Lei da palmada? Claro que não. A lei deveria ser chamada lei da surra, lei dos que arrastam crianças pelo cabelo, lei dos que humilham, lei com o nome de qualquer criança morta pelo pai que -num dia mais estressado- apertou o pescoço mais forte e matou a filha.
Sem simplificações, gente.
Vocês conseguem imaginar que a lei Maria da Penha (lei que proíbe violência contra a mulher) foi feita por que alguns maridos dão carinhosas palmadas em suas esposas enquanto mantém relações sexuais? Evidente que não. Soaria patético. Pois estão simplificando a lei aprovada ontem pela câmara dessa maneira.
Vamos imaginar duas situações: Te imagina no ambiente de trabalho e um chefe te olha e te chama de idiota, incopetente. Chamaríamos isso de assédio moral, certo? Certo. Sem agressão física, nós protegemos os adultos, pessoas com completo desenvolvimento físico e psicológico. Então porque existe uma lei para proteger um cidadão que tem condições de se levantar e pedir demissão? Pois ele está em uma situação frágil, depende do trabalho.
Outra situação: sempre foi crime bater em alguém. Sim. E porque temos uma lei específica para violência contra a mulher? Para obrigar as delegacias a aceitarem denúncias, para pararem de tratar como algo do "comportamento familiar". Qual a resposta da sociedade: estão se metendo no casamento, estão se metendo na Família ou "com tanta coisa para fazer e os políticos se preocupando com isso". Passaram os anos e violência contra a mulher saiu das sombras. Isso com mulheres adultas e com capacidade de se levantarem e saírem, certo. Relativamente certo. Mas porque a lei? Pela fragilidade e envolvimento emocional delas com os agressores.
Como ser contra uma lei que protege os seres mais frágeis (crianças) da violência daqueles que elas mais amam (seus familiares)? Ainda escuto: estava estressado ou estava bêbado. Nunca vi bêbado bater em polícia (só em mulher e filho). Nunca Vi estressado bater em chefe.
Palmada? Não. A câmara votou a criminalizaçao do relho, do ferro quente, do arrastar pelo cabelo na loja.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
O título de seu texto parece sugestivo. Porém, não creio que as pessoas estejam "simplificando" a lei. O que se pretende é analisar é o verdadeiro papel do Estado nessas nas relações familiares. Ora, qual é mesmo a finalidade dessa lei? Punir "o ferro quente e o arrastar pelo cabelo na loja" ou simplesmente punir os pais que, não pretendendo molestar seus filhos, não vê outro meio senão impor a sua autoridade com uma medida extrema que é a “palmada”? Não sei se fico com a primeira alternativa! Penso que o grande problema desses discursos bonitinhos que tendem, extremamente à "valorização da paz” e integridade das pessoas, se revelam um tanto quanto invasivos e ineficazes. Afastando um pouco esse mérito, devo, em suma, dizer que esta nova medida é, sim, interpretada de modo muito distinto pelos pais. Com ela, eles se enxergam como pessoas sem qualquer autonomia, e, por isso, deixam se abater pela postura agressiva e, agora, amparada, de seus filhos, fato que os levam a negligenciar totalmente o dever de educar como é necessário.
Depois disso, ainda surge uma série de questões. Tudo bem, você, como deputada, argumenta que a lei é importante pelos motivos (embora vagos) apresentados em seu texto. Porém, como se dará a efetiva aplicação? Como serão observados os comportamentos daqueles pais que, muitas vezes sendo ameaçados, desrespeitados e até mesmo agredidos pelos próprios filhos, não veem outra solução, senão impor sua soberania no lar e tentar manter a ordem de maneira mais extrema?
Desde tempos muito remotos, ouço testemunhos de adultos que, quando criança “receberam palmada/chicotada” de seus pais (o que é muito diferente de serem ESPANCADOS por eles), e hoje lhes agradecem por isso! Na realidade, em minha casa é possível extrair esse próprio exemplo. Infelizmente, não é todo filho que compreende o amor de seus pais com uma simples conversa, deputada. Infelizmente, não é todo pai que consegue educa-los somente com palavras.
Enquanto isso, a gente vai se preocupando em disciplinar o espaço familiar (o que sempre foi muito bem cumprido pelos pais), invertendo os valores, nos esquecendo de elaborar medidas que afastam o discurso bonitinho e que sejam realmente eficazes na vida e educação do povo brasileiro. Vamos só adiando as votações, vamos só engavetando os projetos, vamos apenas lançando palavras sem nenhuma força transformadora.
E transformando nossos filhos em pessoas sem limites, que, não raro, não serão outra coisa no futuro, do que pessoas marginalizadas, descartados pelo próprio Estado que um dia prometeu lhe proteger!
Belas considerações. Inteligentes. E com um delicioso toque de mordacidade.
Quem nunca levou umas boas palmadas quando criança ?? Sempre tentam distorcer a realidade não é mesmo deputada ?? Mas meu questionamento é: porque ?? Qual a intenção .... Estamos falando de pessoas das quais não sei se incluímos na categoria de criminosos ou doentes mentais. Parece que a verdadeira intenção é mudar o foco sempre ... Mas porque ??
Parabéns pelo discernimento ! quisera suas palavras ecoem para ouvidos que insistem em chamar a séria Lei 7672, QUE PROTEGE , E TORNA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE em seres de direito , em Lei da Palmada !
abs
Olá, Manuela...
Li teu texto e achei muito inteligente, como não poderia esperar menos de ti. Mas ainda me parece que teu posicionamento sobre a questão apresentada pela mídia um pouco confuso. Sem dúvida, ninguém poderia ser contra uma lei que defendesse o fim da agressão da forma que colocas. Na verdade não precisaria nem haver tal lei, haja visto que as agressões de qualquer natureza são passíveis de punição por toda legislação que já existia. Mas o que os pedagogos e psiclógogos nos apresentam é uma situação onde uma pequena palmada no bumbum é errado. Penso que se a criança entender que as consequencias de seus atos podem ser negativas, se tornarão adultos ponderados e responsáveis diante de suas atitudes. Isso é a PALMADA, que difere e muito do espancamento físico e humilhação moral. Grande abraço!
Postar um comentário