terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Atenção ao diferente

Um dia,
Num daquela dias que parecem ter saído de um filme
ou da vida de um personagem de um livro,
ou mesmo de uma outra encarnação nossa,
um dia li sobre relacionamentos!
Vejam só (acho isso tão vazio...!)
Queria muito ressuscitar algo que já estava morto.

Li pela primeira vez expressões que me socaram a boca do estômago: "icebergue" e "atenção".

Atenção ao diferente,
aquilo que julgamos pouco importante e pode ser central para o outro,
Atenção ao detalhe que pode fazer ser para sempre,
atenção ao bom dia,
atenção ao não fazer de conta.
Atenção ao que é drama para um e
para outro vida,
morte e sentido.
Sem a atenção?
enormes blocos de gelo entre as pessoas.
Icebergue.
Palavras não ditas.
Respostas grosseiras.
Incompreensões.
Pressas.
Egoísmos.
Diferentes traições - não as físicas - as vezes essas são as menos doloridas!

Percebi que não havia sido atenta.
Esqueci do livro.
Achei que fosse para sempre.

Hoje acordei com o livro perto da
Cama.

Paz

O precipício que me atirei era grande, grande, Tão grande que levei muitos anos para voltar a ver luz.
Depois dele, tomei uma decisão.
Pulo apenas poças d'água. Algumas maiores, é verdade.
Mas o máximo que molho é a barra da calça.
Porque insistes que me atires de novo?
Eu quero paz. Para mim, paz é o verdadeiro nome do amor.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Essa noite

Não queria passar essa noite sozinha.
Não pela enorme lua cheia que enfeita o céu estrelado da cidade que é nossa.
A lua que se parece com um dos balões surpresa amarelos
das festas de aniversário mais felizes de minha infância.

Não queria passar essa noite sozinha.
Não por causa do tamanho da cama que é gigante como a solidão de alguns dias em que passo rodeada de gente.

tu não me perguntaste o porquê. achaste que era por causa dessas coisas que nós dois temos,
que não entendes,
que não entendo também.
Esses silêncios agudos,
esses rompantes grosseiros.

Não queria passar essa noite sozinha
queria a cama cheia,
queria a lua cheia,
A lembrança dos balões surpresa,
Para não lembrar de como era a vida antes de existirmos.
Para não lembrar que hoje é uma noite particularmente triste.

Amor celular

Era um amor com detalhes menores que as teclas dos antigos telefones celulares:
três letras em cada!
ABC DEF GHI
Era como um abraço apertado,
Um excesso de zelo
que não existe mais.
Hoje é cada letra num canto,
Cada um na sua,
Até os acentos tem seus espaços separados.
amores modernos,
Que funcionam apenas com o toque,
Descartáveis como celulares,
Trocados a cada problema,
A mim não interessam mais.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Tua/minha

Eu sou o amor da tua vida, repetes com a voz doce de quem encanta multidões.
Minutos depois surpreendes com palavras cortantes, frases doídas como podem ser os poemas escritos por quem foi ferido.
Então me lembro do que disseste. Nos conhecemos a tempo de seres o amor de minha vida. E também Tarde demais.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Cebola

Para.
Pega a faca, a tábua.
Abre a torneira e lava.
Descasca a cebola.
Sim.
É uma cebola.
São muitas as camadas.
Mas se não pegares a faca agora,
a cebola não será descascada nunca.
Esta na hora de mudares a pele que cobre o teu corpo e que te faz tão apegado as coisas que já deveriam ter ido embora, junto com as cascas de cebolas.
Pega a faca.
Não, por favor.
nem me peça.
Eu não posso descascar a cebola por ti.

Vinicius do dia de hoje


Canção de enganar tristeza

Vinicius de Moraes , Baden Powell
Se a tristeza um dia
Te encontrar triste sozinho
Trata dela bem
Porque a tristeza quer carinho
E fala sobre a beleza
Com tanta delicadeza
Por não ter nenhum carinho
Que ela só existe
Por não ter nenhum carinho
E dá-lhe um amor tão lindo
Que quando ela se for indo
Ela vá contente
De ter tido o teu carinho

Presença

Sinto saudade
do jeito que me olhavas:
Como se a beleza infinita de todas as mulheres coubesse em meu sorriso.
Me olhavas
e me fazias crer na força das flores que nascem entre pedras,
na doçura do mel das abelhas que ferem, na proteção desesperada dos animais selvagens.
Assim me amavas.
Assim me olhavas.

Lembro dos planos que fazíamos:
infantis e ingênuos.
Felizes para sempre,
sempre,
todos os dias,
ao acordar e dormir,
numa casa branca de Madeira
com as janelas e portas azuis
eu a havia sonhado e tu topaste realizar.

Conheço o rosto dos filhos que não tivemos e sei como são as praias em que eles correram peladinhos no verão dos que anos que não aconteceram.


Sinto saudade do jeito que me olhavas.
Me fazias acreditar no amor.
Mesmo quando eu não te amava,
Eu contava contigo.
E isso bastava para seguir em frente.
Sinto saudade.

Vinicius do dia

Brigas nunca mais

Chegou, sorriu, venceu, depois chorou
Então fui eu quem consolou sua tristeza
Na certeza de que o amor tem dessas fases más
E é bom para fazer as pazes, mas
Depois fui eu quem dela precisou
E ela então me socorreu
E o nosso amor mostrou que veio pra ficar
Mais uma vez por toda vida
Bom é mesmo amar em paz
Brigas nunca mais

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Vida

Depois de tanto tempo
Descobri parte de teu braço
senti o cheiro
Toquei a boca
Que havíamos batido antes
Tudo o que é possível bater
E me vi capaz de voar
cheia de um sentimento novo


domingo, 20 de janeiro de 2013

Vinicius do dia

A vã pergunta

Esta jovem pensativa, de olhos cor de mel e de longas pestanas penumbrosas
Que está sentada junto àquele jovem triste de largos ombros e rosto magro
É ela a amada dele e é ele o amado dela e é a vida a sombra trágica dos seus gestos?
Este trem veloz cheio de homens indiferentes e mulheres cansadas e crianças dormindo
Que atravessa esta paisagem desolada de árvores esparsas em montes descarnados
É ele o movimento e é ela a fuga e são eles o destino fugitivo das coisas?
Que dizem os lábios murmurantes dele aos olhos desesperados dela?
Que pronunciam os lábios desesperados dela aos olhos lacrimejantes dele?
Que pedem os olhos lacrimejantes dele à paisagem fugindo?
Não são eles apenas uma só mocidade para o tempo e um só tempo para a eternidade?
Não são seus sonhos um só impulso para o amor e os seus suspiros um só anseio para a pureza?
Por que este transtorno de faces e esta consumição de olhares como para nunca mais?
Não é um casto beijo isso que bóia aos lábios dele como um excedimento da sua alma?
Não é uma carícia isso que freme nas mãos dela como um arroubo da sua inocência ?
Por que os sinos plangendo do fundo das consolações como as vozes de aviso dos faróis perdidos?
É bem o amor essa insatisfação das esperanças?

sábado, 19 de janeiro de 2013

Vinicius do dia

A miragem

Não direi que a tua visão desapareceu dos meus olhos sem vida
Nem que a tua presença se diluiu na névoa que veio.
Busquei inutilmente acorrentar-te a um passado de dores
Inutilmente.
Vieste - tua sombra sem carne me acompanha
Como o tédio da última volúpia.
Vieste - e contigo um vago desejo de uma volta inútil
E contigo uma vaga saudade…
És qualquer coisa que ficará na minha vida sem termo
Como uma aflição para todas as minhas alegrias.
Tu és a agonia de todas as posses
És o frio de toda a nudez
E vã será toda a tentativa de me libertar da tua lembrança.

Mas quando cessar em mim todo o desejo de vida
E quando eu não for mais que o cansaço da minha caminhada pela areia
Eu sinto que me terás como me tinhas no passado -
Sinto que me virás oferecer a água mentirosa
Da miragem.
Talvez num ímpeto eu prefira colar a boca à areia estéril
Num desejo de aniquilamento.
Mas não. Embora sabendo que nunca alcançarei a tua imagem
Que estará suspensa e me prometerá água
Embora sabendo que tu és a que foge
Eu me arrastarei para os teus braços.

Poesia

Chau número 3 - Benedetti

Te dejo con tu vida
tu trabajo
tu gente
con tus puestas de sol
y tus amaneceres.

Sembrando tu confianza
te dejo junto al mundo
derrotando imposibles
segura sin seguro.

Te dejo frente al mar
descifrándote sola
sin mi pregunta a ciegas
sin mi respuesta rota.

Te dejo sin mis dudas
pobres y malheridas
sin mis inmadureces
sin mi veteranía.

Pero tampoco creas
a pie juntillas todo
no creas nunca creas
este falso abandono.

Estaré donde menos
lo esperes
por ejemplo
en un árbol añoso
de oscuros cabeceos.

Estaré en un lejano
horizonte sin horas
en la huella del tacto
en tu sombra y mi sombra.

Estaré repartido
en cuatro o cinco pibes
de esos que vos mirás
y enseguida te siguen.

Y ojalá pueda estar
de tu sueño en la red
esperando tus ojos
y mirándote.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Afinação

Quero um violão com afinação comum,
Com suas seis cordas.
Andar de mãos dadas,
Dormir abraçado,
Jantar depois do cinema.

Quero a simplicidade de um sorriso,
Um beijo no rosto,
Um carinho qualquer,
Um plano comum.
Eu quero apenas um violão com o som conhecido.



Esgoto

Abri o ralo.
deixaste escapar
o projeto daquilo que tentamos ser.
Nós dois.
Divididos em cubas sujos.
Cheios de louças de outras vidas.
Passado
Transbordamos emoções que não são nossas.
Esgoto.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Vinicius do dia

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.



Nova York, 1950.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Vinicius do dia

Medo de amar

Petrópolis
O céu está parado, não conta nenhum segredo
A estrada está parada, não leva a nenhum lugar
A areia do tempo escorre de entre meus dedos
Ai que medo de amar!

O sol põe em relevo todas as coisas que não pensam
Entre elas e eu, que imenso abismo secular...
As pessoas passam, não ouvem os gritos do meu silêncio
Ai que medo de amar!

Uma mulher me olha, em seu olhar há tanto enlevo
Tanta promessa de amor, tanto carinho para dar
Eu me ponho a soluçar por dentro, meu rosto está seco
Ai que medo de amar!

Dão-me uma rosa, aspiro fundo em seu recesso
E parto a cantar canções, sou um patético jogral
Mas viver me dói tanto! e eu hesito, estremeço...
Ai que medo de amar!

E assim me encontro: entro em crepúsculo, entardeço
Sou como a última sombra se estendendo sobre o mar
Ah, amor, meu tormento!... como por ti padeço...
Ai que medo de amar!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Vinicius do dia

Epitáfio

Oxford
Aqui jaz o Sol
Que criou a aurora
E deu a luz ao dia
E apascentou a tarde

O mágico pastor
De mãos luminosas
Que fecundou as rosas
E as despetalou.

Aqui jaz o Sol
O andrógino meigo
E violento, que

Possuiu a forma
De todas as mulheres
E morreu no mar.



Oxford, 1939.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Encontrei o eu te amo errado 2

Encontrei O eu te amo errado em cada dente de meu sorriso aberto, de minha gargalhada. Em cada poesia recitada, música cantada ou boca alimentada.

Encontrei o eu te amo errado em cada tentativa de ser feliz. Em cada momento friamente pisoteado por quem não compartilha sonhos com o presente. Em mãos que estão dadas com outras mãos que traem e batem na cara.

Encontrei o eu te amo errado nas brincadeiras grosseiras,
na indiferença certeira, na cara de nojo, no defeito apontado, no abraço não dado.

Encontrei o eu te amo errado em cada dia que não foste feliz, apenas por não teres quem desejas ao teu lado.
Cada mensagem carinhosamente trocada no celular, com o sorriso constrangido de quem traí com o passado, funcionou como um bofetão bem dado. O eu te amo errado foi um cuspe na cara de quem tentou acertar.

Um dia

Um dia, talvez, tudo faça sentido.
Um dia.
Talvez possa achar graça do tempo perdido em estado de meditação permanente com nossos silêncios mútuos.
Talvez faça sentido a dor que surge com a desesperança, com o olhar repleto de frieza e indiferença.
Talvez seja possível voltar no tempo, escolher certo, não mudar o rumo, não pegar a estrada desconhecida.
Um dia talvez faça sentido. Nesse dia não teremos mais nada para conversar.
Talvez chegue logo.
Tomara.

Família

A família feliz vai ao cinema.
Ali esquece traições e loucuras.
A família feliz sai pra jantar, vê TV,
Diz "eu te amo" e divide a casa. Mesmo quando há abandono e mentiras sedutoras.
A família de sexo, mentiras e videotape é sempre uma escolha mais segura do que ser feliz de verdade.

Para mim? Sapos

Voltei ao lugar onde foste loira,
King kong, personagens de filmes que nos fizeram rir da vida que andava sem graça.

Voltei ao lugar onde foste príncipe,
O pequeno príncipe,
Delicado e encantador,
Foste "para sempre",
Sem perder a ternura.

Voltei ao lugar onde a fumaça encheu a casa,
nos encheu de vida,
Nos jogou pra frente.

Hoje voltei ao lugar em que depositei minha esperança.
Não precisei dormir.
Acordamos sapos.

Vinicius de hoje

Soneto da madrugada

Pensar que já vivi à sombra escura
Desse ideal de dor, triste ideal
Que acima das paixões do bem e do mal
Colocava a paixão da criatura!

Pensar que essa paixão, flor de amargura
Foi uma desventura sem igual
Uma incapacidade de ternura
Nunca simples e nunca natural!

Pensar que a vida se houve de tal sorte
Com tal zelo e tão íntimo sentido
Que em mim a vida renasceu da morte!

Hoje me libertei, povo oprimido
E por ti viverei meu ódio forte
Nesse misterioso amor perdido.

A carta

Coloco a carta no correio.
Sou despedaçada pelo caminhão que vem, agressivo como apenas caminhões podem ser.
Não choras minha morte.
Tarde demais, recebes minha declaração de felicidade.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Vinicius do dia de hoje

Introspecção

Rio de Janeiro
Nuvens lentas passavam
Quando eu olhei o céu.
Eu senti na minha alma a dor do céu
Que nunca poderá ser sempre calmo.

Quando eu olhei a árvore perdida
Não vi ninhos nem pássaros.
Eu senti na minha alma a dor da árvore
Esgalhada e sozinha
Sem pássaros cantando nos seus ninhos.

Quando eu olhei minha alma
Vi a treva.
Eu senti no céu e na árvore perdida
A dor da treva que vive na minha alma.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Ônibus

Cada vez que embarquei
Fui traída pela memória curta demais.
Letras, bilhetes, cartas e fotos fazem de todas as paisagens locais impróprios para o banho.
Águas turvas, sujas ou poluídas por ausências.
Dá tempo para lembrar que cortas como papel,
Ardes como pimenta no olho,
cospes na cara como quem
Folheia o jornal.
percebo que esse papo
Cansa como viajar apertado no carro.
Desço,
Prefiro enfrentar a solidão do ônibus lotado de estranhos.

Vinicius do dia

História de alma

Meia-noite. Frio. Frio em tudo
E mais frio que em tudo, frio na Alma
A Noite grande e aberta... a Alma grande e aberta...
Infinitamente frias...

No alto a noite má seguia a Alma que vagava
Enregelada e nua entre todas as almas
Seguia a Alma presa
Presa por todos os lados
A Alma caminhava e a noite caminhava com ela
A Alma fugia e a noite perseguia a Alma
E a Alma parava. Então a noite também parava
E mandava um frio mais frio do que a Alma

E a Alma já fria tornava a caminhar
E a noite vinha e perseguia a Alma
E a Alma parava... e a Alma parava...
E chorando ajoelhada pedia perdão...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Congelado

A vida inteira sonhei olhar pra ti,
Te ter por perto,
Cheirar teu cheiro,
Descobrir teu riso.

A vida inteira sonhei tua voz.
teus passos,
abraçar dormindo,
Chamar pelo nome.

Congelo tua imagem
Por hora, Esqueço
coloco o sonho no freezer
Para poder te ter para sempre


Pablo Milanez


Yo no te pido que me bajes
una estrella azul
sólo te pido que mi espacio
llenes con tu luz.

Yo no te pido que me firmes
diez papeles grises para amar
sólo te pido que tú quieras
las palomas que suelo mirar.

De lo pasado no lo voy a negar
el futuro algún día llegará
y del presente
qué le importa a la gente
si es que siempre van a hablar.

Sigue llenando este minuto
de razones para respirar
no me complazcas no te niegues
no hables por hablar.

Yo no te pido que me bajes
una estrella azul
sólo te pido que mi espacio
llenes con tu luz.

Soneto do amor perdido



Onde estão os teus olhos - onde estão? - Oh - milagre de amor que escorres dos meus olhos!
Na água iluminada dos rios da lua eu os vi descendo e passando e fugindo
Iam como as estrelas da manhã. Vem, eu quero os teus olhos, meu amor!
A vida... sombras que vão e sombras que vêm vindo
O tempo... sombras de perto e sombras na distância - vem, o tempo quer a vida!
Onde ocultar minha dor se os teus olhos estão dormindo?

Onde está tua face? Eu a senti pousada sobre a aurora
Teu brando cortinado ao vento leve era como asas fremindo
Teu sopro tênue era como um pedido de silêncio - oh, a tua face iluminada!
Em mim, mãos se amargurando, olhos no céu olhando, ouvidos no ar ouvindo
Na minha face o orvalho da madrugada atroz, na minha boca o orvalho do teu nome!
Vem... Os velhos lírios estão fanando, os lírios novos estão florindo...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Tua mão

Podes me dar tua mão enquanto caminho pelos cantos escuros de minha alma?
Não me conheço toda, ainda me surpreendo com as cartas guardadas no fundo do baú de minha casa.
Gosto de ir até lá: olho o escuro buraco e tonteio. Prestes a saltar, pego em tua mão.
E assim, sigo andando.

Vinicius do dia

Sem título

Meu coração se perde de carinho
Por ti, ó pássaro oculto na noite!
Tua voz pressaga é também uma elegia
Sem mistérío; a morte de todas as coisas.

Vive no teu soluço de amor, mas o teu canto
É na realidade consolo e contentamento.

As palavras que antes escutei
Eram apenas música e traziam esquecimento
Tu me levas à poesia, ave pousada na treva.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Tua

Juro.
Re juro.
Por deus,
por ti, por mim,
por nós, vós, eles.
Não ver
Saber
Constar
Sentir.
Quero que morra
Que matem
Que suma,
Desapareça,
Voe para longe.
Que saia de mim,
Que saia de ti,
Que não conste.
Quero que fique abaixo da terra,
Que guarde as palavras no estômago,
Que queime as fotos de desgosto.
Que interprete mãos e veja a própria solidão.
Juro.
Re juro.
Por deus.
Por mim, por ti,
Por nós, vós, eles.
Juro tentar esquecer.

Vinicius do dia

Revolta

Rio de Janeiro
Alma que sofres pavorosamente
A dor de seres privilegiada
Abandona o teu pranto, sê contente
Antes que o horror da solidão te invada.

Deixa que a vida te possua ardente
Ó alma supremamente desgraçada.
Abandona, águia, a inóspita morada
Vem rastejar no chão como a serpente.

De que te vale o espaço se te cansa?
Quanto mais sobes mais o espaço avança...
Desce ao chão, águia audaz, que a noite é fria.

Volta, ó alma, ao lugar de onde partiste
O mundo é bom, o espaço é muito triste...
Talvez tu possas ser feliz um dia.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

E Deus me fez mulher


Y Dios me Hizo Mujer - gioconda Belli (escritora nicaragüense que amo)

Y Dios me hizo mujer,
de pelo largo,
ojos,
nariz y boca de mujer.
Con curvas
y pliegues
y suaves hondonadas
y me cavó por dentro,
me hizo un taller de seres humanos.
Tejió delicadamente mis nervios
y balanceó con cuidado
el número de mis hormonas.
Compuso mi sangre
y me inyectó con ella
para que irrigara
todo mi cuerpo;
nacieron así las ideas,
los sueños,
el instinto.
Todo lo que creó suavemente
a martillazos de soplidos
y taladrazos de amor,
las mil y una cosas que me hacen mujer todos los días
por las que me levanto orgullosa
todas las mañanas
y bendigo mi sexo.

Na paz

Na guerra,
talvez tivéssemos nos divertido juntos:
armas em punho,
Uniformes,
Nossos corações explodindo como bombas.

Teria gostado de conversar sobre amenidades:
Nada de campo minado ou
planos abortados.
Sem supermercado ou escova de dentes sujando a pia.

Na guerra?
Contigo Talvez tivesse sofrido menos nas tardes em que morri de dor.
Talvez não.
Talvez achasse graças de o pegar na guerra tambem.

Mas tu me encontraste cansada.
Já com as cicatrizes desenhando o corpo e Com a Alma cravada de tiros.

Na guerra? Talvez tivesse te amado.
Mas me deste a mão aqui, num canto de paz.
entreguei minhas armas e decidi ser feliz contigo.

Sou muitas

Sou muitas.
E todas as minhas versões gargalham enlouquecidamente de minha própria cara.

Escuto o som dos medos que tive,
Das crenças que abandonei
Vejo Lugares em que me encontrei
e acho graça.

Os Fracassos estonteantes,
As Paixões avassaladoras,
Meus Dramas mexicanos
E exageros analucianos*
Tudo desperta essa vontade sem controle de debochar.

Escuto meu som
infinito como o barulho do mar.
Agora Não há mais nada, nada, nada capaz de tirar o sorriso de meu rosto.





*ana Lucia é minha mãe.

Vinicius do dia


Eu nasci marcado pela paixão

Eu nasci marcado pela Paixão, Pedro, meu filho...
E porque por ela nasci marcado, a ela me entreguei sem remissão desde menino, e o primeiro gesto que fiz foi buscar um seio de Mulher...


Decidi sofrer pelo que
fizeste
Foste
no passado.
Me perdi no caminho de volta.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Sobre mim?!

Alta tensão - Clarice

Eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
dos doces mais azedos
das bebidas mais fortes
das músicas mais estranhas
das frutas mais verdes
das ironias mais finas
das conversas mais lúdicas
das dores mais amenas


E tenho apetites vorazes
por saudades profundas
por causas perdidas
por distâncias inalcançáveis


Eu sonho
os delírios mais soltos
os sonhos mais loucos que há
e sinto uns desejos vulgares
navegar por uns mares de lá


Você pode até me empurrar de um penhasco
que eu vou dizer:
"E daí? Eu adoro voar…!!!"

Vinicius do dia

A medida do abismo

Não é o grito
A medida do abismo?
Por isso eu grito
Sempre que cismo
Sobre tua vida
Tão louca e errada...
- Que grito inútil!
- Que imenso nada!

domingo, 6 de janeiro de 2013

Poema do dia

A miragem - Vinicius de moraes

Não direi que a tua visão desapareceu dos meus olhos sem vida
Nem que a tua presença se diluiu na névoa que veio.
Busquei inutilmente acorrentar-te a um passado de dores
Inutilmente.
Vieste - tua sombra sem carne me acompanha
Como o tédio da última volúpia.
Vieste - e contigo um vago desejo de uma volta inútil
E contigo uma vaga saudade…
És qualquer coisa que ficará na minha vida sem termo
Como uma aflição para todas as minhas alegrias.
Tu és a agonia de todas as posses
És o frio de toda a nudez
E vã será toda a tentativa de me libertar da tua lembrança.

Mas quando cessar em mim todo o desejo de vida
E quando eu não for mais que o cansaço da minha caminhada pela areia
Eu sinto que me terás como me tinhas no passado -
Sinto que me virás oferecer a água mentirosa
Da miragem.
Talvez num ímpeto eu prefira colar a boca à areia estéril
Num desejo de aniquilamento.
Mas não. Embora sabendo que nunca alcançarei a tua imagem
Que estará suspensa e me prometerá água
Embora sabendo que tu és a que foge
Eu me arrastarei para os teus braços.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Vida real

Apago a carta que te escrevi,
Tenho cada letra dela tatuada em minha a memória.

Até a inspiração já acabou

Falta

Falta Olhar no olho
Entender a frase
Sorrir com gosto
Do que achas graça

Falta gostar dos defeitos
E torna-los carinhos
Falta admirar, entender.
Falta respeito.

amor.
Faz Falta.

Vinicius de hoje


Mensagem à Poesia

Vinicius de Moraes


Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.

Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso
reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem... – que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso.

Mas não a traí. Em meu coração
Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonhá-la. A minha ausência.
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la
Num mundo em paz. Minha paixão de homem
Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez eu deva
Morrer sem vê-Ia mais, sem sentir mais
O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
Livre e nua nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
Forças da tragédia abastecem-se sobre mim, e me impelem para a treva
Mas que eu devo resistir, que é preciso...
Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
A quem foi dado se perder de amor pelo direito
De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha de vermelho; e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se...
Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
É mais forte do que eu, não posso ir
Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Livre

sou
Minha
juíza
olhar
repressor
algoz
Comigo?
Nao mais.

Sou
livre,
Eu,
corpo,
grito,
poesia,
vida.

Para viver um grande amor - Vinicius

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Duas vidas

morreste e
Te Descubro
em outra vida
Histórias
Fotografias
Poemas

Desconhecia
O filho gerado
risos que deste
As Cores na casa
A mulher que amavas

em outro mundo
peças de teu quebra-cabeças
Minha vida pelo avesso

Foste dois.
Que importa?
Já morreste.

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Assistam "as viúvas". Filme argentino engraçado e que nos faz, ao fim, pensar demais na nossa vida.
Encho a barriga de melancia
Para esvaziar o coração das mágoas

Tua boneca

Boneca de plástico,
Sorriso estático,
Face imóvel

Boneca de cera,
Coracão de lata,
Ferrugem nas veias.

Boneca inflável
Sangue frio
Hormônios a mil

Aluguel mensal
Per
Feita
pra ti


O haver - versão de 1962

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

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Contribuição de hoje ao centenário do poeta Vinicius de moraes

Volto ao mundo

Volta ao mundo
Pés no chão
conselhos
sol no rosto
textura
de passado
remoto
controle da vida

Volto ao mundo
Casa
Todos certos
Viajei
Tudo certo
Recomeço
Sem razão
Sem vontade
Cem desculpas

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Pedras

Caminhas sobre as pedras
que carreguei sozinha até aqui,
Palavra,
dedo em riste,
olho que espuma.
O caminho que pisas
É tudo o que trouxe comigo,
sou eu mesma.

Não pedi tua ajuda para carregar as pedras.
Pedi tua mão para aproveitar o luar sobre a estrada que construí.

Uma pena.
Trazias apenas daquelas pedras para atirar.
Não conseguimos junta-las as minhas e espichar o caminho.
E tuas mãos seguiram ocupadas para pegarem a minha.
E teus pés seguiram pisando forte em minha história.








O vizinho

O vizinho toca sax
Acompanho
Agitada.

O fim parece o começo:
Ilustres desconhecidos
A mesma viagem,
Recados,
triangulações,
Silêncios.

O fim parece o começo:
Te admiro,
Pequeno príncipe,
Gosto muito,
Quero muito sentir algo.

O vizinho toca sax
Há 24 horas
acompanha o pranto.

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

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Centenário do grande Vinicius de Moraes.
Lancei um desafio através do twitter para que cada dia publicássemos uma de suas poesias.
Essa é minha contribuição de hoje.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013



Te levo comigo

Te levo comigo,
Em silêncios maiores do que os habituais,
No perfume que deixei de usar,
no salto a inaugurar.

Te levo comigo,
Na sensação de que não basta fazer tudo.
Se há quem Prefira o nada.

Te levo comigo
Na coragem
saltei de paraquedas:
de minha vida para o chão,
Caí de cara.

te levo comigo na cicatriz.



Cerimônia do adeus

Da janela
Água
Montanha
Fogos de artifício.

No andar de baixo
Risos
Champagne
Vozes e bichos

Agora é passado.
Feliz ano novo.

Parti

Fiquei uma,
Fiquei duas,
Fiquei três.
Ouvi tudo,
Engoli o orgulho,
Concentrei no bom.

Achei que ficaria sempre.
queria.
Bastava que gostasses de mim.