segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Mãe

Há algum tempo a escrevi um email. Falava de minhas angústias, dúvidas e cansaços. Ela me respondeu com parte de sua história. Naquela resposta percebi que ela continuava sendo a pessoa que mais sabia de mim (mesmo quando não falamos sobre os fatos) e que sua vida é toda cheia das respostas que busco. Naquele email ela me reafirmava a possibilidade da gente se reinventar sempre. Quanto conforto.
Minha mãe tem lá seus defeitos. Alguns - como o exagero - chegam a ser engraçados. Mas ela é cheia de coisas admiráveis. Adoro o fato dela não ser sofrenilda. A vida reserva muitas coisas boas para todos. E outras tantas ruins. Minha mãe supervaloriza as boas e menospreza as ruins. Adoro isso. Assim como adoro a coragem com que ela solenemente ignora a Opinião dos outros sobre ela e seus amores. Amores podem ser lenços e lápis coloridos de olhos ou maridos. Adoro! Adoro a almôndega dela, na versão regime (com ricota) ou na versão tradicional (fritas com salsinha). Adoro quando ela pede o seu mamá (uma taça de vinho) ou quando ela aparece toda mulambenta indo caminhar. Adoro saber que ela tem um violão no gabinete de trabalho. Adoro saber que ela juntava todo o dinheiro para fazer festa de aniversario com gelatinas em copos plásticos para um de seus cinco filhos. Adoro rir com ela do dia em que chamei os enfermeiros para a interditarem num hospital (ela estava me irritando!). Adoro chorar lembrando quando, com poucos anos, a disse que nao ia morrer daquela vez (numa das pneumonias que tive). Adoro lembrar que íamos juntas passear no Guion e achavam que nós éramos um casal. E que juntas odiamos muitos filmes. Adoro o ódio que minha mãe tem de intelectualóides. Adoro quando ela toca piano ou violão. E adoro quando vejo a isa a chamando de vovó. Adoro saber que numa simples mensagem de texto ou email, minha mãe segue me dando o maior abraço do mundo. Como quando eu ainda era criança e a esperava chorando de suas aulas na faculdade. Como quando eu me perdi e ela subiu na pedra e gritou até toda cidade saber que uma criança estava perdida. E me encontrar. Aquele abraço, daquela tarde em que me perdi com cinco anos, minha mãe me dá sempre.
Feliz aniversário mamãe. Te amo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse é um ambiente familiar de uma linda mulher pública. Eu não deveria me intrometer por aqui. Muitos assim irão pensar.E talvez tenham razão. Mas há aqui uma declaração de amor, uma bela declaração pública de amor de uma filha por sua mãe.Minha boa mãe parkinsoniana gostaria de ter recebido algo assim no dia 5 de fevereiro,se a doença não lhe tivesse reduzido a fluência cognitiva presente há dois anos atrás.E também o teria merecido! A sua mãe certamente se comoverá.Acabo de ler uma descrição apaixonada de uma mãe por parte de sua filha.Fico pensando que há muitas maneiras de nos tornarem nos tornando o que somos. Sim, porque não surgimos prontos, pré-programados, deterministicamente,nem pré-destinados, metafisicamente.Somos todos, sem exceção, contingenciados pelo nosso estar no mundo em sociedade,a começar pela nossa família, célula-mãe da sociedade burguesa.Pode-se de um pai tirano, de um pai-patrão,machista e racista, produzirem-se filhos ao avesso, afetivizados e humanizados pela dor e pela revolta cultivada em ambiente familiar opressivo- nesse caso, a experiência da particularidade da tirania paterna transcende seu círculo estrito para reconhecer e repudiar as tiranias sob todas as outras formas.Porém os indeléveis estigmas da infância sempre permanecerão como espectros de dor,como lembranças que nos esforçamos por esquecer.Desse modo, sempre será melhor e sempre muito mais saudável, quando estes filhos,tornados adultos dignos de nossa admiração,forem seres humanos educados por pais exemplares,humanistas, referências de orgulho e de dignidade,aqueles que deixam impressos em nossos corpos abraços eternos, que ponderam conosco,também eternamente, cada decisão que tomamos em nossas vidas.É bom poder se orgulhar daquela que de nós se orgulha.É bom poder orgulhar aquela que a nós nos orgulha.E para nós, torcedores fanáticos do sucesso da menina Manuela,é bom poder saber, revelado de forma tão comovida nesse texto, que,por trás dos traços de caráter que em você admiramos, existe uma outra mulher igualmente grande, igualmente merecedora de nossa admiração. Para a sua bela mãe,um feliz aniversário e muitos anos de vida, são os nossos sinceros votos.

Anônimo disse...

que lindo Manu...nossa mãezinha querida...e eu adoro como de forma tão singela, tuas palavras sempre formam, no meu coração, uma bela 'borboleta colorida'...
te amo, saudades, mari

Anônimo disse...

Papi esta com saudades... beijinhos