Era uma negra miúda, com um sorriso fácil e atendia o telefone com a testa enrugada. Há dez anos, quando os gastos com o telefone eram absolutamente controlados para a juventude, ela os ajudava a burlar as regras para mobilizar para os congressos estudantis e eleições de DCE's. Jamais sobrava tempo para que também militasse na organização política. Fora o trabalho, terminava o técnico em enfermagem. Sempre falava com orgulho da família humilde da Zona Norte de Porto Alegre, adorava o carnaval e ria muito quando o então tesoureiro do Partido apresentava a conta com as inúmeras ligações.
Numa campanha de vereadora, quase sem recursos, a chamamos para coordenar a mobilização. Seu envolvimento político já era grande, sua brabeza conhecida, sua disciplina e organização reconhecidas por todos. Seria ótima para dar "pitos" na galera atrasada, pelo sono das noites insones com a campanha, com as angústias típicas do ínicio dos vinte anos. Foi exemplar. Ela, a campanha. E a amizade de seis pessoas que cuidavam de alguns pacotes de materiais e nada mais, no início. Começou a trabalhar em outro lugar e a crescer, crescer, crescer. Tudo bem, ela cresceu intelectualmente, individualmente, politicamente. De tamanho nunca. Segue uma linda negra miúda. Hoje coordena o escritório da moça que ela ajudou a eleger vereadora e, anos mais tarde, deputada. É dirigente do Partido que, de testa enrugada atendia o telefone. Segue braba, boa de pitos, mas tão controlada...
Amanhã, a linda negra miúda cola grau na faculdade. Se forma em publicidade. E a Gisele orgulha a todos nós. Por sua força, determinação, capacidade de trabalho, de aprender com os outros, de ensinar (com a sua maravilhosa lição de vida). A Gi é uma mulher, negra, lutadora. A Gi é uma brasileira. Parabéns!