços para sentir o vento soprar. Ao fundo, um Rubem Berta que me acolhe no carnaval, nas lutas, nos sonhos.
Senti o corpo inteiro: dos pés à cabeça. Inteira dando dois passos rumo a utopia de uma cidade melhor.
Encerrei essa etapa da campanha sentindo o vento da cidade real que faz com que meu coração bata forte.
Até aqui?
Consciência tranqüila.
Mente quieta.
Espinha ereta.
Coração tranquilo.
Até aqui?
Obrigada.
Pela confiança.
Pela esperança.
Até aqui?
Orgulho de tudo o que já fizemos juntos.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Teus planos

E então, Quais são os teus planos?

Dedos murchos na banheira

Pular o portão, rasgar a meia

A brincadeira de mal gosto

A casa impregnada da fumaça da lareira

A troca de mensagens em
Pleno mês de agosto

A tatuagem que fez chorar ou A outra que faz corar?

Um banho de chuva para crer mais na vida ou passar a tarde inteira escondida?

Meu plano é não ter nenhum plano.

É contar contigo para por o dedo na ferida.

É te atordoar com perfume demais.

E, assim, te fazer feliz.

Parque

No parque de diversões da vida, acostumamos com a roda gigante.

A roda gira.
alta ou baixa.
é a roda gigante.
Previsível.
Gira.

no trem fantasma, reencontramos personagens de filmes que nos amedrontaram no passado e os vemos com um novo olhar.

seguem causando medo!

percebemos tudo o que temos dentro de nós.

Apaixonar-se é sentar no trem fantasma e mais uma vez acreditar que enfrentaremos os fantasmas do passado.

Mesmo que eles sigam causando medo.



Acidente

Roupa demais não cabe no armário.

Almoço farto bagunça estômago vazio.

Coração à 20 km quando vai a 100, se acidenta.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Poesia

"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece, como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender.
Viver ultrapassa qualquer entendimento"
Clarice Lispector

"Liberdade é pouco.
O que desejo ainda não tem
Nome"
Dela, também.

Band aid?

Band aid?
Não, obrigada.
Não sirvo para esconder o corte.
Sou água oxigenada, ardida, volume 40.
Depois de mim, gaze e esparadrapo.
Mercúrio?
Não, não saio na primeira lavada.
Não marco a pele apenas por fora.
Agulha, linha, pontos, cicatriz.
Muleta?
Não! Sou perna mecânica.
Não sou teus primeiros socorros, sou UTI.


Gaiola? Não!

A isadora, com seus dois aninhos, chega em minha casa sempre a cantar: "chega de gaiola, chega de prisão, passarinho livre, gaiola não!"

Ela é como o pássaro da música acima. Um dia descobriu como abrir a gaiola sozinha. Sai, voa livre e, disfarçadamente, volta para dormir.

Aqueles que a olham sem atenção, são capazes de jurar que ela passa o dia ali, presa. Outros, também apressados, vêem a beleza de seu vôo e a percebem como pássaro livre.

Quando a gente presta atenção, quando a gente olha de perto, percebe que é ela é os dois: voa livre. Quando cansada, volta e simula a própria prisão.

Hoje é Aniversário de minha melhor amiga, pássaro que voa, livre e esta sempre por perto com muito amor para dar.

Quanto amo? Amo tudo, Cris Ely.

O que me emociona

"deve haver alguma coisa que ainda te emocione.
Uma garota, um bom combate, um gol aos 46.
Deve haver alguma coisa que ainda te emocione.
... O velho jogo: pedra, papel, tesoura"

Hoje, essa música do Engenheiros, cantada no show do pouca vogal, despertou a menina do blog.

Há uma menina morando em
Meu coração.
Preciso buscá-la.
Sempre.
É exatamente essa a parte que adormece em nós, aquela em que somos capazes de sentir.

A mim? O que me emociona?
Um amor novo - mesmo que apenas renovado,
Um sorriso infantil,
Uma família reunida para rir,
Uma bela música.

Todos juntos são capazes de fazer eu me
Apaixonar, mais uma vez, pelo fato de estar viva.
A simplicidade do amor emociona.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Dica de leitura

Delicado. Talvez seja a palavra que melhor define "a casa da esquina" de Duca Leindecker.
Um pouco de adolescência, de primeiro amor, de vida e das ausências e tristezas dela.

Flores

Nunca entendi as homenagens póstumas.
Sempre homenageio em vida. Comemoro a vida, brindo a vida, dou flores em vida.
Nada melhor do que sentir saudades do que fizemos.
melhor lembrar do sorriso dela ao receber flores, do que das próprias lágrimas na despedida eterna.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Djavan

Ah, quanto querer cabe na solidão de manhã, mais fácil aprender japonês em braile do que o dia amanhecer lá no mar alto da paixão.

Djavan ocupou a mente inquieta e fez confusão.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Azar

Cruel, desejou "boa sorte".
Sabia que a sorte o mandaria
Para longe.
Só estavam juntos no azar.

Voar

Borboletas no estômago e lagartas na garganta.
Na cabeça? Idéias se confrontam como pássaros selvagens às grades da gaiola.
Mas voar é tão difícil...

domingo, 23 de setembro de 2012

Desordem

Vivia fora do próprio tempo.
Chorava a morte do filho não tido.
Gritava o nome de amores imaginários.
Jorrava sangue por feridas cicatrizadas.
Sentia ciúmes pretéritos e saudades futuras.

sábado, 22 de setembro de 2012

Ele//ela

Ele
encantado com o belo par de pernas dela.

Ela
apaixonada
Por um maravilhoso par de orelhas!
Ele a ouvia!

Romeu e Julieta

Os problemas eram tantos que já não dormiam.
Decidiram então compartilhar o tarja preta.
Romeu e Julieta modernos,
Envenenados pela ansiedade e preocupações.

Lagartas

Há momentos em que as borboletas voltam a ser lagartas.
Libertam-se do estômago, embolam e sobem até a garganta.
Ali, transformam-se em nó.
Nó na garganta de paixão não correspondida.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Borboletas no estômago

Borboletas foram presas no estômago.
Batem-se entre elas,
Com suas finas asas e antenas fazem cócegas.
A musculatura do estômago Contrai e solta
ao ser tocada pela delicadeza das borboletas.
Borboletas no estômago.
Assim, ela define paixão.


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Em homenagem a minha amiga Cristina Ely, que define a paixão como borboletas no estômago.

domingo, 16 de setembro de 2012

Feliz ano novo!

Shaná tová!

Todos os dias são dias ideais.

Em absolutamente todos eles podemos nos reinventar, cicatrizar feridas, encontrar velhos amigos, celebrar os novos, descobrir novos prazeres, abandonar rancores, buscar novos amores.

Em todos os dias podemos parar, respirar fundo e refletir. Refletir sobre caminhos tomados, equívocos, medos bobos.

Não há dia certo. Não há hora certa.

Por isso, hoje decidi viver junto com os amigos judeus um novo ano.

Eles celebram a entrada de 5773. Depois, vivem dez dias de reflexões sobre erros e acertos. No décimo dia celebram o dia do perdão e são reinscritos no livro da vida.

Em 5773 (ou 2012/2, para mim), terei menos medos bobos e mais coragens absurdas. Serei melhor do que fui. E mais humana. Sempre, mais humana. Sempre lutando para que a menina que dá nome a esse blog sobreviva. E que possa gritar em silêncio dentro de mim: "a vida?!? Que venha de novo!", como fiz, há quatro anos, quando inaugurei esse blog.

Shaná Tová! Feliz ano novo.

P.S.: os amigos judeus podem encontrar algum erro no rápido resumo que fiz da celebração do ano novo judaico. Como sabem, essa não é minha origem, nem religião. Mandem ajustes se eles existirem.
Escrevo no bloco de notas... Erros de digitação são meu forte por aqui. :)

sábado, 15 de setembro de 2012

50 tons de cinza

Me rendi e devorei "50 tons de cinza". Best seller típico, linguagem fluida e permeado de uma curiosidade que nos movimenta pelas 500 páginas. Quem quiser ler uma novela, compre. Quem quiser ler uma novela/ conto de fadas moderno sobre um príncipe lindo e rico, que pratica apenas sexo sadomasoquista, leia.
Mas a mim o mais legal foi perceber, lendo o livro, que existem pessoas ele vivem a vida em preto e branco e outras que percebem os cinqüenta tons de cinza entre os dois. Fiquei feliz em ver que estou entre essas ultimas.

domingo, 9 de setembro de 2012

Para sempre

Aos poucos percebeu que ela jamais sairia de lá. Ao contrário de todas as anteriores, ela não desapareceria lentamente, tal qual sonho que esfumaça ao amanhecer. Permaneceria ali por tanto tempo quanto ele fosse.
Ele já era ela em sorrisos, canções, poemas. Cicatriz.

domingo, 2 de setembro de 2012

Rio

O telefone tocou e preencheu o vazio de meses. Ela disse apenas alô e o silêncio, o mesmo que o acompanhou pelo último ano, foi a melhor resposta.
Melhor deixar quieto.
A correnteza dos calmos rios é mais forte que a aparente agitação de ondas do mar.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Obrigada, Ju


Fogo se apaga com água, como sempre digo citando Confucio.

Hoje Jussara Cony, minha amiga, mulher com mais de 40 anos dedicados a luta política, apaga os incêndios do preconceito com seu afeto.

Obrigada, Ju.

MENOS MACHISMO, MAIS DEBATE, por Manuela d’Avila.

“Às vezes me pergunto se querem debater minha vida ou a cidade... Eu quero debater a cidade. Esta cidade merece ser debatida!”

Manuela,

Há momentos em que, com sabedoria, paciência revolucionária, história de vida e grandiosidade política, temos o dever de despir a hipocrisia contida nas relações de poder.

A isso, mais pela vida do que por conhecimento, me proponho! Em tua homenagem! Porque, nesse momento, para mim, representas milênios da brava, aguerrida e linda história das mulheres...

Como diz a poesia: a dor e a delícia de ser mulher...

Porque, Manu, despir a hipocrisia, na realidade, é colocar a nu – para quem tem olhos e compromissos voltados para um novo mundo – o significado da violência em uma de suas formas mais agressivas para a humanidade, porque permeada de sutilezas e máscaras: a da relação de poder!

Há uma frase, Manu, que me conduz desde 1968 – ano de lutas por liberdades democráticas no Brasil e no Mundo, escrita no Teatro Odeon, em Paris.

“Arrisca teus passos por caminhos que ninguém passou! Arrisca tua cabeça pensando o que ninguém pensou!”
Fecho meus olhos...

Assim o faço quando enlevada por amor, amizade, precisão e responsabilidade!

Meu cérebro e meu coração, em dialética e amorosa relação, constroem a imagem, linda e audaciosa imagem, de uma jovem, como tu, protagonistas as duas da construção histórica, cada uma a seu tempo, a pichá-la, em uma noite...em Paris... no Brasil...

Ancestralidades permeiam minha alma e meu corpo. Pois, Manu, há muito, muito tempo mesmo, nós, as mulheres, arriscamos nossos passos, nossas cabeças,no cotidiano das relações políticas, econômicas, sociais, culturais, familiares, absorvendo legados e aprendendo que  os que se movem constroem a historia e transformam o mundo.

Es, hoje, não só para nós que de pertinho te conhecemos, contigo convivemos na dimensão da construção desse novo  que escancara portas e janelas, num Brasil de diversidades que nos torna único no mundo, a representação elaborada  de uma mulher na dimensão do conteúdo estratégico da participação feminina e de todo o povo num novo tempo!

O tempo da construção de um Projeto Político de Inovação e de Igualdade como estruturante para as transformações de fundo, no âmbito da objetividade de mulheres e homens em suas práticas sociais, seus costumes, tradições e modo de vida, com protagonismo político qualificado.

Aquele protagonismo que, ao contemplar as especificidades da luta da emancipação feminina, seja capaz de dialogar e contribuir para elevar a luta política e social rumo à democracia.

É disso que se trata!

É isso que vai lá e fere de morte oâmago da cultura de uma sociedade preconceituosa, através de todos seus instrumentos de dominação, uma sociedade de lugares comuns, de simplismos que, ao abstrair a realidade objetiva, através das formas mais antidemocráticas e enganosas, busca escamotear a necessidade e a potencialidade do novo!

Ah, o novo... sabes, em nossas conversas regadas a cafezinho com canela, te digo do sentimento que tenho pelo novo...o renovado todo o dia... em tudo,como na quase chegada de uma bisneta mulher...quem sabe duas...

Incomoda! Àqueles que, ao estagnarem em sua individualidade, protagonizam a mais criminosa estagnação para uma nação, nas relações políticas, econômicas, sociais, culturais e espirituais, entravando a dinâmica da vida em sua mais elevada dimensão: a da evolução da sociedade em seu tempo histórico.

Essa eleição, em que serás a primeira Prefeita Mulher de nossa Porto Alegre, se revela, para todo o Brasil, como um precioso momento de afirmação política das mulheres e dos homens que compreendem sua dimensão histórica, na perspectiva de Fourier, quando faz a relação entre o grau de emancipação de uma sociedade tendo, como medida, o grau de emancipação das suas mulheres.

É disso que tratamos como potencialidade de evolução da humanidade!

É disso que tratam os que restringem os avanços, os que pensam que patrocinando a mesmice, o conservadorismo, o retrógado e o que oprime terão agarantia de se perpetuarem no poder, subestimando a capacidade do pensar e agir da cidade de Porto Alegre.

Porto Alegre que viver!

Porto Alegre quer que a vida que nela existe tome a dimensão de estar em sintonia com o Brasil,com o século em que vivemos, para se inserir no que a humanidade busca! A verdadeira emancipação, em processo de evolução, para que possamos viver as maravilhosas e sagradas diferenças na Igualdade, no Desenvolvimento e na Paz!

Manu, querida!

Sabes, por tua história, por tua dedicação, por tua inteligência forjada na vida, pela responsabilidade que demonstras desde que te conheci, quando tinhas 16 anos, mas aqui te reafirmo, na dimensão do meu amor à vida:

LUGAR DE MULHER É EM TODOS OS LUGARES!

Continua!

Continua, junto com milhões de nós, a ocupá-los todos!

E, agora, bem próximo, na Prefeitura Municipal de Porto Alegre!

Não por diletantismo, que disso não és, nem tu, nem nosso Partido, nem os que conosco querem e lutam por um novo mundo, mas por necessidade histórica!

Com mulheres e homens que se arriscam, com o maior prazer,para que possam chegar, junto contigo, de mãos dadas por novos amanhãs, para varrer de nossas vidas e da história

A hipocrisia,
A banalização,
As algemas,
As cercas,
Toda e qualquer forma de opressão!

Com meu beijo, aquele que oferto com amor:Socialista e de Luz!

Ju

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Menos machismo, mais debate


Todos que me  acompanham por aqui, sabem o quanto defendo a democratização da informação, a transparência e a liberdade na rede. Acredito na internet como uma ferramenta fundamental na horizontalização da comunicação, de diálogo. Por isso uso tanto as redes sociais! Por isso, mais uma vez, venho aqui escrever sobre as eleições e sobre o machismo que persiste.

Entendo, claro, que o processo eleitoral mexe com a vida de alguns e, às vezes, até muda a forma de agir dessas pessoas (!)... Agora, jamais entenderei que tentem desconstruir meu passado, minhas lutas, minhas bandeiras. Não entendo que, em um momento sejamos aliados e, logo em seguida, o tratamento seja de inimigos e não de adversários. Como entender isso? Na minha política não cabe tudo. Cabem ideias!

Como querer que o povo entenda que quem é chamada a ajudar a eleger Dilma no segundo turno pela expressiva votação que fez, logo em seguida, seja proibida de usar sua imagem? Mais, como entender que aquela que, no primeiro turno das eleições passadas, esteve no programa de Tarso e Paim, não possa citá-los hoje?

Não tenho medo de repetir tantas vezes quantas forem necessárias: se me espremerem, sairá muito conteúdo. Conteúdo da militância no movimento estudantil, do meu mandato de vereadora, dos meus dois mandatos como deputada federal, como vice líder do governo Dilma no Congresso, como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, como vice-presidente da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, vice da Comissão de Relações Exteriores  e tantas outras tarefas que assumi ao longo desses três mandatos e antes, como militante.

Já passei por isso, quando fui chamada, pelos mais machistas, de bonitinha e/ou musa. O que não esperava, é que repetissem isso numa candidatura do meu campo político novamente.

Há algo mais machista do que afirmar que uma mulher jovem fala bonito se for espremida... (dá a entender que não sai nada!)?

Claro... A mulher jovem não pode ter estudado em Harvard, não pode ter representado o Brasil em simpósios na Tailândia, China, EUA... Como assim? No fundo, as mentiras da rede são baseadas nesse pensamento. Aliás, a mulher tem que achar graça do Tumblr que fala de sua sexualidade, unhas, cabelos, peitos e em que tratada como histérica. O prefeito homem tem direito de ir à Justiça porque foi dito que teria um filho fora do casamento. Atentem para a diferença de tratamento. Nenhuma linha sobre a ida do prefeito à Polícia Federal para pedir investigação a respeito do filho. Centenas de questionamentos a mim. Tenho que rir do machismo, tenho que achar graça. Sim, porque comunicar à Justiça que me importo com isso foi considerado por alguns um ato de covardia(!).

Não será o machismo escondido e mal disfarçado que tirará de mim tudo o que de fato estudei, todas as soluções que vi e que acredito serem possíveis em Porto Alegre. Podem até tentar  confundir as pessoas através de mentiras nas redes, divulgando mentiras.

Convido, por isso (e mais uma vez!), todos a debatermos a cidade. Sim, porque eleição deve ser isso: debate sobre a cidade.

Às vezes me pergunto se querem debater minha vida ou a da cidade...

Eu quero debater a cidade. Essa cidade merece ser debatida!

domingo, 19 de agosto de 2012

Vitoriosas

Ela caminhava devagar, como se estivesse em câmera lenta. As lágrimas contrastavam com o sorriso no rosto. Falava para si mesma: eu venci. Venci. Sou vitoriosa.

O rosa da camisa de Solange, de 37 anos, era o mesmo rosa de algumas milhares mulheres que estavam nas ruas comemorando a vida nesse domingo. Era o mesmo rosa de Marta que, amanhã, se submeterá à cirurgia da mama e da moça que segurava a faixa. Com cabelos curtos ela celebrava o primeiro "aniversário" do câncer.

O primeiro ano de vitória.

À frente, mulheres com recados escritos em folhas de papel. Algumas dançavam de braços dados. Cabelos longos dos anos de vitória. Cabelos ausentes do início da jornada.

Alguns colocaram lenços, toalhas, bandeiras rosas nas janelas do caminho. Solidariedade.

Hoje caminhei com as mulheres na marcha das vitoriosas. Ali, senti a energia que as move nesses nove anos.
Fiquei serena. Fiquei feliz em ver pelo 9º ano como as vitoriosas colorem Porto Alegre e gritam: 95% de chance de cura.

Lembrei de minha avó relatando a história de vitória de minha bisa. Lembrei do gesto que ela imitava da mãe colocando o dinheiro das vendas do bar da estação de trem, em Cerro Chato, no soutien. A minha bisavó não tinha a mama. E o soutien servia como cofre.

A causalidade, isso que faz parte do mistério da vida, fez com que a moça que me emocionou na caminhada tivesse o nome de minha avó. Solange.

sábado, 18 de agosto de 2012

Bem na própria pele

Não falo, não leio, não entendo francês. Entretanto, conheço uma expressão do idioma que define o momento que estou vivendo nesse 18 de agosto, meu aniversário: "Être bien dans sa peau" (sentir-se bem na própria pele).

Aos 31 anos me sinto bem, muito bem na minha própria pele. Amo o que faço, sou feliz em minha vida, amo a Família que tenho, amo meu noivo, minhas sobrinhas deram um novo sentido ao amor que sei sentir, meu trabalho é desafiador, meus amigos são o máximo e tenho as flores mais simples e lindas do mundo enfeitando minha casa.

Não. Não me refiro a uma felicidade boba e momentânea. Tenho problemas, coisas ruins acontecem, tenho decepções com algumas pessoas. Mas o bem estar sempre se renova e problemas tornam-se pequenos.

É... Minha meta de vida nesses 31 que chegam é seguir me sentindo bem, muito bem, na minha própria pele.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Encontros com Porto Alegre

Hoje, gravando imagens para o programa de televisão de nossa campanha, percebi que tive alguns "encontros" especiais com Porto Alegre.

Foi especial quando fui eleita vereadora. Me recordo bem a primeira vez que entrei na Câmara depois de eleita. E lembro do dia da posse. Meu deus! Quanta responsabilidade senti naquele dia. Vivi anos felizes no exercício desse mandato. Amava trabalhar ao lado do Guaíba, ter a rotina de sair para debater com estudantes e professoras em escolas, presidir a comissão de educacao.

Depois, quando fui para Brasília, como deputada federal, vivi uma nova descoberta de minha cidade. A falta de Porto Alegre me enlouquecia nos primeiros meses. A falta daquilo que não está no concreto. As pessoas, as esquinas, o tapete de flores, o clima. Talvez ali tenha percebido o quão forte são os laços que me unem a minha cidade.

Agora concorro pela segunda vez a prefeitura dessa cidade. E me sinto cada vez mais misturada a ela. Quanto mais a conheço, mais me envolvo. Quanto mais caminho, mais a amo. Quanto mais instável o clima, mais Porto Alegre é Porto Alegre.

Essa sensação de pertencer, de sermos, de nos vermos... Isso é o que chamamos de identidade. Amo.

sábado, 11 de agosto de 2012

Aos pais, com carinho. Ao meu, com amor

Aprendi com a distância imposta pela vida em Brasília a cuidar sempre das pessoas que amo. Aprendi com a ausência a valorizar sempre a presença. Digo isso, pois rendo homenagens aqui, sempre. A meus amigos, para minhas irmãs, para minha mãe e para meu pai. Recentemente, em 19 de julho, agradeci a ele por tudo o que fez por mim. Em outro texto - acho que no dia dos pais passado - contei um pouco do que ele fez por nós cinco (seus dois filhos e três enteadas). Não verei meu pai no dia dedicado a ele. Vivemos em cidades diferentes, ele vem sempre que pode mas, casualmente, nesse domingo, estará em São Paulo com meu irmão.

Hoje, véspera do dia dos pais, aproveito para dizer que torço muito para que todos os homens sejam pais carinhosos como o meu é. Pais presentes, mesmo divorciados de nossas mães, como o meu também foi e é. Pais dedicados a formar filhos melhores do que eles próprios, pois essa deve ser nossa missão: melhorar o mundo. Pais que amam.

Meu pai é pai, padrasto e professor de engenharia. Trata a mim e a todos irmãos e suas centenas de alunos como filhos. E é o melhor pai para todos.

Feliz dia dos pais, mães.

Durante toda a vida, ela soube o que queria ser: mãe. E a vida tem lá seus caminhos, suas ruas sem saída, seus becos e lombadas. O fato é que, depois de alguns relacionamentos sérios, engravidou de um "affair". Já estava "passando do ponto" e resolveu ir contra tudo - e quase todos. Gerou seu sonho sozinha. Construiu todas as fases da gravidez - o quartinho, as roupinhas, a escolha do nome - com o amor que carregava a uma vida pela filha que descobrira só agora no útero.

Pariu, beijou, amamentou, viu sorrir, chorar, começar a caminhar. Viu crescer. É mãe. É pai. É amor. E nem sempre tudo cabe no formato ideal que tentamos construir. Nem sempre os sentimentos são traduzíveis nos nomes que damos as coisas.

Feliz dia dos pais a todas as mulheres que criam seus filhos sozinhas. Feliz dia dos pais para quem ama por dois, por cem, por mil. Para quem sabe que qualquer ausência é menor e menos importante que o amor. O amor, esse sim, vence qualquer obstáculo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sempre a emoção...


Digo sempre, aqui, que é impossível fazer política sem emoção. Lidar com as pessoas é a melhor parte de tudo. Poder transformar a vida das pessoas é ótimo, faz todo esforço valer a pena. Agora, ver isso nos olhos dessas pessoas, ouvir suas histórias, compartilhar suas histórias de vida é insuperável. Algumas histórias nos enchem de emoção, de esperança. Outras nos fazem repensar e reforçar a luta. É o caso da perda de Du R. Um menino que vimos em muitos momentos diferentes e que estava mudando de vida, estava mudando o rumo das coisas, com esforço, com dedicação, com apoio, com esperança. Du R se foi... E de uma forma violenta.

Ontem, ao inaugurarmos o Comitê pela Igualdade Racial lembrei dele. Lembramos. E decidimos fazer a nossa homenagem a ele. O Comitê leva seu nome, assim como o levamos no coração.

Foi emocionante. Por isso, deixo com vocês a poesia que Liliane Lemos leu para nós.

Boa Aparência
A cor da minha pele… Não determina minha inteligência, minha honestidade, nem minha capacidade.
A cor da minha pele… Não revela minha formação, meus diplomas, idiomas que falo, ou meu saldo bancário.
A cor da minha pele… Não mostra se estou triste, feliz, se sou católica, evangélica ou ateia.
A cor da minha pele… Não espelha meus sonhos, o que sei, sinto, ou desejo. O que preciso ou pretendo.
A cor da minha pele… Não representa se minhas roupas são caras, limpas e bem alinhadas.
A cor da minha pele… Não afirma que as únicas funções que possa exercer sejam de ama de leite, empregada doméstica, passista de escola de samba ou tampouco objeto sexual para turista deslumbrado.
Pergunto-me até quando a cor da minha pele será determinante para o mercado de trabalho?

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Relembrar é preciso


Algumas datas e alguns fatos da história mundial precisam sempre ser rememorados. Há exatos 67 anos (6/8/1945), era lançada a primeira bomba atômica sobre a cidade de Hiroxima. No dia 9/08/1945, foi a vez do segundo absurdo, a bomba sobre Nagasaki. O que hoje nos parece tão irreal, tão inconcebível, matou 78 mil pessoas de forma imediata, outras 62 morreram em poucos dias e milhares morrem e sofrem até hoje com os efeitos da radiação. Isso apenas em Hiroxima.

A história, quando vista de fora, às vezes parece tão distante de nós... Por isso que sempre repito: reviver, relembrar é preciso para que jamais voltemos a repetir os mesmos erros. E repetimos, basta olharmos para o lado.

As imagens desses episódios ainda pairam em nossas memórias e permanecerão para sempre. São imagens que toda guerra produz: a de inocentes e anônimos atingidos, vítimas de poucos que optam pela guerra para superar algo que nunca é justificável. Sim, porque nada justifica uma guerra.

Que esse dia e que o dia  9 de agosto sejam sempre momentos de reflexão para que a gente mude o presente sem violência, sem guerra, sem opressão, sem egoísmo, sem ultrapassar os limites que a ética e que a vida naturalmente nos impõem e que poucos insistem em não reconhecer.