Despertei pelas quatro da manhã, como de costume nas terças-feiras em que vou para Brasília. Cansada, certamente, comprei meu café com leite e os jornais na lojinha ao lado do portão de embarque de número 6. Embarquei. Me recordo que havia sentado na janela. Lembro bem porque ali me sinto presa. Ainda não havia tomado posse mas tinha que entregar documentos, coisas na cidade. Na capa do jornal uma gigantesca foto de um acidente de carro. Abaixo havia uma pergunta: até quando nossos jovens morrerão assim? Algo do gênero. Imaginei ser uma pesquisa. Busquei a informação sobre a página da matéria e, lentamente, percorri a Zero Hora.
Braços abertos, sorriso feliz (tantas vezes debochado). Será que foi o Gabriel quem fez esse trabalho? Que prêmio o pequeno grande gênio ganhou dessa vez?
Eu conheci esse menino quando ele era estudante secundarista. Lembro bem... na velha sede do PCdoB da José do Patrocínio. Um sorriso enorme, tinha quinze, dezesseis anos... Militou um pouco mas sabíamos (nós, ele, todos) que ele não ficaria ali. Fez vestibular na Fabico. Lembro que conversamos um pouco sobre o jornalismo, meu curso superior. Gabriel apereceu com uma máquina fotográfica. Deus! Eu também havia carregado uma, por tanto tempo, em tantos lugares!!! Um dia a máquina ficou pesada. E eu percebi que minha paixão não era mais fotografar o Congresso da UNE, mas ajudar ele a existir.
Nos perdemos na vida, essa louca máquina de encontros e desencontros. Por vezes nos encontrávamos e eu podia sentir que a vida brotava pelos poros dele. Ele tinha virado um comunicador (não apenas um jornalista). Ele era rápido. E apaixonado. Não havia se contentado com a máquina fotográfica. Invadiu a internet.
O Blog que criou com os amigos, o Insanus, invadia a vida de muitos. Depois que me elegi vereadora também virei alvo deles. Com excelente senso de humor o blog cresceu, cresceu, cresceu... Ih! Quantas vezes me irritei com os posts machistas a meu respeito... Mas isso faz parte. Um pouco de política, bastante deboche, algumas denúncias, boas fontes... Alguns amigos montaram um blog quase contra todos. Mas, sinceramente, acredito que para o bem das pessoas. Certamente, os guris do Insanus sabem melhor do que eu, aquilo era o amor da vida do Gabriel.
A ficha não me caía. O avião já voava e eu não teria como seguir o meu coração, ficando em Porto Alegre e indo me despedir dele. Não era justo. Não com quem tinha um sorriso tão forte, expressão maior da alma boa de Gabriel. O acidente da capa da ZH o havia tirado desse mundo.
Já passaram dois anos. Tenho certeza que o Gabriel continua rindo, olhando por muitos e criando... Porque ele estava na Terra para criar. E criou muito. Em tão pouco tempo.
Que seja um dia de força e paz para seus pais e amigos mais próximos.
5 comentários:
Manu,
taí mais uma daquelas ligações que a gente descobre. Há dois anos fiz a compilação a respeito de tudo o que se escreveu, nos blogs de sua legião de amigos, para que nada se perdesse. Daí surgiu a idéia de um livro quando fez um ano, em 07. E agora, olho teu blog e vejo a mesma foto que usei em um texto, bem mais formal, até porque escrevi algo alentado a respeito há um ano. E nem imaginava essa tua ligação com ele. A vida prega peças (além de passar num átimo).
Bjo.
Querido,
eu peguei tua foto. Li e me emocionei. Decidi escrever. Desculpas, não citei.
Ah!Sobre o email sério, estou resolvendo.
Sobre o livro.. Estarei lá!
Legal, Manu. O Luiz Cláudio vai adorar. Além disso, o livro é ótimo (como já deves ter constatado). E seu autor é um dos grandes jornalistas com quem convivi. Ele é conceituadíssomo pelas reportagens feitas em todas as redações onde trabalhou.
Que bom saber que vocês vão se encontrar.
Bjo e bom findi.
Ah, grato pela informação...
Saudade do Gabriel!
Putz, saudade do pouco convívio com o Gabriel... Tenho comigo uma foto que fiz dele de uma manifestação na frente do mercado, com sua câmera na mão... garotão...
Linda homenagem neste post Manu.
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