Não sou fã da Xuxa. Não flerto com o sensacionalismo da mídia. Mas fiquei surpreendida com as reações de diversos setores da sociedade à entrevista concedida por ela no Fantástico. Detalhes da vida privada a parte, Xuxa revelou que foi vítima de abuso sexual quando adolescente. E para mim doeu ouvir "até hoje acho que a culpada sou eu".
Alguns duvidaram, disseram que era "golpe de marketing", outros que ela precisava denunciar abusadores e não falar sobre o tema, outros disseram que ela transbordava falsidade no depoimento. Uniu a muitos, entretanto, o sentimento forte de responsabilização da vítima, de julgamento da vítima.
Três ponderações: 1) estive com Xuxa uma única vez, Na ocasião em que eu presidia a Comissão de direitos humanos da Câmara. Lá em Brasília ela emprestava sua visibilidade para a campanha "não bata, eduque". Uma loucura o impacto de seu trabalho nessa área. se mil vezes a tivesse ao lado na luta contra violência, mil vezes agradeceria por dar visibilidade para pauta que a grande mídia desconhece.
Achei irônico que ela aparece o dia todo na TV e não causa reação nenhuma. Na vez que toca em tema tão importante é hostilizada. Hein?
2) para quem atua na área de Direitos humanos a confissão de sentimento de culpa pela violência sofrida é quase um atestado de veracidade. Por que? Porque a sociedade faz com que crianças e mulheres sintam-se responsáveis pelo abuso sofrido. Sedutora, assanhada, jeitinho de p_ _ _, assim dizem. E infelizmente, a repercurssão debochada, irônica de muitos confirmou a tese. Independente da reação da vítima, se teve medo e calou, se gritou, se ... Vítima é vítima!!!
3) falar sobre isso é duro. Não sei as razões de Xuxa. Coragem? Vontade de ajudar a outros? Cansada de esconder a vida? Sei lá. Nem sei assimilar o que a vida dessa mulher. Sei que é muito bom para quem luta contra a exploração de mulheres que ela fale, que a sociedade debata, que se tire da escuridão crianças violentadas dentro de casa. a maior parte dos abusos são idênticos ao dela: dentro de casa, gente conhecida, anos de dor e silêncio, vítima sentindo-se culpada.
Vamos deixar os dogmas/ preconceitos de lado? Xuxa usou o horário mais nobre da Globo para dar luz ao drama de algumas milhares de crianças e mulheres. Eu agradeço.
Deixem a Xuxa falar. Deixem as "xuxas" falar sem serem culpadas por isso.
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O disque 100 recebeu 220 mil ligações depois do depoimento de Xuxa. Ou seja, fez efeito.
terça-feira, 22 de maio de 2012
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14 comentários:
Legal Manu. Ponderada e justa, como sempre, tua opinião. Luz e sorte. BjZ. T
Respeito. É o que falta neste e em muitos casos "tratados" pela mídia e isso acho eu se deve a necessidade de exposição e seus motivos as vezes nobres mas muitas outras vezes com o passar do tempo revela-se não tão nobre assim. Neste caso tambem estou desconfiado, se o uso for este, correto e nobre é daqui pra frente é que veremos .
Certo. Respeito Xuxa e acho, sim, o depoimento corajoso. Mas, e o filme erótico no qual ela contracena com uma criança de 12 anos? Aquilo não foi abuso? Quando ela falar sobre isso, voltamos a conversar.
Quanto ao depoimento, acho lamentável que a reportagem principal da ainda mais importante revista eletrônica semanal do país seja esse depoimento sensacionalista. Lembrando que sensacionalista, aqui, refere-se não ao relato em si, mas à maneira como esse relato foi veiculado. Aquela luz, aquela música, aquelas pausas, as chamadas durante todo o programa, tudo conspirava para um drama cuidadosamente desenhado. Não gosto da Xuxa. Mas tenho pena mesmo é do povo brasileiro. Não por causa do depoimento dela, mas por causa do Fantástico.
Muito lúcida a sua avaliaçao. Pena que a Globo explore a infelicidade da XUxa de uma forma sensacionalista.
Ótimo,post! Ainda O Caminho é comprido..envolve muitas coisas, incluído essa cultura (errada) brasileira da imagem da mulher nos mídia (novelas,publicidade, cartaz nas ruas...). Um grande abraço!
Eu não gosto da Xuxa, nem me interessa os motivos que a levaram a se expor,
Mas acho um absurdo as críticas que recebeu e a ironia, quando na realidade ela denunciou um CRIME de que foi VITIMA. Devemos tratar a todos com a mesma justiça, e o que lhe aconteceu, é muito mais comum que se imagina. Ninguem pode julgar a dor do outro.
Manu, concordo plenamento com você!
Será que um dia vou (ou vamos) entender o por que existe esse "preconceito" de que é fácil pra alguém que é abusa por uma pessoa de confiança, poder falar abertamento o que está acontecendo?
Já escutei diversos comentários sobre abusos dentro de casa, do tipo: "e pq não não falou? É pq tava gostando então"
A minha mae uma vez questionou o pq uma menina abusa não havia denunciado um tio (ou pai), ou contado para a mãe.
Eu falei: mãe, imagina eu falar pra sra que o SEU marido me abusa? COMO a sra vai receber a notícia?
Depois disso ela começou a ver o assunto com outros olhos... mas um mundo inteiro ainda pensa dessa forma. É uma tristeza.
excelente texto, parabéns!
"Certo. Respeito Xuxa e acho, sim, o depoimento corajoso. Mas, e o filme erótico no qual ela contracena com uma criança de 12 anos? Aquilo não foi abuso? Quando ela falar sobre isso, voltamos a conversar."
Certo, vamos por partes.
No filme, ela tinha 16 anos e o garoto que contracenava tinha 12 anos. Ambos eram menores de idade, logo, se há uma suspeita de abuso, de qualquer forma de violência, essa violência foi feita pelos administradores do filme, pelos contratantes, etc e etc.
Outra - Aquilo era um filme. Uma obra de ficção. Responsabilizar a Xuxa por abuso sexual num filme de ficção é responsabilizar o Silvester Stallone pelas "mortes" causadas em Rambo. No mínimo, ridículo.
Fiquei sem palavras.
Olha, ela fpi vitima. Isto conta
Acho q teve.sensacionalismo.
A luta.contra abusos contonua com Xuxa ou sem Xuxa,
Adeli Sell
Vereador em Porto Alegre
Ótimo texto sobre a Xuxa (melhor que li até agora). Como mineiro de Itabira (terra de Drummond) me sinto orgulhoso do nome do blog, agradecido.
Admiro muito seu trabalho, dá vontade de votar no RS.
Também tenho um blog:marilsonottoni.com.br
abraços e muita força.
Teu amiguinho e cabo eleitoral Juremir escreveu o oposto disto no blog dele!
Só sei que o nome da lei que altera as regras sobre a prescrição do crime de pedofilia é Joanna Maranhão e não Xuxa Meneghel.
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