O chão! O chão!!! O chão! Eram as únicas palavras que ouvia ao caminhar pelo longo corredor, cinza, iluminado por horríveis luzes brancas, daquelas que deveriam ser exclusividade hospitalar. Não entendia, assustado, se os gritos o orientavam a olhar para o
Chão ou se atirar sobre ele. Corria, sob o chão que o amedrontava.
Mas não era essa a lógica de sua vida? Há quase quatro décadas mantivera-se firme naquilo que o estabilizava: o casamento com a mesma mulher, a casa branca com janelas azuis, o trabalho no pequeno escritório de contabilidade, as férias programadas com meses de antecedência.
Procurou o copo com água que mantinha no criado-mudo, não o encontrou. Olhou para os lados. Não reconheceu as paredes, nem sequer ouviu a respiração da esposa. O velho relógio de pulso a prova d'água marcava dez horas. Da manhã? Ergueu a cabeça e respirou tanto ar quanto podia. Lembrou que não havia mais mulher, casa, trabalho, férias, chão. Agora, com 70 anos, havia decidido caminhar sob nuvens e ser feliz.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
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3 comentários:
Beijinhos do Papi
(suspiro) Se tiver que ser assim, que seja!
Seus "texticulos" estão cada vez melhor! Que ins piração, menina!
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